“É uma pena”, diz mãe sobre impasse que deixa alunos sem aulas em SP
Professores municipais estão em greve por reajuste salarial e melhores condições de trabalho; Prefeitura ofereceu 2,16% de aumento
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Quem passou pelo CEU Três Lagos, no Grajaú, zona sul da capital paulista, nesta semana se deparou com um silêncio fora do comum. A paralisação dos professores da rede municipal deixou os corredores da instituição de ensino vazios e poucas crianças circulavam com suas mães no local nesta quinta-feira (14/3).
“É uma pena eles estarem em greve porque eu acho que isso atrapalha muito o aprendizado”, afirma Renata Lucchesi, 40 anos, mãe de duas crianças que estudam na instituição.
Ela elogiou o trabalho feito pelos educadores do CEU e lamentou a interrupção das aulas. “Eu não tenho família aqui em São Paulo, então as minhas filhas necessitam muito da escola. Estou contando com a ajuda das irmãs da igreja para olharem elas [as filhas] enquanto eu estou trabalhando”.
Reivindicando reajuste salarial e melhores condições de trabalho, os servidores da educação anunciaram greve na última sexta-feira (8/3), durante uma assembleia da categoria. Os professores vivem um impasse com a gestão Ricardo Nunes (MDB), que ofereceu reajuste de 2,16%, ao contrário dos 39% exigidos pelos servidores.
Claudete Alves, presidente do Sindicato dos Educadores da Infância (Sedin), diz que a categoria não teve aumento nos últimos anos, apenas “abonos salariais”.
“Em 2022, 2023 e este ano, a Prefeitura deu aumento somente para quem recebia o piso, quem está no início da carreira. Os demais professores só receberam o reajuste concedido para os servidores em geral, que este ano foi de 2,16%”, diz a sindicalista. “Os 39% foram dados somente para o piso”, afirma ela.
A Prefeitura diz, em nota, “que está aberta uma mesa de negociação sobre a recomposição salarial para o ano de 2024”.
Avó de duas crianças que estudam no CEU Três Lagos, Madalena Barbosa, 59, diz que a pauta dos servidores é justa e defende o reajuste. “Quanto melhor eles ganharem, eu acho que melhor eles vão tratar os alunos”, afirma.
Ela diz que a neta mais velha tem ficado em casa nos últimos dias por causa da paralisação. Já o mais novo faz parte da única turma cuja professora não entrou em greve no CEU e, por isso, continua frequentando as aulas normalmente.
Na CEMEI Márcia Kumbrevicius de Moura algumas turmas tiveram os horários reduzidos por causa da greve. É o caso da sala em que estuda a filha da dona de casa Edna Souza, 37.
“Eles ficavam das 13h às 18h30. Esses dias vão ficar das 15h às 18h30”, explica ela. Já na turma em que estuda o filho de Michele Dias, 25, as aulas foram canceladas.
“A greve é um direito de todos, a gente não pode esquecer disso, porém acaba prejudicando as mães”, afirma Michele. “Seria bom se tivessem um ‘plano B’. Algumas professoras de greve, mas a Prefeitura disponibiliza outras para substituir [neste período]”.
Mãe de duas crianças, ela conta que a creche onde o segundo filho está matriculado, a CEI Noronha, tem funcionado normalmente.
Segundo a Secretaria Municipal da Educação, 3,4% das escolas e creches tiveram o atendimento impactado pela greve nesta quarta-feira (13/3) — o número exato de unidades e alunos afetados pela paralisação não foi divulgado.
Já o sindicato diz que 20% das instituições municipais de ensino aderiram à greve. A reportagem recebeu mensagens de profissionais paralisados nas zonas leste, norte e sul de São Paulo.
Professores ouvidos pelo Metrópoles em condição de anonimato afirmam que há sobrecarga de trabalho nas instituições de ensino da rede municipal e defendem redução de jornada para os profissionais que atuam nos chamados “quadros de apoio”. Fazem parte deste quadro os funcionários que recebem as crianças na entrada e saída das creches, por exemplo.
Os educadores também reivindicam pautas como a criação de grupos de trabalho sobre saúde dos profissionais da educação e sobre educação inclusiva, a manutenção de incentivos para a formação continuada e aumento das rondas escolares.