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De obra a geladeira vazia: vítimas do apagão se preparam para temporal

Previsão de novo temporal e chance de outro apagão deixa em alerta pessoas que sofreram com tempestade da última semana em São Paulo

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Imagem mostra homem apontando parede destruída - Metrópoles
1 de 1 Imagem mostra homem apontando parede destruída - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — A energia elétrica mal acabou de voltar, telhados ainda não foram completamente refeitos e a possibilidade de um novo temporal assombra moradores de bairros que foram bastante afetados pela tempestade e o apagão da última semana em São Paulo. Manter geladeiras e estoques vazios e fazer obras de emergência para evitar tragédias são algumas das providências de quem já sofreu muito nos últimos dias.

O comerciante Wagner Cordeiro da Silva, 40 anos, tem uma lanchonete na Estrada do Campo Limpo e ficou sem energia elétrica entre a sexta e a quarta-feira (16/10), perdendo todo o estoque de açaí, seu carro chefe. “No mínimo, R$ 2.000”, diz.

Silva soube da tempestade que se aproxima e já traçou estratégias. “Vou comprar pouca mercadoria, não fazer estoque, porque a gente não sabe o que pode acontecer no dia de amanhã. É estoque baixo e tentar vender todo no mesmo dia para não perder mais mercadoria”, diz. “Para a gente continuar com a empresa aberta, senão é porta fechada.”

Com baixo estoque, Silva corre o risco de vender menos do que poderia. Mas é uma precaução necessária, depois do temporal da última sexta. O empresário diz que as contas não vão parar de chegar, apesar do prejuízo.

Se o comerciante do Campo Limpo pretende trabalhar com estoque baixo para evitar prejuízo, a estratégia não é diferente entre muitas pessoas com quem a reportagem conversou.

A babá Antonia Vilma Ferreira, 53 anos, vive na Vila das Belezas e, nesta quinta, caminhava apressada pelo Parque Arariba. “Vacinada” com o que ocorreu nos últimos dias, quando perdeu toda a comida que tinha na geladeira, “Tive que jogar fora tudo que estava no congelador”.

“Estragou tudo, ficou podre”, afirmou. “Estou comprando mistura [em São Paulo, o alimento que acompanha o arroz com feijão] todo dia para não perder. Não posso abastecer a geladeira mais”, diz.

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Entulho jogado na rua no Jardim Paris, na zona sul
Caminhão da Enel no Parque Arariba, na zona sul de São Paulo
Cabeleireiro Douglas Souza aponta local onde árvore atingiu sua casa, no Parque Regina, zona sul de SP
Entulho jogado na rua no Parque Regina, na zona sul de SP
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Grade destruída em quadra do Parque Arariba, na zona sul de SP

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Entulho jogado na rua no Jardim Paris, na zona sul

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Caminhão da Enel no Parque Arariba, na zona sul de São Paulo

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Cabeleireiro Douglas Souza aponta local onde árvore atingiu sua casa, no Parque Regina, zona sul de SP

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Entulho jogado na rua no Parque Regina, na zona sul de SP

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A região do Campo Limpo foi uma das mais afetadas pela tempestade da última semana e parte de seus moradores viram a energia voltar apenas nos últimos dois dias. Ficaram no fim da fila da restauração de fios e cabos partidos durante o vendaval. Em muitos casos, só conseguiram chamar a atenção após protestos, com bloqueio de vias da região.

Trata-se de uma série de bairros da periferia paulistana, lugares citados desde os anos 1990 pelas músicas dos Racionais MC’s, como Parque Regina, Jardim Ingá, Parque Arariba, entre outros.

Caos na rua

Maria Penha de Oliveira, 60 anos, tem uma lojinha no primeiro pavimento de onde mora e, na última semana, viveu momentos de terror durante o temporal. As telhas da casa do vizinho voaram em direção a cobertura do seu próprio imóvel, que também acabou destelhado e cheio de água da chuva. “Foi uma coisa de outro mundo. Aqui, virou mar”, disse.

O prejuízo foi grande. Maria Penha diz que já comprou 50 telhas para substituir aquelas que foram destruídas e, somadas à mão-de-obra, vai gastar mais de R$ 6.000, fora colchão e móveis que teve que jogar fora.

Diante da possibilidade de um novo temporal e com o telhado ainda destruído, coberto apenas com remendos, ela já cobriu os móveis que restaram com plástico.

A Rua Nicolas Lancret, onde a dona da lojinha mora, é um bom resumo do estrago provocado pela tempestade, com telhas quebradas e móveis destruídos jogados nas proximidades de um córrego que passa pelo local, à espera da remoção por parte da prefeitura. Se o grande volume de chuva previsto se confirmar, há risco de alagamento.

Uma das vizinhas da comerciante, a dona de casa Vanessa Aparecida Coimbra, 45 anos, estava sem luz até a tarde dessa quinta (17/10), porque o ramal que liga sua casa ao poste ainda não foi refeito. A comida apodrecia na geladeira. “Deixei aberta para não ficar fedendo. Meu marido veio da Bahia no sábado passado, a maioria das coisas que ele trouxe está se perdendo”, diz, mostrando pedaços de carne e queijo.

Como em outros lugares visitados pela reportagem, as pessoas que trabalham com construção civil foram bastante requisitadas nos últimos dias. O pedreiro José Alves Pessoa, 53 anos, trocava nesta quinta (17/10) o telhado de um imóvel comercial que teve a cobertura voando pelo bairro no último temporal. Agora, será reforçado. “A gente vai colocar mais madeira. Tinha sete travessas e agora serão 14”, disse.

Mais obra, mais prejuízo

O cabeleireiro Daniel Souza, 44 anos, mora e trabalha no Parque Regina, em um único imóvel. Ele ficou sem energia até o fim da manhã dessa quinta, depois de várias reclamações à Enel.

Uma árvore de grande porte caiu e, além de arrastar a fiação, atingiu também a parte superior da sua casa, derrubando parte da alvenaria. Para evitar uma destruição maior, o cabeleireiro foi obrigado a instalar escoras nas paredes, torcendo para que o novo temporal não cause um estrago maior ainda.

Como o salão depende da energia elétrica, Souza passou seis dias sem trabalhar, com um grande prejuízo. “Mais de R$ 2.000, porque foi um sábado perdido. No domingo, também fiquei sem atender. Voltei só hoje pela manhã”, diz.

O cabeleireiro já pensa em estratégias para se livrar da dependência da rede da Enel em dias críticos. “É tentar comprar um gerador, como muitas pessoas estão fazendo, para não ter prejuízo na hora de atender o cliente”, afirma.

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