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Em crise com bolsonarismo, Nunes prega voto útil contra Boulos em 2024

Ricardo Nunes busca aglutinar votos de eleitores que temem eleição de Guilherme Boulos em meio a desembarque de aliados de bolsonaristas

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Imagem colorida mostra Ricardo Nunes, do peito para cima, de terno, olhando para frente. Ele é um homem branco de cabelo e barba pretos - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra Ricardo Nunes, do peito para cima, de terno, olhando para frente. Ele é um homem branco de cabelo e barba pretos - Metrópoles - Foto: Governo do Estado de São Paulo

São Paulo — Em segundo lugar na última pesquisa Datafolha sobre as intenções de voto para as eleições do ano que vem, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), passou a adotar a estratégia do voto útil contra o deputado federal Guilherme Boulos (PSol), seu pré-adversário na disputa, diante do possível desembarque de Jair Bolsonaro (PL) do seu rol de apoiadores.

Nesta semana, o prefeito classificou Boulos como “de extrema esquerda”, afirmou que a cidade ficaria “uma bagunça” sob seu governo e disse que aqueles que desejam evitar a vitória do deputado, que é coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), devem se unir.

O posicionamento ocorreu em meio a uma semana repleta de sinais de que a “paquera” que vinha sendo construída com Bolsonaro não vai virar namoro. Ao tentar aglutinar os votos dos opositores do psolista, o prefeito deixa claro que não quer abrir mão do apoio do ex-presidente, mas o desafio é fazer Bolsonaro embarcar em um relacionamento poligâmico, em que seu grupo não é mais protagonista.

Desde o começo do ano, Nunes tenta evitar que as eleições de 2024 tenha um candidato bolsonarista na disputa. Nesse período, já se reuniu três vezes com o ex-presidente, pleiteando uma declaração de apoio a seu nome. Em um desses encontros, em julho, disse que o apoio seria “ótimo”.

Sinas de desgaste

A aproximação, porém, azedou na última semana. Aliados de Bolsonaro esperavam de Nunes que esse apoio se desse em uma relação de duas vias, com a abertura da Prefeitura para a nomeação de indicados pelo ex-presidente para cargos na gestão, o que não ocorreu.

Além disso, o movimento de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, de buscar um candidato não bolsonarista para indicar ao posto de vice para Nunes, ampliou o distanciamento. Valdemar sugeriu Marta Suplicy, secretária de Nunes, que já foi do PT.

Diante do cenário, os bolsonaristas começaram, esta semana, a enviar recados sobre os riscos de uma ruptura na relação.

A declaração do prefeito feita na terça-feira (5/9), durante uma palestra para estudantes da Faap, de que ele não era próximo nem de Bolsonaro nem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi tida como a gota d’água.

O ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, um dos principais articuladores da aliança, disse que “ninguém se apropriará de votos bolsonaristas e deixará Bolsonaro distante. A era dos gafanhotos acabou”, em um recado a Nunes.

Publicamente, contudo, Nunes minimiza especulações sobre o desgaste na relação. Na quinta-feira (7/9), durante as celebrações do Dia da Independência no Anhembi, o prefeito afirmou que ainda não tem proximidade com Bolsonaro, “mas esperar criar” e contar com o apoio dele nas eleições.

Motivos para se afastar

A hesitação de Nunes em assumir uma aproximação clara com Bolsonaro se deve a uma avaliação de seus aliados mais próximos. O grupo se baseia em uma pesquisa interna, feita no começo do ano, que revelou que a proximidade com o ex-presidente pode fazer o prefeito perder mais votos do que ganhar.

O secretariado de Nunes tem resistência ideológica às bandeiras políticas defendidas pelo ex-presidente e temem que o prefeito tenha que defendê-las, mas toleram uma declaração de voto de Bolsonaro ao prefeito.

A possível prisão do ex-presidente nas múltiplas investigações em andamento contra ele também motiva aliados do prefeito a aconselhar o distanciamento de Bolsonaro. O primeiro Datafolha sobre as eleições municipais de 2024 indicou rejeição de 68% do eleitorado a um candidato apoiado pelo ex-presidente.

Questionado sobre a rejeição a Bolsonaro, Nunes minimizou: “O prefeito serei eu, independente de qualquer apoio. Se eu ganhar, não vai ser outro que vai governar. Não será Bolsonaro, Tarcísio ou Lula. Eu é que vou governar”.

Voto útil

Com a possibilidade de Bolsonaro apoiar outro nome, Nunes passou a conclamar que eleitores de “centro, de centro-direita e de direita” se unam  contra Boulos. Na quarta-feira (6/9), ele se referiu ao deputado federal como sendo de “extrema esquerda”.

Sua estratégia é associar Boulos ao radicalismo, diante da sua ligação com o movimento de moradia que promove invasões de terrenos desocupados.

O tom contra Boulos já havia subido na terça-feira (4/9), quando o prefeito acusou o rival de mentir para moradores da zona leste durante uma visita à região.

A estratégia de se posicionar como nome de centro e enfatizar que Boulos está no campo da extrema esquerda já havia sido usada no segundo turno das eleições de 2020, na campanha de Bruno Covas (PSDB), morto em 2021, que tinha Nunes como vice. A tática deu certo na ocasião.

Nunes articula, ainda, que seu partido, que tem três ministérios no governo federal, peça a Lula que se mantenha distante das próximas eleições, para conter o crescimento de Boulos.

Boulos conta com o apoio de Lula desde o ano passado, mesmo com resistência de nomes do PT paulistano a seu nome.

 

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