Delator do PCC: polícia suspeita de olheiro escondido em área do CV
Para equipe de investigação, Kauê do Amaral Coelho, apontado como olheiro, esteve em comunidade na zona norte do Rio de Janeiro
atualizado
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São Paulo – A força-tarefa que investiga a morte do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) Vinícius Gritzbach suspeita que um dos envolvidos no crime tenha se escondido em um importante território do Comando Vermelho (CV) na zona norte do Rio de Janeiro.
Segundo a investigação, Kauê do Amaral Coelho, de 23 anos, apontado como o responsável por alertar os atiradores sobre a chegada de Gritzbach ao Aeroporto de Guarulhos no momento da execução, teria fugido de carro com Matheus Soares Brito, de 19, logo após o assassinato.
De acordo com um integrante da força-tarefa ouvido pelo Metrópoles, a suspeita foi corroborada pela identificação de sinais telefônicos captados por antenas cariocas entre os dias 11 e 20 de novembro.
Posteriormente, sinais telefônicos teriam sido registrados na zona leste de São Paulo. Uma da suspeitas é que Kauê tenha retornado. Fontes policiais também consideram a hipótese de que um comparsa esteja com o celular do olheiro para burlar o sinal telefônico.
A presença de Kauê no Rio de Janeiro, possivelmente em uma área dominada pelo Comando Vermelho, chamou a atenção da força-tarefa pela rivalidade histórica entre a facção carioca e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Uma pessoa ligada à investigação disse à reportagem que isso pode indicar que Kauê não é integrante direto da facção, apesar das suspeitas envolvendo o PCC e a execução.
O olheiro é descrito por membros da força-tarefa como “molecão”, que aparentava estar nervoso no momento do crime. Ele teria passado horas no aeroporto sentado no mesmo local e, momentos antes da chegada de Gritzbach, começou a se movimentar de maneira incomum.
Após o assassinato, dirigiu-se rapidamente ao estacionamento, onde havia parado seu carro. Mas, chegando lá, percebeu que tinha esquecido de pagar e teve de voltar ao saguão. Como não tinha dinheiro em espécie, recorreu ao cartão de débito. A falha facilitou sua identificação pela polícia.
Matheus Soares Brito
Matheus Soares Brito, acusado de ajudar na fuga de Kauê, foi preso no último sábado (7/12) pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Ele teria confessado que ajudou o olheiro a fugir para o Rio.
“Matheus não negou. Ele levou o Kauê para o Rio de Janeiro. Disse que ele teve a incumbência de tirar o Kauê da cidade e dar fuga. Por isso ele foi detido”, afirmou Osvaldo Nico Gonçalves, coordenador da força-tarefa.
O irmão de Matheus, Marcos Henrique Soares Brito, e o tio Allan Pereira Soares também foram presos, mas liberados após audiência de custódia. Delegados e autoridades ligadas à investigação suspeitam que os policiais militares da Rota que efetuaram as prisões teriam plantado uma sacola de munições de fuzil.
Na decisão que determinou a liberação de Marcos e Allan, a juíza Juliana Pitelli da Guia afirma que “se houvesse algum indício de envolvimento de Marcos e Allan com o gravoso crime de homicídio em questão”, “certamente” a autoridade policial os teria incluído no pedido de prisão contra acusados.
“Nada veio ao auto de prisão em flagrante para confirmar a versão registrada”, diz a magistrada. Ela acrescenta que, sendo assim, “cumpre reconhecer a ilegalidade do ato”.
Novo suspeito preso
Na noite dessa segunda-feira (9/12), a Polícia Civil prendeu mais um suspeito de envolvimento no crime. Matheus Augusto de Castro Mota foi encontrado por agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) escondido em um apartamento no bairro Canto do Forte, no município de Praia Grande, litoral paulista.
Ele foi levado para o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pela investigação.
Matheus é acusado de emprestar os dois carros usados na fuga: um para o olheiro Kauê do Amaral Coelho e outro para os atiradores de Vinícius Gritzbach.
Execução de Gritzbach em aeroporto
Antônio Vinícius Lopes Gritzbach voltava de uma viagem com a namorada quando foi executado na tarde de 8 de novembro, na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo. Ele foi morto com tiros de fuzil. Câmeras de segurança registraram o momento em que os atiradores descem de um carro preto e executam o empresário.
De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), Gritzbach foi jurado de morte pelo PCC porque teria mandado matar dois integrantes do grupo criminoso, Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, motorista de Anselmo. Na denúncia, o MPSP diz que o empresário mantinha negócios na área de bitcoins e criptomoedas.
O duplo homicídio ocorreu em 27 de dezembro de 2021 e teria sido cometido em parceria com o agente penitenciário David Moreira da Silva. Noé Alves Schaum, denunciado por ser o executor dos membros do PCC, foi assassinado em 16 de janeiro do ano passado. Além disso, Gritzbach havia fechado um acordo de delação premiada com o MPSP para delatar assuntos ligados à facção paulista.
No dia 11 de novembro, o governo anunciou a criação de uma força-tarefa para apurar o assassinato no aeroporto. O grupo conta com representantes da Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Científica. Entre eles, Osvaldo Nico Gonçalves; Ivalda Oliveira Aleixo, diretora do DHPP; e Pedro Luís de Sousa Lopes, do Setor de Inteligência da Polícia Militar.
Policiais envolvidos
Além de integrantes do PCC, estão na mira da força-tarefa policiais militares e civis. No momento da execução, um grupo de PMs era encarregado de fazer a segurança privada de Gritzbach.
Três deles, no entanto, estavam em um posto de gasolina próximo ao aeroporto quando o ataque começou, supostamente por causa de problemas mecânicos em uma das caminhonetes usadas no transporte do grupo. Oito policiais militares foram afastados de suas funções por trabalharem com o empresário delator do PCC.
No caso dos policiais civis, as suspeitas giram em torno de agentes citados por Gritzbach em sua delação premiada ao Ministério Público de São Paulo. Na delação, o corretor acusou policiais civis que atuavam no DHPP de extorqui-lo para livrá-lo da investigação sobre a morte de Cara Preta. Em 31 de outubro, oito dias antes de ser morto, Gritzbach prestou depoimento à Corregedoria da Polícia Civil e reafirmou as acusações.