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Dinheiro em excesso explica infiltração do PCC nas eleições, diz PM

Chefe da Inteligência da PM, coronel Pedro Luís de Sousa Lopes falou da atuação do PCC em contratos públicos e eleições municipais em SP

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PCC Policia Militar de São Paulo PMSP PM SP durante policimento na capital paulista - Metrópoles
1 de 1 PCC Policia Militar de São Paulo PMSP PM SP durante policimento na capital paulista - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

São Paulo – A participação em contratos públicos e o financiamento de campanhas eleitorais são estratégias adotadas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavar dinheiro, segundo o coronel Pedro Luís de Sousa Lopes, chefe do setor de Inteligência da Polícia Militar (PM) paulista.

Durante o encontro anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), realizado nessa quinta-feira (15/8), o coronel afirmou que os lucros obtidos pela facção com o tráfico de drogas quadruplicaram na última década.

“O que mudou foi o tráfico internacional de drogas. De 2014 em diante, eles estão capitalizados e a dinâmica mudou. Tenho que reconhecer que mudou. Tem dinheiro para financiar [campanhas]”, disse.

Segundo ele, o PCC está com dificuldade para lavar o dinheiro do tráfico em operações lícitas tamanho o volume de recursos movimentado pela facção. “É muito dinheiro, muito dinheiro. Tanto é verdade que não é nem a estratégia mais inteligente, porque eles estão se expondo. Tem uma série de contratos públicos expondo integrantes da cúpula do PCC”, afirmou. “Talvez, seja excesso de confiança”, completou.

O coronel citou como exemplo a investigação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) sobre o transporte público na capital paulista. Em abril deste ano, dirigentes das empresas de ônibus Transwolff e UpBus foram denunciados por suspeita de integrar um esquema para lavar dinheiro do tráfico de drogas do PCC.

Sobre o fato de contratos públicos se tornarem mais uma fonte de renda para o PCC, Lopes disse que a facção paulista trilha “o caminho das máfias italianas”.

“Se não fizer nada, esse é o caminho. Em algum momento, a gente não vai saber mais o que é ou não é crime”, disse. “Por exemplo, já tem integrantes importantes da cúpula que estão atuando em empreitada criminosa importante que não tem antecedente criminal.”

Apesar do crescimento da facção, o coronel afirmou que o trabalho da polícia será mantido da maneira atual. “Não preciso mudar meu escopo. Monitorando liderança me coloca dentro do contexto. É uma prioridade da liderança se envolver nesse aspecto com ‘branqueamento’ de capital. O que preciso fazer? Continuar a fazer o que estou fazendo de forma mais eficiente, só isso.”

Influência nas eleições

O coronel também falou da preocupação da polícia sobre a atuação do PCC nas eleições deste ano. “Hoje, existe uma inclinação perigosa em relação à política. É muito maior do que imaginava. Não dá para falar em 100, 200 municípios”, afirmou Lopes, explicando que o envolvimento da facção criminosa na política ocorre de uma forma generalizada.

Segundo ele, há uma preocupação não só em relação ao dia da eleição, mas, principalmente, sobre o financiamento de campanha. “Quanto menor o município, mais vulnerável”, afirmou. “Tem vários municípios com indícios muito palpáveis de que já há alguma movimentação importante do crime para participar como financiador de campanha eleitoral.”

O coronel citou um caso ocorrido no Guarujá, litoral paulista, envolvendo um suspeito de fornecer serviços à prefeitura local que foi assassinado recentemente. No ataque, o ex-vereador Geraldo Soares Galvão, que estava no local, levou seis tiros.

Galvão estava conversando com um grupo de pessoas – entre elas, um dos líderes do PCC, conhecido como “Meia Folha” – quando levou tiros nos ombros, barriga, coxa e panturrilha. O integrante da facção não resistiu aos ferimentos.

Ao falar sobre a atuação do PCC nas comunidades, por exemplo, Lopes disse que o crime organizado não pode impedir a realização de campanhas eleitorais de opositores para beneficiar seus candidatos.

“Não posso permitir que, em determinado território, legenda A, B ou C não possa circular”, disse.

Segundo o coronel responsável pela Inteligência da PM, já ocorreram reuniões com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para tratar do assunto, com todos os gestores regionais.

“O que está sendo tratado com o TRE e as legendas é que nós precisamos ser informados sobre qualquer tipo de ingerência ou manifestação que possa implicar limitação do processo eleitoral em virtude de prática criminosa dessa natureza. Temos recebido bastante material por conta dessa interlocução”, afirmou.

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