Debate em SP: Nunes e Boulos fazem último confronto antes da eleição
A dois dias da eleição, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSol) se enfrentam no debate da TV Globo, na noite desta 6ª feira (25/10)
atualizado
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São Paulo — O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado Guilherme Boulos (PSol) participam na noite desta sexta-feira (25/10) do último debate antes do segundo turno da eleição à Prefeitura da capital, que ocorre no domingo (27/10). O encontro entre os candidatos é promovido pela TV Globo.
Nunes iniciou o primeiro bloco, de tema livre, questionando Boulos sobre segurança pública. O prefeito afirmou que contratou 2 mil Guardas Civis Municipais (GCMs) e que irá contratar mais 2 mil, além da instalação de 20 mil câmeras de monitoramento, e questionou o adversário sobre o motivo de ele não ter votado a favor de um projeto de lei na Câmara dos Deputados para aumentar a pena de criminosos.
Boulos disse que não estava na sessão em que o projeto foi votado porque estava em uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto.
Na sequência, o candidato do PSol investiu seu tempo falando que os paulistanos querem “mudança”, que foi alvo de “ataques e mentiras” e pediu para os eleitores não votarem com “medo” no domingo. Boulos criticou a atuação de Nunes durante o último apagão na cidade, ocorrido neste mês, dizendo que ele “não teve pulso” e questionou o prefeito sobre os custos do cemitérios que foram privatizados pela gestão do emedebista.
Na sua fala, Nunes alegou que os preços do serviço funerário permaneceram congelados para as famílias de baixa renda e voltar a questionar Boulos sobre segurança pública, dizendo que o adversário defende a “liberação das drogas” e a “desmilitarização da polícia”.
Boulos disse que Nunes mente ao insinuar que ele é a favor da descriminalização das drogas e afirmou que defende tratamento diferenciado entre traficantes de drogas e dependentes químicos. “Você defende prender um dependente químico?”, questionou o psolista.
O prefeito insistiu nas posições de Boulos sobre drogas e segurança pública e defendeu as concessões feitas nas gestões dele e dos ex-prefeitos Bruno Covas e João Doria, dizendo que faz um “governo liberal”.
No segundo bloco, Boulos questionou Nunes sobre problemas na área de saúde, como as filas por exame. O prefeito rebateu dizendo que abriu novos equipamentos para atender a população e indagou o candidato do PSol sobre o fato de o partido dele ter votado contra um projeto na Câmara Municipal para reduzir impostos.
Boulos disse que o PSol votou contra porque havia um “jabuti” no projeto, com pedido de empréstimo em moeda estrangeira, considerado “suspeito” por ele. Nunes rebateu dizendo que o dinheiro seria usado para compra de ônibus elétricos.
Pesquisas
À frente em todas as pesquisas – segundo o Datafolha divulgado nessa quinta-feira (24/10), Nunes tem 49% das intenções de voto contra 35% de Boulos –, o prefeito adotou uma postura mais defensiva na campanha e conseguiu impor ao adversário um ritmo de encontros que lhe foi vantajoso: esta será a terceira vez que se enfrentarão no segundo turno. O psolista queria que o número de debates chegasse a 12.
Já o levantamento do Paraná Pesquisas divulgado nesta sexta-feira (25/10) mostra Nunes com 51,2% das intenções de votos e Boulos, 40,7%. Em relação ao último levantamento do instituto, publicado na última terça-feira (22/10), o prefeito teve uma oscilação negativa de 0,5 ponto percentual e Boulos uma oscilação positiva de 1,1. A variação está dentro da margem de erro de 2,6 pontos percentuais.
Embora a distância entre os dois oponentes seja significativa – nunca houve uma virada na eleição paulistana do candidato que largou no segundo turno atrás nas pesquisas –, a campanha de Nunes trabalha tanto para garantir que os eleitores dispostos a votar no prefeito compareçam às urnas no domingo quanto para evitar que aqueles que ainda estão indecisos depositem seu voto no rival – branco, nulo e indecisos somam 16% no Datafolha.
A estratégia de Nunes
Por isso, Nunes vem preparando uma estratégia contra o adversário, que inclui atacar o programa “socialista” do partido de Boulos para reforçar o rótulo de “radical”, que tem usado contra do deputado do PSol desde a pré-campanha, colocando o rival no campo da “extrema esquerda”.
“Eu quero discutir, por exemplo, o estatuto do PSol, de que vai pegar e vai ter ações de estatizar as empresas privadas. Como é que pensam? Como é que está no estatuto do PSol? E mostrar o meu governo, que é um governo liberal, um governo que enxuga a máquina. É um governo que reduz impostos. Eu quero discutir isso”, disse o prefeito nesta semana.
O programa do partido de Boulos defende de forma contundente a “estatização das empresas privatizadas” e prega contra “reformas reacionárias e neoliberais”, citando como exemplo a Reforma da Previdência. “É preciso reverter este verdadeiro saque à nação, começando pela reestatização das empresas privatizadas”, diz um trecho do programa do PSol.
A exemplo do que já fez nos dois debates anteriores, nas emissoras Record e Bandeirantes, o emedebista também deve explorar a atuação de Boulos como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) antes de virar político para tachá-lo de “invasor” e martelar que o psolista é a favor da descriminalização das drogas e da desmilitarização da polícia, duas bandeiras de esquerda.
Por outro lado, Nunes se prepara para o que sua equipe chama de “denuncismo”, que deverá vir de Boulos, explorando suspeitas de desvios de dinheiro em sua gestão na Prefeitura e, mais uma vez, insistindo que o prefeito “abra seu sigilo bancário” para provar que não se beneficiou de supostos esquemas de corrupção.
Boulos sem nada a perder
A campanha de Boulos encara o debate da Globo como um “tudo ou nada”. A essa altura, segundo pessoas próximas ao deputado, o psolista tem menos a perder do que Nunes. O estilo mais incisivo do debate na Record deve ser repetido e endurecido para mostrar ao eleitor um candidato de “pulso firme”, em contraste com um prefeito que normalmente se esquiva de respostas difíceis.
O boletim de ocorrência que Regina Nunes registrou contra o prefeito em 2011, por violência doméstica, será novamente explorado, assim como as suspeitas de superfaturamento de obras e contratos sem licitação feitos pela atual gestão. Boulos também apelará para o desejo de mudança do eleitorado, como tem feito neste 2º turno, e citará histórias vividas durante a caravana pelas periferias ao longo da última semana, levando para a televisão “casos reais”, nas palavras de um aliado.
O deputado também foi estimulado a caminhar pelo estúdio e se mostrar à vontade ao questionar Nunes.