Como delator do PCC escapou da morte duas vezes antes de ser executado
Vinícius Gritzbach registrou boletim de ocorrência de ameaça quatro meses antes de assassinato. “Temo pela minha vida e não aguento mais”
atualizado
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São Paulo — O assassinato do delator do PCC e corretor de imóveis Vinícius Gritzbach — executado com dez tiros de fuzil logo após desembarcar de um voo no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no último dia 8 — aconteceu após outras duas tentativas “frustradas”. Quatro meses antes de ser morto, ele chegou a registrar um Boletim de Ocorrência por ameaça.
Gritzbach era jurado de morte pelo PCC e investigado pelo suposto envolvimento na morte de dois integrantes da organização — entre eles Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, uma importante liderança no submundo do crime.
Em um registro feito pelo próprio Gritzbach, em 2 julho deste ano, por meio da Delegacia Eletrônica, ele afirmou que um homem identificado como Ricardo Romano teria entrado em contato com ele por telefone.
“Ele disse ser do PCC, me acusando de coisas que não fiz, [ficou] me xingando e dizendo que eu estava decretado de morte e que se eu saísse de casa ele iria me matar.”
Gritzbach seguiu o relato relembrando uma tentativa de homicídio sofrida no Natal de 2023. “Sofri um atentado dentro da minha própria casa, podendo ter relação [com o telefonema recebido anteriormente]. Temo pela minha vida e não aguento mais essa situação.”
Tentativas de homicídio
Investigadores atribuem a morte de Gritzbach em razão da execução de Cara Preta, com quem o delator tinha se desentendido por dinheiro. Segundo o Ministério Público de São Paulo (MPSP), Gritzbach teria mandado matar o traficante após ser cobrado por uma dívida em um investimento em bitcoins.
Após a morte de Cara Preta, o delator disse ter sido sequestrado e levado para um “tribunal do crime”, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, onde foi ameaçado por Cláudio Marcos de Almeida, o Django, e outros criminosos.
Um deles chegou a vestir uma luva cirúrgica e ameaçado esquartejar Gritzbach, segundo relato dele ao MPSP. Ele teria conseguido escapar da morte porque, na ocasião, conseguiu repassar R$ 27 milhões aos criminosos. Além disso, um ainda teria pego uma Ferrari dele como parte da cobrança.
Gritzbach também relatou ter ficado recluso por 21 dias seguidos em um apartamento por temer ser assassinado. Ele disse que ouvia de forma recorrente informações de que havia sido condenado à morte pela justiça paralela da facção.
Atentado na varanda
A aparente segurança que acreditava ter em casa foi desestabilizada na noite de Natal do ano passado, quando o corretor de imóveis foi alvo de um tiro, dado na varanda de seu apartamento de alto padrão, na zona leste.
O momento foi registrado em vídeo (assista abaixo).
Gritzbach teria sido atingido no braço por um fragmento do projétil. “Ele estava em casa na noite de Natal (25/12/2023) com os pais, irmãos, filhos. Por volta das 18h48, eles estavam sentados em um sofá e repararam na lua, viram que ela estava cheia, bem bonita. Ele foi para a sacada para filmar e levou o tiro”, disse ao Metrópoles Ivelson Salotto, então advogado do corretor.
Ele acrescentou que, antes disso, Gritzbach já tinha sido ameaçado “até por um policial da banda podre da polícia”. “Disseram que iam matar ele dentro do apartamento dele. Mas quando ele ia imaginar? Ele fraquejou, foi um descuido.”
Segundo a polícia, o tiro foi disparado de um prédio em frente, de um apartamento que fica poucos andares acima do de Gritzbach. O Metrópoles relevou a imagem do provável atirador, captado por uma câmera de monitoramento, logo após o atentado (veja galeria acima).
No registro, anexado em um Inquérito Policial instaurado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), o sniper carrega uma maleta, na qual estaria a arma usada para tentar matar Gritzbach, a caminho de um elevador. O registro é analisado para tentar identificar o criminoso.
A imagem, segundo apurado pelo Metrópoles, foi inserida pelo departamento de homicídios em relatórios somente dias antes da execução do empresário no maior aeroporto do Brasil. A polícia investiga a eventual relação desse suposto atirador com o assassinato. Até o momento, dois suspeitos de envolvimento no homicídio foram identificados.