Delegado pede soltura de casal preso após ser confundido com ladrões
Pedido de soltura ocorre após Metrópoles mostrar inconsistências nos relatos dos PMs que prenderem vendedora e amigo no Capão Redondo
atualizado
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São Paulo – O delegado Renan Magalhães Carvalho, do 47º DP (Capão Redondo), solicitou a revogação da prisão preventiva da vendedora Rafaela da Silva Pereira Lima, de 23 anos, e do amigo dela, Gabriel Pereira da Cruz, 24, presos no último domingo (10/9), após serem confundidos com bandidos, quando passeavam com um cachorro no Capão Redondo, na zona sul da capital paulista.
O pedido foi encaminhado ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), nesta quinta-feira (14/9), após vídeos e depoimentos de testemunhas indicarem a provável inocência dos amigos. Nenhuma decisão judicial havia ocorrido até a publicação desta reportagem.
A prisão deles foi mostrada pelo Metrópoles, ressaltando inconsistência no relato de policiais militares.
Rafaela e Gabriel foram presos em flagrante após um motorista de aplicativo, vítima de roubo, ter afirmado que ambos eram autores do assalto que ele sofreu na noite do último domingo. Isso deixou familiares e amigos dos jovens revoltados.
Vídeos de duas câmeras de monitoramento, obtidos pelo Metrópoles, mostram que dois homens abordaram o motorista de aplicativo, no momento em que uma passageira iria embarcar no carro dele (assista abaixo). Nenhuma mulher aparece no vídeo.
A dupla de ladrões tira a vítima do carro e foge com o veículo em um intervalo de menos de 30 segundos.
Prisão arbitrária
O roubo do carro foi comunicado à Polícia Militar, que avistou o Chevrolet Ônix trafegando pela Avenida Carlos Caldeira Filho.
Uma perseguição se iniciou e o carro roubado entrou na contramão, na rua onde Rafaela e Gabriel passeavam com o cachorro da jovem, Rex. Ambos estavam a cerca de 30 metros da casa de Rafaela, onde ocorria um churrasco em comemoração ao novo emprego de Gabriel, que começaria a trabalhar em uma academia de ginástica no dia seguinte.
Durante a perseguição, uma viatura da Força Tática do 1º Batalhão da PM atropelou o motoqueiro Wellington Santana Fraga da Silva, de 22 anos. Ele foi submetido a uma cirurgia e estava em coma induzido, até a publicação desta reportagem.
A viatura policial colidiu em seguida contra uma guarita. Nesse meio tempo, os bandidos que estavam no Ônix fugiram correndo.
Lucas Checke de Siqueira, amigo de Rafaela, testemunhou toda a ocorrência. Ele já havia afirmado ao Metrópoles ter visto um dos criminosos correndo após o atropelamento do motoqueiro.
Durante as colisões e fuga, Rafaela e Gabriel se assustaram. Por essa razão, a jovem pegou Rex no colo e correu. Em seguida, ambos os jovens foram abordados por PMs, que os levaram até a delegacia. Os dois amigos foram presos em flagrante pelo roubo do carro de aplicativo.
Uma câmera de monitoramento (assista abaixo) registrou os jovens caminhando com o cachorro e, instantes depois, o suspeito correndo.
Apesar das imagens, a Justiça converteu a prisão em flagrante dos jovens em preventiva, ou seja, por tempo indeterminado. Desde então, familires a amigos se mobilizaram para provar a inocência deles.
Duas versão dos PMs
Em depoimento, o sargento Eduardo Luciano da Silva e o cabo Júlio Cesar Marques de Souza, da Força Tática do 1º BPM, afirmaram ter avistado um Chevrolet Onix roubado trafegando pela Avenida Carlos Caldeira Filho.
Ambos afirmam que, no veículo, havia “um condutor”, que fugiu após perder o controle do carro, durante uma perseguição.
Outros dois PMs, que estavam em uma segunda viatura, deram apoio à abordagem. Ambos afirmaram, porém, que dois suspeitos teriam desembarcado do carro roubado, acrescentando que ele “parou na via pública”.
Os dois policiais acrescentaram à Polícia Civil que, após abordar Rafaela e Gabriel, os jovens afirmaram que “transitavam pela via e assustaram-se com toda a movimentação”. Após isso, os policiais levaram a dupla para a delegacia.
Os PMs estavam com câmeras corporais, mas os equipamentos estariam desligados. Rafaela e Gabriel foram mantidos na rua por cerca de uma hora até serem levados ao distrito policial. Os policiais militares apresentaram uma arma de brinquedo afirmando que ela estaria com Gabriel.
Defesa
O advogado Marcelo Batista de Aguiar, que defende Rafaela e Gabriel, afirmou que vai pedir a quebra do sigilo do celular de seus clientes para reforçar, junto com as imagens das câmeras de monitoramento, as provas de que ambos não estavam no local onde o motorista de aplicativo foi roubado.
Além disso, Aguiar diz que também vai requerer as imagens das câmeras corporais dos policiais.
“Gostaria de destacar que o delegado Renan, do 47º DP, contribuiu para a coleta das provas que indicam a inocência dos meus clientes. Ele trabalhou, inclusive, em dias de folga para ajudar a provar a inocência deles.”
Atualmente, Rafaela estuda enfermagem, profissão que já exerceu como auxiliar. Ela mora com a mãe, que sofreu um acidente e ficou incapacitada, e é conhecida no bairro por se envolver em projetos sociais.
TJSP e PM
Questionado sobre se irá solicitar as imagens das câmeras corporais dos PMs, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) não respondeu. O órgão somente confirmou que os jovens tiveram as prisões em flagrante convertidas em preventivas.
Em nota, enviada no fim da tarde desta quarta-feira, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que o casal foi “reconhecido pessoalmente pela vítima.”
“Quanto ao vídeo mencionado, o mesmo foi anexado ao inquérito policial e analisado pelo Poder Judiciário, que converteu a prisão em flagrante em preventiva.”
Sobre o pedido de revogação da prisão do casal, a SSP afirmou, em nota enviada nesta quinta-feira, que elementos foram coletados durante a investigação, os quais “subsidiaram o pedido de revogação da prisão do casal”.
A pasta, assim como a Polícia Militar, foi questionada se as imagens das câmeras corporais dos PMs foram disponibilizadas para confirmar a versão deles. Ambas as instituições da Segurança Pública não se posicionaram.