“Efeito zumbi” e convulsão: conheça a spice, a droga proibida pelo PCC
Desenvolvida em laboratórios clandestinos, a spice é uma maconha sintética também conhecida como K2, k4 ou k9, que foi proibida pelo PCC
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Cem vezes mais potente que a maconha natural, a spice, versão sintética da droga também conhecida como k2, k4 ou k9, teve a venda proibida na Cracolândia, no centro da capital paulista, pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), por causa do prejuízo causado ao tráfico pelos efeitos que a substância provoca nos usuários.
O Metrópoles apurou que, em outros pontos de venda controlados pelo PCC na cidade, a comercialização da spice é permitida, mas o consumo no local está vetado, tamanho o comprometimento da integridade física e mental causado pela droga.
As restrições impostas pela facção criminosa ao consumo da maconha sintética se devem ao receio dos efeitos nocivos aos usuários atrair a atenção de serviços de socorro médico e da polícia, o que atrapalharia o tráfico de entorpecentes no local. A droga debilita os usuários física e psicologicamente, causando, em alguns deles, o chamado “efeito zumbi” (veja abaixo).
O médico psiquiatra Wilson Lessa Júnior afirmou à reportagem que o princípio ativo da droga sintética age nos receptores cerebrais de forma “total e forte”. Já o tetrahidrocanabinol (THC), da maconha natural, estimula os receptores de forma “parcial e fraca”.
“Os efeitos dela [maconha sintética] chegam a ser cem vezes mais potentes do que os da natural. O canabinoide sintético faz uma estimulação de forma muito potente, e acabam acontecendo alguns efeitos colaterais como hipersonolência, vômito. Quando você junta essas duas coisas, um dos grandes riscos é se engasgar e sufocar com o vômito. Além disso, aumenta o risco de psicose e confusão mental”, diz Lessa Júnior, que também é professor do curso de Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e membro da Associação Médica Brasileira de Endocanabinologia.
Efeitos e sintomas
A reportagem localizou três vídeos que circulam pelas redes sociais nos quais jovens apresentam alguns dos sintomas relatados pelo especialista após o consumo da spice. Em um deles, um rapaz chora enquanto outro fica escorado em um portão, com a boca aberta, parecendo um zumbi. “Olha o que a k9 tá fazendo. Olha o que a k9 faz, rapaziada, deixa o cara facinho”, afirmam pessoas durante o registro.
De acordo com o Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos, usuários de maconha sintética podem apresentar quadros de ansiedade, agitação, náuseas, vômitos, hipertensão arterial, convulsões, alucinações, pânico, incapacidade de comunicação, paranoia, agitação e agressividade.
Apesar de ser chamada de maconha, a substância não tem nenhuma similaridade molecular com a droga natural. A única semelhança com a erva é a capacidade de o canabinoide sintético se conectar com os mesmos receptores cerebrais.
Até o fim do ano passado, o Núcleo de Exame de Entorpecentes da Polícia Técnico-Científica de São Paulo havia identificado ao menos quatro moléculas, desenvolvidas em laboratório, e vendidas como maconha sintética em São Paulo.
História
Os primeiros canabinoides sintéticos foram produzidos em laboratório no estado americano da Carolina do Sul, na década de 1990, pelo químico John Huffmann. O intuito das pesquisas era aliviar o sofrimento de pacientes com Aids e câncer.
“No entanto, a droga passou rapidamente a ser usada para fins recreativos”, diz trecho de nota das Associações Médica Brasileira de Endocanabinologia e Pan-Americana de Medicina Canabinoide.
As entidades acrescentam que, apesar de proibida, a substância pode ser comprada tanto nas ruas como pela internet, com preços abaixo da maconha convencional.
O canabinoide é liquido e sem cheiro. Costuma ser borrifado em ervas secas, ou ainda tabaco, para ser fumada.
Há ainda casos em que folhas de papel são impregnadas pela substância, como forma de burlar a fiscalização nas cadeias.
Isso fez com que a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) proibisse, desde o início de 2022, a entrada de papel sulfite nas unidades prisionais paulistas, além de restringir o número de fotos e outros impressos enviados por correspondência.