“É inaceitável sair varrendo a Vila Sahy”, diz morador sobre despejo
Plano do governo estadual prevê demolir 852 casas (701 ocupadas) na Vila Sahy, epicentro da tragédia ocorrida em São Sebastião no Carnaval
atualizado
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São Paulo — Moradores de 701 casas da Vila Sahy, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, podem ser despejados até março de 2024 caso a Justiça aceite o pedido do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para remover compulsoriamente a população da região.
As residências fazem parte do plano de demolições previsto pelo governo estadual para o bairro, que foi o epicentro da tragédia provocada pelas fortes chuvas que deixaram 65 mortos no litoral paulista em fevereiro deste ano. Além das 701 casas, outras 151 que já estão desocupadas também podem ser demolidas.
O governo alega ter feito uma série de estudos que mostram que a região pode sofrer “destruição das casas, desabrigamento e ocorrência de mortes” em caso de novos temporais.
Para os moradores, a possibilidade de remoção é vista com indignação. “É inaceitável sair varrendo a Vila Sahy”, afirma Moisés Teixeira, de 38 anos. O construtor diz que sua casa não foi atingida pelos deslizamentos no início do ano e que o governo não havia apontado o local como “área de risco” até o momento.
A residência fica localizada a poucos metros do Instituto Verdescola, que funcionou como ponto de abrigo para as famílias afetadas após as fortes chuvas durante o Carnaval deste ano. O instituto não foi incluído na lista de demolições previstas pelo governo.
O morador questiona o plano de remoções apresentado pelo governo Tarcísio e diz que sua casa foi construída com o aval da Prefeitura de São Sebastião.
“Eu fui na prefeitura, fiz o pedido de construção, apresentei o projeto, com engenheiro e arquiteto. Paguei todas as taxas devidas”, diz ele. “Paguei tantos anos de imposto para depois falarem ‘você vai sair daqui debaixo de tiro de borracha porque o juiz mandou’? Tá errado”, afirma Moisés.
Evanildes Alves, de 57 anos, é presidente da AmoVila, a associação de moradores da Vila Sahy, e diz que a população está revoltada com a ação do governo na Justiça.
“É muito arbitrária”, afirma a presidente. Ela explica que os moradores não imaginavam ser expulsos de suas casas e que as famílias não querem ir para os imóveis fornecidos pela gestão estadual através da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).
“As pessoas estão muito angustiadas, falando até de fazer greve, não trabalhar”, diz a líder comunitária. Segundo ela, boa parte dos moradores da Vila Sahy trabalham em pousadas e hotéis na vizinha Barra do Sahy, praia badalada do litoral norte paulista.
Segundo informações enviadas pelo governo à Justiça, 52 casas serão evacuadas ainda em dezembro caso o juiz aceite o pedido de remoção compulsória. O cronograma de despejos continuaria com 285 remoções em janeiro, 225 em fevereiro e 139 em março.
A gestão Tarcísio afirma que os moradores despejados serão beneficiados com unidades habitacionais fornecidas pela CDHU. O governo diz que a população poderá optar por imóveis com entrega prevista para dezembro deste ano ou casas que serão entregues em 2026 e 2027.
Enquanto as chaves das novas residências não forem entregues, os moradores poderão viver provisoriamente na Vila Passagem, no bairro Topolândia, no centro de São Sebastião, em outros locais avaliados em conjunto com a prefeitura da cidade, ou receber auxílio-moradia ou aluguel social.