Delação: Gritzbach disse que policiais receberam R$ 11 mi de propina
Delator do PCC deu depoimento à Corregedoria da Polícia Civil e detalhou como delegado supostamente livrou criminosos em troca de propina
atualizado
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São Paulo – Em depoimento feito à Corregedoria da Polícia Civil, obtido pelo Metrópoles, o corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, assassinado com 10 tiros de fuzil no último dia 8 no Aeroporto Internacional de São Paulo, afirma que um delegado e um investigador chefe receberam ao menos R$ 11 milhões de propina, em dinheiro vivo, para retirar o nome de investigados em inquéritos por homicídio e envolvimento com o tráfico de drogas.
O inquérito policial de homicídio, mencionado no depoimento, era o mesmo no qual Gritzbach era investigado pelo suposto envolvimento no assassinato de dois integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que o havia jurado de morte e a qual ajudou na lavagem de dinheiro.
Para que seu nome também fosse retirado da investigação, como já mostrou o Metrópoles, os policiais teriam pedido R$ 40 milhões para o corretor, mas que não foram pagos.
Os policiais que supostamente receberam os R$ 11 milhões de propina, pagos em mãos, são o delegado Fábio Baena Martin e o investigador chefe Eduardo Lopes Monteiro. Ambos atuavam no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e estão afastados das funções por causa das denúncias feitas por Gritzbach dias antes de ser executado.
Ambos afirmaram, em nota enviada por advogados, que as alegações de Gritzbach seriam “especulações e falácias”, além de chamá-lo de “criminoso”.
Primeira propina
O primeiro suposto pagamento de propina mencionado por Gritzbach foi feito pelo empresário César Trujillo, em uma padaria no Jardim Anália Franco, zona leste paulistana, onde teria entregado R$ 1 milhão em notas para o delegado e o investigador chefe.
Os mesmos policiais teriam informado a Gritzbach que Rafael Maeda, o Japa, e Danilo Lima de Oliveira, o Tripa, seriam traficantes, mas que nunca haviam sido presos. Ambos teriam sequestrado e levado Gritzbach para um “tribunal do crime”, ainda de acordo com o depoimento.
“Esse inquérito foi arquivado sem ninguém ter sido ouvido. O inquérito foi de início presidido pelo doutor Baena”.
Gritzbach acrescentou à Corregedoria da Polícia Civil que o delegado teria recebido R$ 10 milhões em dinheiro vivo, metade de Japa e a outra de Tripa, para não prendê-los. A informação sobre a propina milionária foi confirmada ao delator do PCC pelos também policiais civis “Xixo” e “Bolsonaro”.
Japa foi encontrado morto, em maio de 2023, em um estacionamento na zona leste de São Paulo. Ele era apontado pelo MPSP como um dos principais operadores do PCC e teria intermediado a contratação de vários jogadores, incluindo Du Queiroz e Igor Formiga, que atuaram pelo Corinthians.
“Problema” de milhões
Gritzbach disse ainda que os R$ 10 milhões pegos por Japa e Tripa “passaram a ser um problema para esses policiais”.
“Eles começaram a abrir empresas para lavar o dinheiro, inclusive Eduardo Monteiro comentou, certa vez: ‘se investigarem meu Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], eu vou ser preso para ficar com você [Gritzbach]”.
No documento da Corregedoria da Polícia Civil consta que Gritzbach entrou pendrives com a relação de empresas usadas pelos policiais para supostamente lavar o dinheiro das propinas.
Veja os últimos momentos de Gritzbach
Relógios “furtados”
Durante cumprimentos de mandados de busca e apreensão, Gritzbach afirmou à Corregedoria que sumiram R$ 20 mil e que alguns relógios de luxo, de 20 apreendidos, não lhe foram devolvidos.
Os relógios furtados supostamente por policiais civis são quatro Rolex avaliados em R$ 200 mil, R$ 150 mil, R$ 130 mil e R$ 80 mil; dois Hublots de R$ 58 mil e R$ 56 mil, respectivamente e um Frederique Constant de R$ 40 mil.
Em uma rede social, Gritzbach afirmou ter visto fotos do agente da Polícia Civil Rogerio de Almeida Felício, o Rogerinho, usando quatro dos relógios de luxo desaparecidos, destacando entre eles o Rolex Yacht Master, de ouro, os mais caro de todos, avaliado em R$ 200 mil.
Como revelado pelo Metrópoles, com salário de R$ 7 mil mensais, Rogerinho é sócio de uma clínica de estética, de uma empresa de segurança privada e de uma construtora que ergueu cinco condomínios de 37 casas no litoral sul paulista.
Execução
Uma câmera de monitoramento (assista acima) registrou o instante em que o corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, chega ao saguão do terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo, na região metropolitana, pouco antes de ser executado, acompanhado da namorada e de dois seguranças particulares.
No fundo da imagem, é possível avistar Kauê do Amaral Coelho falando ao telefone. Segundo investigações do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), ele é o olheiro que avisou os dois assassinos, ainda não identificados, sobre a chegada de Gritzbach. Além da ligação, a polícia suspeita que ele usou uma espécie de alarme para anunciar a chegada do corretor de imóveis, que foi assassinado com 10 tiros de fuzil cerca de 30 segundos depois.
As imagens das câmeras de monitoramento, obtidas pela reportagem, ajudaram a polícia a ter essa certeza. Um mandado de prisão foi expedido contra Kauê na sexta-feira (15/11), mas só foi confirmado pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) nesta terça-feira (19/11).
Além de divulgar o nome e a foto de Kauê, a pasta ofereceu uma recompensa de R$ 50 mil para quem der informações que ajudem a localizar e prender o olheiro.