Donos de bares pedem “tratamento de choque” após ataques no centro
Donos de bares e restaurantes pedem tratamento de choque na segurança no centro de SP, após arrastões e ataques ocorridos neste ano
atualizado
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São Paulo — Donos de bares e restaurantes do centro de São Paulo pedem “tratamento de choque” urgente e emergencial para combater a criminalidade e garantir segurança do comércio e dos clientes na região. O ataque ao Bar Brahma, no último domingo (3/12), é visto como momento crítico, uma agressão a um símbolo da capital paulista.
O empresário Álvaro Aoas é proprietário do Bar Brahma, entre outros na região central. Aoas diz que vê de forma positiva a união entre prefeitura e governo estadual para projetos de médio e longo. Mas faz uma ressalva. “O paciente está na UTI. Ele não vai chegar ao médio e longo prazo se não der um tratamento de choque agora”, afirma.
O empresário diz que tem como base três pilares para o tratamento de choque na região central. “O primeiro é polícia 24 horas nos principais pontos do centro, isso é essencial. Sei que estão aumentando o contingente, mas tem que correr com isso”, afirma.
Em segundo lugar, Aoas diz que teve a informação de que uma pessoa foi presa 14 vezes em três meses e está solta agora. “A Justiça tem que dar um jeito nisso, senão não adianta enxugar gelo”, afirma.
De acordo com o empresário, o terceiro ponto é o principal, porque “milhões de pessoas estão acuadas por dezenas”. “Está na hora de todo mundo, desculpe o termo, levantar a bunda da cadeira e fazer o seu papel. O que é? Todos os centros no mundo inteiro foram resgatados através da economia criativa, do entretenimento, da gastronomia, dos espaços culturais”, diz. “Conclamo e convoco as pessoas a participarem dessa resistência de uma forma positiva, frequentando esses lugares. A vida vai trazer uma pressão para todo esse sistema, para ele funcionar”, afirma.
O empresário acredita que, apesar dos problemas, a expectativa para o futuro é otimista, porque o bar é visto por ele como um símbolo de resistência no centro da capital. “Estamos aqui com 120 shows por mês, servindo 20 mil litros de chopp mês”.
Arrastões
Além da violência no Bar Brahma, diversas casas na Santa Cecília, também na região central, tem se tornado alvo de arrastões e ações de criminosos.
O clima de insegurança é grande e muitos proprietários preferem não comentar sobre os crimes ocorridos, que vão desde assaltos cometidos por infratores em bicicletas até criminosos armados invadindo os estabelecimentos e levando tudo dos clientes.
A reportagem apurou que ao menos três estabelecimentos alvos de bandidos ao longo deste ano receberam, logo na sequência, a visita de pessoas que se apresentaram como policiais militares oferecendo serviço de segurança privada.
Também foram citados outros casos em que a ação contra a criminalidade ultrapassou a fronteira da segurança pública. Segundo testemunhas, no último mês, ao menos dois ladrões de celular, em bicicletas, foram espancados por motoboys nas proximidades da Rua Frederico Abranches. No local, há uma inscrição na calçada. “Aqui não é lugar de ladrões! Prisão ou caixão”, diz.
A empresária Lilian Gonçalves, da Rede Biroska, é símbolo e uma lenda da noite paulistana. Ela construiu um pequeno império na Rua Canuto do Val, com bares como Siga La Vaca e Frango Com Tudo Dentro.
“Consegui fazer do meu quarteirão o mais seguro de São Paulo. Especificamente lá, não aconteceu nada, nenhum roubo de celular. Só na rua, eu tenho de quatro a seis seguranças armados”, diz Lilian. “Esse orgulho, eu tenho”, afirma.
Embora diga que garante a própria segurança, Lilian afirma que é preciso uma conversa entre todos os comerciantes da região central para estancar o problema. “Estamos sendo muito prejudicados, cara. Tem a Cracolândia, tem os bandidos, os ladrões. O centro está a Deus dará. ‘Ah, é simplesmente um furtinho’. A lei não nos protege em absolutamente nada”, diz. “O ladrão está autorizado a te furtar”, afirma.
Diretor institucional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Percival Maricato afirma que a segurança entrou em pauta e é fundamental uma resposta rápida das autoridades.
Segundo Maricato, já houve reuniões com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) exigindo mais eficiência no policiamento. Ele sugere, inclusive, uma espécie de 190 apenas para a região central. “Precisamos reeguer o centro de são paulo, que é muito bonito”, afirma.
O diretor da Abrasel também toca em um ponto que é sensível para os empreendimentos, que são os impostos. “A prefeitura poderia retirar o IPTU e, o estado, o ICMS desses estabelecimentos que insistem em ficar no centro”, afirma.
Contraponto
O empresário Benoit Mathurin, sócio de Olivier Anquier no Esther Rooftop, afirma que o ocorrido no Bar Brahma foi algo muito raro e que, de forma geral, o centro está melhor do que antigamente. “Tem mais policiamento”, diz. “Consideramos que não tem assalto à mão armada, são gangues de bicicletas, coisas pequenas”
Mathurin diz que o principal problema é a existência da Cracolândia na região central. “É um problema sério, de saúde, mas não podem deixar essas pessoas afetarem a vida de milhões”, afirma.
Apesar da percepção própria a respeito do problema, o empresário diz que o movimento caiu, principalmente depois da retirada dos usuários de crack da Praça Princesa Isabel. “As pessoas têm mais receio de vir à noite”, diz. O Esther Rooftop conta com seguranças próprios que fazem, se necessário, a escolta de clientes até os carros, por exemplo.
“O centro merece ser falado de melhor forma. As pessoas, às vezes, exageram um pouco sobre o que acontece. Nada de dramático”, afirma.
Apesar de enxergar desde já as coisas melhorando, Mathurin afirma que o ataque ao Bar Brahma é emblemático. “É um lugar famoso, conhecido, antigo, uma instituição do centro. O fato de isso acontecer em um domingo à tarde, provavelmente com crianças lá, vai acordar as pessoas”, diz.