Delegados pedem investigação de PMs envolvidos em morte de aposentado
Associação dos Delegados quer entender porque PMs iniciaram apuração do homicídio no próprio quartel e não registraram o caso na delegacia
atualizado
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São Paulo – A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP) pediu nesta segunda-feira (20/5) a instauração de um inquérito militar para apurar a conduta dos policiais militares envolvidos na morte do aposentado Clóvis Marcondes de Souza, de 70 anos.
Ele foi baleado no último dia 7 de maio durante abordagem a dois homens em uma moto na Rua Platina, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Ele não tinha nenhuma relação com os suspeitos.
O aposentado foi atingido por um tiro dado pelo 1º sargento Roberto Márcio de Oliveira, da Força Tática do 8º Batalhão da Polícia Militar, de dentro da viatura em que estava.
A arma de Roberto disparou, por motivos ainda a serem esclarecidos, e atingiu a cabeça do aposentado, que morreu no local. A vítima, que morava na região há sete anos, pretendia ir à farmácia, comprar um medicamento. Câmeras de segurança flagraram o momento.
O objetivo do inquérito pedido pela Associação dos Delegados é apurar a conduta dos oficiais da PM por terem conduzido as investigações iniciais do homicídio no próprio quartel, e não terem registrado o caso na delegacia.
Fontes policiais que acompanham o caso afirmaram, em condição de sigilo, que os PMs envolvidos “mentiram” ao dizer que o delegado Weider Ângelo, do 30º DP (Tatuapé), teria dispensado a necessidade de fazer um boletim de ocorrência, junto à Polícia Civil, e orientado que o caso fosse registrado apenas no 8º Batalhão da PM.
De acordo com o inquérito policial militar, ao qual o Metrópoles teve acesso, a ocorrência foi apresentada no 8º BPM às 18h pelo tenente Henrique Pereira da Silva. O registro da ocorrência indica, que antes disso, os PMs teriam consultado o delegado Weider Ângelo. Naquele momento, no entanto, Ângelo nem estava trabalhando — ele só daria início ao seu plantão às 20h.
“Diante dos fatos, foram acionadas as autoridades competentes e certificado delegado de polícia, dr. Weider Ângelo, o qual deliberou que o procedimento e apresentação da ocorrência fosse conduzido pelo SPJMD [Seção de Polícia Judiciária Militar e Disciplina] do 8º BPM”, diz trecho do BOPM obtido pelo Metrópoles.
O presidente da ADPESP, André Pereira, disse que o pedido também solicita a investigação pelos eventuais crimes de falsidade ideológica e prevaricação. Segundo Pereira, o procedimento adotado pelos policiais foi realizado em desacordo com a Lei.
“Os familiares da vítima certamente ficaram sem entender o porquê de não estarem em uma delegacia, sendo atendidos por um Delegado de Polícia. O erro fica claro, inclusive, pelo fato desse procedimento lavrado no quartel ter sido considerado irregular, por falta de homologação do auto de prisão em flagrante pela comandante do batalhão, conforme representação do Ministério Público e acatada pelo Juiz Militar, o que resultou no relaxamento da prisão em flagrante”, afirmou Pereira.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que “todas as circunstâncias relativas ao caso são investigadas pela Justiça Militar e pelo inquérito instaurado pelo DHPP, com acompanhamento do Ministério Público”.
Segundo a pasta, as informações colhidas no local e, posteriormente, com as partes envolvidas, são apuradas pelas instituições. O caso foi registrado na Polícia Judiciária Militar, que decretou a prisão em flagrante do 1º sargento Roberto Márcio de Oliveira por crime culposo. A prisão do militar foi convertida depois em preventiva. Ele permanece detido no Presídio Romão Gomes.