Derrite explica fala sobre protagonismo da PM e diz confiar na Civil
Secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, se manifestou após declaração sobre protagonismo da PM repercutir mal na Polícia Civil
atualizado
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São Paulo — Mudando o tom de sua mais recente postagem em uma rede social, o secretário estadual da Segurança Pública, Guilherme Derrite, negou que tenha falado sobre protagonismo da Polícia Militar no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e ressaltou o trabalho da Polícia Civil no enfrentamento ao crime organizado.
Na internet, ele compartilhou seu discurso feito durante um evento no qual a PM lançou uma “diretriz de combate ao crime organizado”, na última terça-feira (16/4), gerando revolta entre delegados. Na postagem, Derrite, que é capitão da reserva da PM, exaltou a atuação da corporação em parceria com Ministério Público de São Paulo (MPSP) e não fez menção ao trabalho da Polícia Civil.
Em uma nota, endereçada ao Metrópoles por sua assessoria de imprensa, no fim da manhã desta quinta-feira (18/4), Derrite afirma que, “ao se referir a assumir protagonismo”, teria ressaltado “a atuação da pasta como um todo”, incluindo as polícias Civil, Militar e Técnico Científica.
“Diante da confiança e autonomia nessas instituições, elas sempre tiveram a liberdade dentro de suas atuações para promoverem parcerias e ações conjuntas com outros órgãos com o intuito de enfrentar o crime organizado, que há tempos espalha seus tentáculos para medir forças com o estado”, diz trecho da nota.
Derrite comenta, ainda por meio de sua assessoria, sobre a atuação isolada da PM em apoio do MPSP no cumprimento de mandados de prisão e busca e apreensão durante uma megaoperação, deflagrada na semana passada.
Batizada de Operação Fim da Linha, a ação deixou a Polícia Civil escanteada nos cumprimentos de mandados de prisão, além de busca apreensão, contra um suposto esquema de lavagem de dinheiro do PCC, por meio de empresas de ônibus que operam na capital paulista.
“Na operação em questão, a SSP esclarece que a ação foi realizada em uma parceria entre PM e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco), como tantas outras já ocorreram. Isso em nada inviabiliza o trabalho da Polícia Civil, que continua atuante no combate ao crime organizado por meio de investigações e inquéritos em andamento por todo o estado paulista”.
A megaoperação foi resultado de mais de quatro anos de investigações que começaram por inquéritos justamente da Polícia Civil.
Delegados irritados
Como mostrado pelo Metrópoles, trechos do discurso, feito para uma plateia de policiais militares em um auditório na zona oeste da capital paulista, foram postados pelo secretário em seu perfil nas redes sociais (assista abaixo), e ajudaram a recrudescer a insatisfação já manifestada, anteriormente, por entidades representativas da Polícia Civil.
“A gente não vai só assumir, junto com o Ministério Público, o protagonismo no combate ao crime organizado, como a gente vai falar que existe um serviço de inteligência da Polícia Militar, existe um Centro de Inteligência, que produz muita análise no combate ao crime organizado”, disse Derrite.
O vídeo foi criticado pelo Sindicado dos Delegados de São Paulo, no fim da tarde de quarta-feira (17/4). A presidente da entidade, delegada Jacqueline Valadares, pontuou que as duas forças “precisam trabalhar em sintonia”, respeitando as atribuições de cada uma delas, “e não confundir todo o trabalho”.
Outro delegado ouvido pelo Metrópoles, sob condição de anonimato, afirmou que a fala de Derrite “mostra o menosprezo” dele pela Polícia Civil, que tem a prerrogativa constitucional para investigar crimes.
Sobre a ausência da Polícia Civil na Operação Fim da Linha, o presidente da associação de delegados, André Santos Pereira, classificou-a como “ilegal” e disse que a conduta também “traz instabilidade às instituições” e “prejudica a população”, sobretudo pela possibilidade de a Justiça “declarar a ilegalidade da operação”.