Eleito em Santo André, Gilvan diz que mulheres ocuparão 50% do governo
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, prefeito eleito diz que Santo André terá paridade de gênero no primeiro escalão do secretariado
atualizado
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São Paulo – Eleito prefeito de Santo André, na região metropolitana de São Paulo, em primeiro turno, com 60,98% dos votos válidos, Gilvan (PSDB) se prepara para assumir o comando da quinta maior cidade paulista com um objetivo em mente: ter metade dos cargos do alto escalão do governo ocupados por mulheres.
“É uma meta que a gente tem. No primeiro escalão, entre secretários e secretários adjuntos, ter 50% [de mulheres], paridade de gênero”, afirmou o futuro prefeito, em entrevista exclusiva ao Metrópoles.
Durante a campanha, Gilvan chegou a dizer que “buscaria a paridade”, mas evitou se comprometer com a distribuição igualitária de cargos em um eventual governo, promessa que era defendida pela adversária Bete Siraque (PT).
Ex-secretário do atual prefeito da cidade, o também tucano Paulo Serra, Gilvan teve o mandatário da cidade como seu principal cabo eleitoral na disputa e se abraçou na aprovação alta do aliado para costurar uma campanha que pregava a “continuidade” dos trabalhos dele em Santo André – o que rendeu críticas dos rivais no pleito.
Na entrevista ao Metrópoles, Gilvan falou sobre suas prioridades para o mandato, como o combate à violência na cidade; prometeu criar uma “super secretaria” para lidar com as mudanças climáticas; e contou qual marca quer deixar ao fim de sua gestão.
“A gente vai trabalhar muito a tecnologia, a inovação, para transformar Santo André em cada vez uma cidade mais digital. E sempre com foco nas pessoas, olhando o social, as comunidades e aquelas pessoas que mais precisam do serviço público”, afirmou.
Único tucano eleito na região metropolitana de São Paulo, Gilvan também comentou sobre o desempenho do PSDB nestas eleições — a sigla terminou o primeiro turno deste ano com 149 prefeituras a menos no estado do que em 2020 — e disse que os novos quadros do partido são importantes para a construção de um PSDB do futuro.
“O PSDB acabou se perdendo nesse caminho que [agora] a gente precisa reencontrar”, disse o político, que atribuiu o desempenho ruim do partido nas outras cidades paulistas à saída da sigla do Palácio dos Bandeirantes, hoje comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Confira abaixo os principais pontos da entrevista:
Composição de governo
Eleito com uma coligação que reuniu nove partidos, a maior da corrida eleitoral em Santo André, Gilvan nega que tenha negociado cargos durante a disputa e promete anunciar um time “técnico-político” para assumir as secretarias de seu governo.
“Não tivemos nenhum acordo ou compromisso de dar secretarias, cargos, de fazer distribuição para os partidos. A escolha será muito focada no resultado das políticas públicas e no perfil do secretário para aquela pasta”.
O tucano promete anunciar o novo secretariado até dezembro e afirma que fará uma “minirreforma administrativa” com ajustes em algumas pastas.
Uma das principais mudanças será o anúncio de mais mulheres para compor o governo. “É uma meta que a gente tem. No primeiro escalão, entre secretários e secretários adjuntos, ter 50% [de mulheres], paridade de gênero”, afirmou Gilvan.
Na campanha pela prefeitura, a petista Bete Siraque (PT), adversária do tucano, já tinha defendido que pelo menos metade do governo fosse liderado por mulheres, mas Gilvan evitou se comprometer com o tema e disse apenas que “buscaria a paridade”.
Atualmente, apenas sete mulheres ocupam o alto escalão da Prefeitura de Santo André, menos da metade do número de homens na mesma posição – a administração do prefeito Paulo Serra (PSDB) tem 14 secretários e um superintendente homem.
Mudanças Climáticas
Outra mudança prevista por Gilvan para o próximo governo será a ampliação da pasta de Meio Ambiente, que agora levará o nome de Secretaria de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, e terá seu orçamento turbinado, segundo o prefeito eleito, para que possa pensar políticas públicas voltadas ao tema.
“É uma secretaria que vai operar todas as políticas de mudanças climáticas no município. Tanto discutir e executar o plano de governo, quanto tocar esse dia-a-dia da cidade. Tudo que a gente vai fazer hoje, como construir uma escola, por exemplo, já tem que pensar nessa adaptação para as mudanças climáticas”, afirma o tucano.
