Com ônibus, mudança de trajeto e Uber, passageiros driblam greve em SP
Baldeações sem fim, demora e cancelamentos de carros de aplicativo marcaram manhã dos paulistanos, que se viraram com as opções disponíveis
atualizado
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São Paulo – Passageiros do Metrô de São Paulo e dos trens da CPTM driblaram a greve unificada das duas empresas na manhã desta terça-feira (3/1) com o que tinham de disponível: ônibus municipais e intermunicipais, adaptação do trajeto a partir das linhas que estão operando e carros de aplicativo.
Quatro linhas do Metrô e três da CPTM foram fechadas pelos grevistas. Apenas duas da CPTM estão operando parcialmente (7-Rubi e 11-Coral). As linhas de metrô e trem concedidas à iniciativa privada funcionam normalmente.
Para não perder o dia, muita gente precisou adaptar seu trajeto com o que havia à mão. O pedreiro Elias da Silva, de 48 anos, por exemplo, mora em Guaianases, na zona leste, e trabalha em uma obra próxima à estação Conceição, zona sul.
Para chegar ao trabalho, Elias costuma pegar a Linha 11-Coral até a Luz, fazer a baldeação para a Linha 1-Azul e ir até a estação Conceição. Com a greve, chegou a estação da Luz e fez a baldeação para a Linha 4-Amarela. A ideia era ir até a Estação Pinheiros, fazer a baldeação para a Esmeralda, ir até Santo Amaro, fazer a baldeação para a 5-Lilás, ir até Santa Cruz e fazer a baldeação para a Azul.
Ele disse que preferiu fazer esse trajeto porque tem medo de pegar ônibus e se perder. “Vou demorar mais ou menos uma hora a mais. Mas achei melhor fazer assim, mais garantido. Ônibus a gente nunca sabe, né. Eu mesmo já me perdi uma vez. De Metrô é certeza que eu vou chegar. Tenho que estar lá 14h.”
Esquema especial de ônibus
Os passageiros também recorreram aos ônibus municipais e intermunicipais, que estão circulando normalmente. A EMTU e a SPTrans organizaram um esquema especial para manter a frota total durante todo o dia a fim de minimizar os transtornos à população.
Na capital, a SPTrans ampliou os itinerários de mais de 20 linhas municipais para que os passageiros consigam chegar mais perto de locais com maior concentração de comércio e serviços.
Em muitos locais, passageiros contaram com a ajuda providencial de fiscais da SPTrans. Na manhã de caos, eles salvaram o dia de muita gente dando orientações, organizando o fluxo de pessoas e o tráfego de ônibus nos pontos mais movimentados da cidade.
Demora para conseguir Uber
Muita gente preferiu recorrer aos carros de aplicativo. Em frente à Estação da Luz, no centro da capital, passageiros se aglomeravam enquanto tentavam pedir corridas por aplicativo para chegar a seus postos de trabalho.
Entre as linhas que passam pela estação, apenas a 4-Amarela, do Metrô, funciona normalmente. As linhas 7-Rubi e 11-Coral, da CPTM, operam de forma parcial. A linha 1-Azul não está funcionando.
Na Avenida Cásper Líbero, em uma das saídas da estação, dezenas de pessoas aguardavam, com celulares na mão, a chegada dos motoristas de aplicativo. Eles relataram tempos de espera e preços mais altos que o comum.
O analista logístico Rafael Mathias, de 26 anos, pediu uma corrida no aplicativo Uber até a Mooca. Após 30 minutos de espera, o motorista ainda não tinha chegado.
“Saí de casa, na Freguesia do Ó, 6h20. Vou chegar no trabalho umas 8h50. Meu horário é 7h30. O patrão entendeu. Já estou há um certo tempo lá, então está de boa”, disse Rafael.
Segundo o analista, a corrida custou R$ 45 e ele ainda não sabe se a empresa vai cobrir o valor.
Cancelamentos
A técnica de enfermagem Ana Claudia Alonso, de 53 anos, conseguiu um motorista da Uber por volta das 8h10, após cerca de 20 minutos de espera. O problema, disse ela, é que seu horário de chegada no trabalho é 8h.
“Tenho que chegar 8h, não vai dar. A previsão de tempo de espera do aplicativo vai sempre mudando. Estava em 10, vai para 15, volta para 7. E enquanto isso eu aqui esperando, além dos cancelamentos. Foram vários”, disse Ana Cláudia.
A mulher, que saiu de Itaquera, na zona leste, foi de trem até a Estação da Luz. Ela disse que o Hospital Oswaldo Cruz, na Vergueiro, onde ela trabalha, vai cobrir o custo da viagem de aplicativo de carona que, segundo ela, custou R$ 50.
A publicitária Luciana Amaro, de 34 anos, fez o inverso. Ela mora em Santo André e pegou uma corrida de aplicativo de R$ 70 para chegar até a Estação da Luz.
Normalmente, Luciana usaria a Linha 2-Verde e 1-Azul para chegar à Luz e fazer a baldeação para a Linha 4-Amarela. De lá, iria até estação Pinheiros para fazer mais uma baldeação, a Linha 9-Esmeralda, da CPTM, e chegar à Vila Olímpia, onde trabalha.
“Pelo menos é a empresa que está pagando. Se não fosse isso não tinha nem como ir. Era para eu chegar 8h. Já são 8h30.”
A greve também lotou os pontos de ônibus da cidade. Muita gente desistiu de ir trabalhar porque não consegui embarcar nos coletivos.
A paralisação desta terça-feira foi marcada em protesto contra o plano de concessões e privatizações do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e tem adesão de funcionários da Sabesp, a companhia estadual de abastecimento de água e coleta de esgoto.
De acordo com o governo do estado, o Metrô e a CPTM estão funcionando da seguinte forma:
Metrô
• Linha 1- Azul: fechada
• Linha 2- Verde: fechada
• Linha 3-Vermelha: fechada
• Linha 15- Prata: fechada
CPTM – em operação parcial desde às 5h
• Linha 7- Rubi: de Caieiras a Luz
• Linha 10- Turquesa: fechada
• Linha 11-Coral: de Guaianases a Luz
• Linha 12- Safira: fechada
• Linha 13- Jade: fechada
Segundo o governo, as seguintes integrações estão abertas nesta manhã: Linha 7-Rubi na Estação Barra Funda com a Linha 8-Diamante; Linha 11-Coral e 7-Rubi na Estação Luz com a Linha 4-Amarela. As transferências com a Linha 3-Vermelha, na Barra Funda, e com a Linha 1-Azul, na Luz, continuam fechadas.
As linhas de transporte metropolitano já concedidas à iniciativa privada, 4-Amarela e 5-Lilás, de metrô, e 8-Diamante e 9-Esmeralda, de trem, estão operando normalmente. Ainda assim, a expectativa é que a paralisação provoque caos no trânsito da cidade.
A pedido do Metrô, a Justiça do Trabalho havia determinado o funcionamento de 100% dos serviços no horário de pico — das 6h às 9h e das 16h às 19h — e de 80% nos demais horários, sob pena de aplicação de multa no valor de R$ 500 mil.
Juntos, Metrô e CPTM transportam, todos os dias, cerca de 4,2 milhões de passageiros, considerando apenas as linhas administradas pelas duas estatais e que devem ter a operação afetada pela greve.