Dom Odilo diz que não quer “abafar” CPI, mas questiona padre como alvo
Arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer critica CPI das ONGs, que não é consenso na Câmara Municipal, por mirar o padre Júlio Lancellotti
atualizado
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São Paulo — O cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo da Igreja Católica em São Paulo, foi às redes sociais na manhã desta sexta-feira (5/1) para rebater críticas de que teria tentado “abafar” a investigação sugerida por parte da Câmara Municipal da cidade contra o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, por conta de seu trabalho assistencial com a população da Cracolândia, no centro da cidade.
“Não estou querendo “abafar” coisa nenhuma. Querem fazer a “CPI das ONGs”? Pois façam!”, escreveu Dom Odilo no X (antigo Twitter).
O cardeal, contudo, questionou, na mesma postagem, o fato de padre Júlio virar alvo da investigação.
“Por que mirar no trabalho do padre Júlio, q não é ONG, não tem ONG e ñ recebe dinheiro público para seu trabalho? Padre Júlio faz seu trabalho em nome da Arquidiocese de São Paulo, que também não é ONG e não recebe dinheiro público”, escreveu.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no centro da polêmica é uma proposta liderada pelo vereador Rubinho Nunes (União), ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), que surgiu em dezembro com o objetivo de investigar entidades assistenciais que atuam na Cracolândia.
Ao todo, 23 vereadores haviam assinado o requerimento, que não fazia nenhuma citação ao padre Júlio. Nesta semana, porém, Rubinho declarou que o encarregado da Pastoral do Povo de Rua seria o principal alvo da investigação, o que causou reações.
Vereadores desistiram
Cinco vereadores retiraram o apoio à instalação da CPI. O vereador Thammy Miranda (PL) chegou até a fazer uma live com o padre. O líder do Governo, Fabio Riva (PSDB), declarou que não há nenhum acordo na Casa para iniciar a investigação.
Tanto o padre Júlio quanto dom Odilo conversaram com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sobre o assunto. A ambos, Nunes afirmou que a petição original, assinada pelos vereadores da sua base, não continha citação a Júlio.
Entre os vereadores, circulou um suposto recado vindo de membros da Igreja Católica lembrando que o trabalho do padre Júlio é o trabalho da Arquidiocese de São Paulo, e que uma investigação contra o sacerdote seria encarada como um atrito dos vereadores contra a igreja.
Aliados de Nunes na Câmara afirmam que em fevereiro, quando o Legislativo retornar do recesso, a proposta de CPI será enterrada.