A pasta também será responsável por ajudar na construção do Plano Diretor da cidade, que será discutido na Câmara de Vereadores em breve. “No Plano Diretor, a gente também vai fazer essa discussão para que as obras privadas se adaptem às mudanças dos eventos climáticos”.
Enchentes
Questionado sobre como pretende lidar com o problema histórico das enchentes da cidade nas épocas de chuva, o tucano listou investimentos da gestão Paulo Serra e disse que o município melhorou sua resposta ao problema.
“Com as mudanças climáticas, as chuvas estão vindo cada vez mais e a gente tem menos previsibilidade, mas Santo André tem atuado muito”, afirma o prefeito, citando projetos como a implantação de fluviômetros e bocas inteligentes nos bueiros da cidade.
Gilvan disse que, nas próximas semanas, acompanhará os trabalhos do Programa de Operação de Chuvas de Verão, e que preparado para enfrentar as chuvas no início do mandato. “Na última chuva, em uma hora, já tinha 300 pessoas na rua trabalhando. Então, a gente tem se preparado para que a gente consiga mitigar o máximo possível”, completou.
Prioridades do governo
A criação de um novo Poupatempo da Saúde no 2º subdistrito de Santo André e o fortalecimento de medidas de combate à violência são duas das principais metas do prefeito eleito de Santo André para o próximo governo.
“A região metropolitana hoje tem uma sensação de insegurança grande. Então, a gente vai focar esforços em ampliar a nossa guarda municipal e o nosso COI, que é o Centro de Operações Integradas”, afirma o político.
Entre janeiro e agosto deste ano, a cidade registrou mais 6 mil casos de furtos, o equivalente a um episódio a cada hora. No mesmo período, foram registrados pela Polícia Civil mais de quatro mil casos de roubos no município. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
O prefeito eleito também promete manter as parcerias com o governo estadual e diz que vai dobrar a quantidade de policiais militares contratados para atuar na Operação Delegada, programa que remunera agentes para que eles reforcem o efetivo nos dias de folga.
Para além dos investimentos em saúde e segurança, Gilvan diz que quer deixar como marca de seu mandato o olhar para a inovação. “A gente vai trabalhar muito a tecnologia, a inovação, para transformar Santo André em cada vez uma cidade mais digital”, afirma.
O político cita a inauguração do novo Centro de Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo (CITE) do Parque Tecnológico de Santo André, prevista para o próximo ano, como um dos exemplos de política pública que quer implementar. Outra área de atenção, diz o prefeito eleito, será a proteção social das pessoas mais vulneráveis.
PSDB
Herdeiro político de Paulo Serra na cidade, Gilvan representa um marco importante para o PSDB na Grande São Paulo: o partido não conseguiu levar nenhuma outra cidade da região metropolitana e amargou seu pior desempenho em uma eleição na capital paulista com o 5º lugar de José Luiz Datena.
A vitória em Santo André, no entanto, levou os tucanos para seu terceiro mandato seguido na cidade. Gilvan vê o desempenho na eleição como prova de que o partido conseguiu furar a polarização e ainda tem espaço para crescer.
“O PSDB aqui em Santo André se mostrou uma alternativa à polarização porque a gente enfrentou o PT e o PL aqui e conseguiu a vitória com folga no primeiro turno”, diz o prefeito eleito, citando os adversários que ficaram respectivamente em segundo e terceiro lugar.
“A gente mostrou que dá para defender a liberdade econômica, o emprego, e também olhar para as pessoas que mais precisam no social. É isso que o PSDB traz no seu DNA”.
Para o tucano, o partido precisa “se reencontrar”, e tem possibilidade de reverter o cenário de derretimento geral com o fortalecimento dos novos quadros.
“É natural que, quando se perde o governo do estado, o partido acaba encolhendo um pouco. Mas o PSDB fez mais de 270 prefeitos, a gente tem o [Eduardo] Riedel, Raquel Lira, Eduardo Leite, que são governadores jovens, novas lideranças que têm feito [o partido] crescer. Acho que [para crescer é preciso] continuar nesse caminho orgânico, de não só instalar o partido em eleições para disputar, mas de trazer bons quadros, criar figuras jovens e construir esse PSDB do futuro”, afirmou Gilvan.