De vetos a cargos: por que cacique do União ameaça romper com Nunes
Ricardo Nunes corre risco de chegar às eleições sem Milton Leite, que foi seu principal aliado ao longo do atual mandato em São Paulo
atualizado
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São Paulo — A negociação para evitar que o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), retire seu partido da coligação pela reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na capital passa pela manutenção de cargos para o grupo político do vereador e pela garantia de que uma polêmica proposta aprovada por ele na Câmara não seja vetada, segundo interlocutores de ambos ouvidos pelo Metrópoles nesta quinta-feira (11/7).
O desembarque de Leite, que foi considerado ao longo deste mandato o principal fiador político de Nunes e lhe garantiu um controle sem tropeços da Câmara, ocorreu pouco após o prefeito confirmar o Coronel Mello Araújo (PL) como nome vice de sua chapa, por indicação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a contragosto de Leite, e pegou aliados do prefeito de surpresa.
O vereador, que tem histórico de expressiva votação eleitoral na zona sul, afirmou, sem dar muitos detalhes, que a relação entre os dois estava “péssima” e deu um ultimato para que o prefeito melhorasse o diálogo — o prazo dado por ele vence no próximo domingo (14./7). O União tem convenção eleitoral marcada para o dia 20/7.
Parlamentares da legenda, por sua vez, afirmam que o partido já está em conversas com o influencer Pablo Marçal (PRTB) para apoiá-lo na disputa, em uma negociação que inclui tirar também da base de Nunes o Avante, segundo confirmou ao Metrópoles o vice-presidente da sigla, Leandro Mascarenhas.
O que está em jogo
Segundo apurou a reportagem, um dos principais pontos de atrito entre Milton Leite e Ricardo Nunes está ligado à “revisão da revisão” da Lei de Zoneamento, um projeto votado pela Câmara a toque de caixa há duas semanas.
O projeto alterou regras de urbanismo para permitir grandes construções da cidade em uma série de bairros antes restritos, como o Alto de Pinheiros, Morumbi, Cidade Jardim e Itaim Bibi.
Aliados do prefeito apontam que ao menos 10 pontos do projeto de lei aprovado por Leite devem ser vetados por Nunes, temeroso dos impactos eleitorais negativos que tais medidas podem trazer.
Nesses bairros, de classe média e alta, algumas quadras em que havia autorização apenas para casas de uso exclusivamente residenciais foram alteradas para permitir arranha-céus com aproveitamento máximo dos terrenos, trazendo obras, trânsito e mais gente para regiões elitizadas. Moradores já tentam barrar as mudanças na Justiça e o prefeito não pretende comprar essa briga às vésperas da eleição.
Outra medida incluída na revisão, e que provocou ruído entre os dois políticos, refere-se a um edifício de luxo construído sem alvará na região da Avenida Brigadeiro Faria Lima, no Itaim Bibi. O texto permitia que a obra fosse regularizada e pudesse ser ocupada. Mas Nunes vinha fazendo do caso um exemplo de moralidade da sua gestão, com pedido de demolição do prédio à Justiça e demissão de servidores envolvidos.
Além disso, o presidente da Câmara faria questão de manter sob influência de seu partido o comando da Câmara Municipal e, entre aliados, subprefeituras tidas como influentes fora de seus domínios, como Santo Amaro, Lapa e Pinheiros.
Aliados do prefeito avaliam, ainda, que Leite saiu chamuscado da operação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) contra dirigentes de duas empresas de ônibus suspeitas de lavar dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Uma delas é a Transwolff, que é uma das bases eleitorais do vereador.
Leite chegou a ser arrolado como testemunha nas investigações e teve seu sigilo fiscal quebrado, embora não haja acusações contra ele.
Próximos passos
Desde que sinalizou a possível ruptura, na semana passada, Leite e Nunes não se falaram, segundo ambos confirmaram à reportagem. O prefeito disse que está “à disposição” do presidente da Câmara.
Leite nega que os assuntos apontados pelos aliados dele e do prefeito sejam o motivo para a insatisfação com Nunes, mas não dá outras pistas. “São questões de governo”, afirma.
O prefeito, na quarta-feira (9/7), disse que “ficaria muito ruim” para o União Brasil desembarcar de seu projeto eleitoral e afirmou que um compromisso já havia sido firmado com o presidente nacional da legenda, Antônio Rueda.
Leite, nesta quinta, afirmou que os rumos do União nas eleições paulistanas seriam decididos pelo diretório municipal do partido, controlado por ele, não pelo nacional. Mas afirmou que uma reunião marcada para esta sexta-feira (12/7) poderia trazer desfecho ao caso.
Nunes disse que o presidente de seu partido, Baleia Rossi, se encontrará com Leite para tentar resolver a situação. A assessoria de Baleia afirmou que ele faria contato com o União.