De olho em 2026, Tarcísio aposta as fichas em Nunes; entenda
Tarcísio de Freitas age para manter Nunes na Prefeitura e evitar ficar entre PT no governo federal e PSol na capital na próxima eleição
atualizado
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São Paulo — O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) começou o ano intensificando a parceria com o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), em uma tentativa de manter o aliado na Prefeitura em 2026 — fim de seu mandato e ano de eleições estaduais e presidencial.
Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político, declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — por abuso de poder durante o mandato — Tarcísio é considerado pelos bolsonaristas o membro do grupo melhor posicionado para disputar a Presidência em 2026, embora ele não comente o assunto.
Nesse contexto, os aliados de Tarcísio analisam ser fundamental evitar que o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) consiga retirar Nunes da Prefeitura nas eleições deste ano. Ao longo do ano passado, Boulos liderou todas as pesquisas de intenção de voto para o cargo.
O campo adversário de Tarcísio já nacionalizou a disputa eleitoral municipal. O movimento costurado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir de dezembro, de retirar Marta Suplicy do grupo de aliados de Nunes e alçá-la a vice de Boulos, teve, entre uma série de motivos, o objetivo de carimbar Bolsonaro em Nunes. A ideia foi resgatar as eleições presidenciais passadas — e a existência de uma “frente ampla” para derrotar o bolsonarismo.
Em meio a essa articulação, Tarcísio chegou a se reunir com Bolsonaro em dezembro, em Brasília, para intervir na relação entre o ex-presidente e o prefeito da capital.
Nunes tenta um “namoro” com Bolsonaro desde o final de 2022. Ao longo do ano passado, o prefeito fez uma série de acenos ao ex-presidente, o que incluiu encontros públicos e privados e até um almoço na Prefeitura. Mas o prefeito não fez o que os bolsonaristas consideravam fundamental: abrir a Prefeitura para indicações do grupo. Com isso, a relação entre ambos caminhava para um estremecimento.
Após a interferência de Tarcísio, que deixou claro que suas próprias chances eleitorais seriam menores sem Nunes na capital, Bolsonaro autorizou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a dizer a Nunes que ele teria seu apoio.
Articulações x práticas
Além da articulação política, Tarcísio vem adotando uma série de ações práticas para impulsionar a avaliação de Nunes entre os eleitores paulistanos.
Em uma das frentes mais sensíveis contra Boulos, o déficit habitacional, Tarcísio lançou nesta semana um programa que deve subsidiar a aquisição de 12 mil imóveis, recursos que bancarão a entrada em financiamentos imobiliários para famílias de baixa renda. A ação será complementada por um programa de Nunes que promete adquirir 40 mil moradias construídas pelo mercado imobiliário e que serão distribuídas entre famílias de sem teto.
Outra iniciativa conjunta está na área de segurança pública. Nunes vem instalando câmeras de segurança na região central e reajustou os valores pagos para policiais militares que fazem a Operação Delegada — o “bico oficial”, em que os PMs ficam à disposição para patrulhamento a pé nos dias em que teriam folga.
Já Tarcísio vem incrementando o número de policiais militares na região e prevê mais um batalhão na região central.
Além disso, ainda de olho nas críticas que Nunes recebe por causa da situação de abandono e insegurança na região central, ambos devem assinar novos acordos e iniciar parcerias para a melhoria do urbanismo na área. Nesta semana, o governador anunciou que a construção do novo centro administrativo do Estado, em Campos Elíseos, deve resultar em investimentos de R$ 4 bilhões na região.
Escola do vice
Segundo o próprio Nunes declarou ao Metrópoles, na conversa que ele teve no mês passado com Valdemar Costa Neto — em que o presidente do PL lhe assegurou o apoio de Bolsonaro —, ficou acertado que o ex-presidente vai indicar o vice de sua chapa.
Aliados de Bolsonaro, todavia, afirmam que faz muito mais sentido que a escolha seja feita por Tarcísio, mesmo que publicamente o ex-presidente mantenha o mérito da indicação.
Tarcísio não pretendia anunciar, desde já, seu apoio à eleição de Nunes — a tática era reforçar para o eleitor o quão importante é o alinhamento entre prefeito e governador. A ideia original era abordar as eleições em um período mais próximo da campanha.
Contudo, nesta semana, diante das notícias de rusgas entre Valdemar e Bolsonaro, e também considerando que a aliança entre Boulos e Marta antecipou o processo, Tarcísio optou por deixar claro, durante uma entrevista coletiva, que daria apoio ao prefeito.
Na ocasião, em um discurso para trazer conforto ao prefeito, Tarcísio disse que a escolha do vice é uma atribuição exclusiva de Nunes. Mas o próprio prefeito afirmou, em conversa com jornalistas, que não indicaria nenhum vice que o governador não gostasse.