Descoberta de mercado paralelo do PCC na prisão deflagra operação
MPMG descobriu que facção controla integrantes no sistema prisional com rígido controle de dados, conhecido como “cara-crachá”; entenda
atualizado
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São Paulo — O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) cumpre, nesta quinta-feira (18/4), mandados de prisão e de busca e apreensão contra integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). As investigações que levaram à operação começaram a partir da descoberta de um sistema rígido de controle dos faccionados no sistema prisional e de um núcleo econômico sofisticado, que funciona como um mercado paralelo nas prisões.
As ordens judiciais da Operação Decretados são cumpridas em cidades de São Paulo e Minas Gerais. Com apoio das Polícias Civil, Militar e Penal, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) Regional de Uberlândia saiu às ruas para cumprir, no total, 116 mandados de prisão. A operação teve, ainda, o suporte de 27 viaturas e um helicóptero (veja abaix0).
Os alvos da operação, segundo as investigações, ajudam a alimentar um requintado esquema da facção criminosa dentro dos presídios. As primeiras informações sobre o caso chegaram ao MPMG a partir da denúncia de uma remessa de drogas e celulares entregue no Presídio Professor Jacy de Assis, em Uberlândia. Havia, ainda, a denúncia de um plano de execução contra um policial penal.
A apreensão dos celulares na Ala E do presídio, conhecida como Pavilhão do PCC, levou o Gaeco a descobrir anotações com o cadastro de presos faccionados, os setores dominados pela facção criminosa dentro do presídio, venda de drogas, aluguel de quadra de futebol, apostas de partidas de futebol, dívidas etc.
Os faccionados, segundo as investigações, eram submetidos a um controle chamado “cara-crachá”, em que constavam todos os seus dados, na seguinte ordem: nome do integrante; data de nascimento; idade; nome da mãe; data e local do batismo; vulgo de batismo; origem da quebrada, com controle inclusive se proveniente de outra UF; funções ocupadas; presídio onde o faccionado encontra-se recluso; se possui dívida com a “família” (PCC); se foi punido pela facção em alguma oportunidade; posto atual.
Mercado paralelo
Além disso, de acordo com o MPMG, os integrantes da facção eram divididos em núcleos, com divisão de tarefas acompanhadas de perto pela organização criminosa. Segundo os promotores, organização utiliza essas práticas para consolidar seu poder dentro do sistema prisional, criando uma economia paralela que beneficia seus interesses.
Os setores mapeados pelas investigações são:
- Esporte
- Tabacaria
- Caixa do Jogo do Bicho
- Jet Geral Financeiro
- Arquivo Morto
- Disciplina
- Cadastro
- Lista Negra
- Trivela
- Jet Geral da Unidade
- Papelaria
- Jet do Pavilhão
- Geral do Cadastro
- Trabalho da Sintonia
- Apoiadores
- Comunicador
- Salveiro
- Jet Pavilhão da Financeira
- Setor Gaiola
- Kaô
- Almoxarifado
Os promotores destacam que as drogas são usadas dentro do presídio como moeda, uma espécie de câmbio local. “Toda dívida criada pelo comando era convertida primeiro em droga e, após, em moeda real”, diz nota do MPMG.
Os integrantes da facção que estão presos mantém contatos com membros que estão nas ruas. Estes cumprem ordens para a prática de crimes e movimentação de valores em prol do PCC.
Os mandados de prisão e busca e apreensão desta quinta-feira estão sendo cumpridos nos bairros Canaã, Laranjeiras, Integração, Morumbi, Alvorada, Shopping Park, além das cidades de Tupaciguara e Ituiutaba e vários presídios de Minas Gerais e do Estado de São Paulo.