Dono de Porsche usa perícia particular para rebater que estava bêbado
Segundo peritos contratados, Fernando Sastre Filho estava desorientado em razão do impacto gerado pela colisão de trânsito com seu Porsche
atualizado
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São Paulo — A defesa do empresário Fernando Sastre Filho, motorista do Porsche que atropelou e matou um motorista de aplicativo em 31 de março no Tatuapé, zona leste de São Paulo, apresentou à Justiça nessa quinta-feira (1º/8) um laudo pericial privado para tentar comprovar que o rapaz não estava embriagado durante o acidente, ao contrário do que dizem testemunhas. Fernando Sastre é réu por homicídio doloso com dolo eventual e lesão corporal gravíssima.
O empresário está preso preventivamente na Penitenciária 2 de Tremembé, a “Cadeia dos Famosos”. Nesta sexta-feira (2/8), ele será interrogado pelo juiz Roberto Zanichelli Cintra, da 1ª Vara do Júri, no Fórum da Barra Funda, às 16h.
O documento apresentado pela defesa foi elaborado por profissionais do instituto Vida Mental Perícias e se propõe a fazer “avaliações clínicas e forenses retrospectivas, acerca de elementos que esclareçam científica, metodológica e tecnicamente sobre a presença ou ausência de embriaguez” do empresário no momento do acidente.
O laudo é baseado em entrevistas feitas com Fernando Sastre em abril, análise de imagens de câmeras de monitoramento e de câmeras corporais de policiais militares que atenderam a ocorrência e comparações com características de pessoas em estado ébrio.
Segundo o documento, a desorientação de Fernando Sastre foi causada pelo impacto da colisão, e não pelo consumo de álcool, apesar de testemunhas dizerem ter visto ele ingerir bebidas alcoólicas.
Monique Libânia de Souza, que mora em frente ao local do acidente, afirmou ter visto a mãe de Fernando retirar garrafas de bebida alcoólica do veículo importado momentos após a colisão. Marcus Vinicius Machado Rocha, amigo que estava no carro no momento do acidente, disse à polícia que o empresário bebeu “pelo menos” um drink.
O laudo é assinado pela psiquiatra forense Hewdy Lobo, pela neuropsicóloga Elise Karam Trindade, pelas psicólogas Isabella Aguiar Lelis e Desirée Américo Bragon.
Copo na mão
No laudo pericial contratado pela defesa, os técnicos afirmam que, analisando as filmagens da Porchetteria Bar, primeiro estabelecimento em que Fernando Sastre esteve com amigos antes do acidente, os peritos afirmam que não é possível afirmar que o copo que o empresário aparece segurando seria de bebida alcoólica.
Segundo o documento, as imagens não permitem fazer uma diferenciação “entre o que é tradicionalmente como ‘copo comum’ e ‘copo de drinks’, muito menos o tipo de bebida que está dentro de cada recipiente e quem ingeriu cada líquido”.
Câmeras corporais
Sobre as filmagens feitas pelas câmeras corporais acopladas às fardas dos policiais militares que atenderam a ocorrência, o laudo pericial afirma que Fernando Sastre aparece “andando normalmente em linha reta”, sem cambalear, ao contrário do que dizem testemunhas.
No caso da câmera corporal da policial Daisy Aparecida, os peritos dizem que o empresário não aparece com “voz pastosa”, como foi noticiado por veículos de imprensa, mas sim com “características de atordoamento, relacionadas à colisão”.
O impacto da colisão também seria responsável pela “dificuldade cognitiva de memória”. De acordo com o documento, isso é “esperado” em casos de eventos traumáticos e indica uma condição neuropsiquiátrica de concussão.
Testemunhas
O laudo técnico apresentado pela defesa do empresário também levantou questionamentos sobre os depoimentos de testemunhas que disseram que Fernando Sastre teria ingerido bebidas alcoólicas.
Entre elas, está Marcus Vinicius Machado Rocha, que estava no Porsche no momento do acidente e ficou gravemente ferido. Em um de seus depoimentos, ele disse que Fernando Sastre ingeriu pelo menos um drink no bar. Para os peritos, ele pode ter sido “induzido” a dar a resposta, por estar atordoado.
“Marcus Vinicius pode ter sido induzido a produzir falsas associações na memória, dependendo da formulação […]. A pergunta também pode questionar a respeito de fatos esquecidos, lacunas, que o sujeito, inconscientemente, procurará preencher, por meio de breves confabulações, decorrentes de um mecanismo de defesa inconsciente de proteção”, diz o documento.
Conclusão
Na conclusão do laudo, os peritos afirmam que “não existem mínimas provas objetivas e concretas de que o Sr. Fernando Filho tenha ingerido bebidas alcoólicas ou drogas” nos dois estabelecimentos em que esteve na noite do acidente.
“As análises técnicas dos vídeos e imagens não apresentam absolutamente nenhum elemento objetivo sobre o consumo de álcool de drogas do avaliado na noite do acidente”, complementa o documento.
Sobre os depoimentos, os técnicos dizem que foram encontradas contradições que comprometem a análise das declarações.
“Nas análises técnicas, éticas e respeitosas pela aplicação da Psicologia do Testemunho foram demonstradas contradições notórias nos depoimentos em Juízo da Sra. Juliana e do Sr. Marcus Vinicius, quanto ao suposto estado etilizado do avaliado”.