Deolane usou carrões de luxo para lavar dinheiro do crime, diz Justiça
Deolane Bezerra e sua mãe foram presas suspeitas de compor organização criminosa envolvida com jogos ilegais e lavagem de dinheiro
atualizado
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São Paulo — Os carros de luxo ostentados pela influenciadora e advogada Deolane Bezerra, para seus mais de 21 milhões de seguidores nas redes sociais, são um dos indícios de lavagem de dinheiro encontrados pela polícia. Ela foi presa e teve a oportunidade de responder às acusações em liberdade.
Deolane, porém, ficou menos de 24 horas em prisão domiciliar, após descumprir uma das medidas cautelares, que a impedia de falar com a imprensa, impostas pela Justiça do Recife, assim que colocou os pés para fora da cadeia, nessa segunda-feira (9/9).
Ela foi presa novamente, nesta terça-feira (10/9), assim que chegou ao Fórum da capital pernambucana, para assinar papéis antes de seguir para São Paulo, onde iria ficar em uma de suas três mansões. Deolane é alvo de uma investigação sobre bets (sites de apostas) ilegais usadas para lavar dinheiro do crime.
A influencer e a mãe, Solange Alves Bezerra Santos, de 55 anos, foram presas na última quarta-feira (4/9) em cumprimento a mandados de prisão preventiva, cumpridos pela Polícia Civil durante a Operação Integration.
“Deolane Bezerra Santos adquiriu e revendeu um veículo de alto valor em um curto período. Esta transação, juntamente com o fato de que o veículo foi comprado por uma empresa vinculada a atividades de lavagem de dinheiro, sugere uma tentativa de ocultar e disfarçar a origem ilícita dos recursos”, diz trecho de documento do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), obtido pelo Metrópoles.
A compra e venda rápida de bens de alto valor “é um método clássico de lavagem de dinheiro”, destaca o documento.
A investigação, que resultou em uma denúncia do Ministério Público de Pernambuco, mostra que a associação de Deolane com sua mãe “reforça os indícios” que culminaram na prisão de ambas.
Relatório do Coaf
A Polícia Civil pernambucana se embasou em um relatório resultante de um alerta do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do governo federal, sobre lavagem de dinheiro. Chamou a atenção uma conta bancária da mãe de Deolane aberta em novembro de 2022.
No mês seguinte, as movimentações financeiras da família Bezerra começaram a ser investigadas.
Na decisão que prendeu mãe e filha, a Justiça de Pernambuco indica o recebimento de valores, na conta de Solange, depositados por duas empresas também monitoradas pela polícia.
Solange declarava rendimento mensal de R$ 10 mil, mas teve uma movimentação de quase R$ 480 mil entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 na conta bancária, o que acendeu o alerta do órgão de inteligência financeira. O relatório ajudou a polícia a identificar e relacionar seus alvos.
Apesar de não contar com registros profissionais, como mostra a investigação, Solange constava como sócia em duas empresas, uma de confecção de roupas e outra de atividades de cobrança.
“Ela movimentava valores acima de sua capacidade financeira, com alta fragmentação nas contrapartes e rápida evasão de recursos”, diz trecho de documento judicial, que aponta, ainda, o suposto envolvimento da mãe de Deolane com “tráfico de drogas e sonegação fiscal”.
Prisão domiciliar
A defesa da influenciadora e sua mãe entrou com um pedido de habeas corpus, para que ambas aguardassem fora da cadeia o andamento do processo.
Em decisão que resultou na prisão domiciliar de Deolane, revogada nessa terça-feira, o desembargador Eduardo Guilliod Maranhão endossa as denúncias de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
O magistrado, quando concordou com a prisão domiciliar, considerou o fato de Deolane ser mãe de uma menina de 8 anos de idade. Ele se pautou pelo artigo 318A do Código Penal e por um habeas corpus coletivo do Supremo Tribunal Federal (STF), de 2018, que substitui a prisão preventiva por domiciliar para gestantes, lactantes e mães de crianças de até 12 anos ou de pessoas com deficiência.
Caso não tivesse descumprido uma da medidas cautelares, que a proibia de falar com jornalista, Deolane seria monitorada por tornozeleira eletrônica e teria de também não se manifestar em redes sociais.
Assim que colocou os pés fora da Colônia Penal Feminina Bom Pastor, a primeira coisa que fez, porém, foi dar declarações a jornalistas de plantão em frente à unidade prisional. Deolane afirmou não existirem provas contra ela, alegando que sua prisão “foi criminosa”.
Em seu Instagram, a influencer publicou uma foto com a boca tampada com um papel, que continha um X desenhado em vermelho, e deixou uma legenda sugestiva: “Carta aberta…”. A postagem faz referência à carta publicada em seu perfil no domingo (8/9).