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São Paulo — A zona leste é a região mais populosa de São Paulo e, nos limites da sua periferia, as falhas no serviço público ficam ainda mais acentuadas. O cinturão que começa em Itaquera e São Mateus reúne cerca de 2,4 milhões de habitantes, que enfrentam problemas com transporte, segurança e habitação.
A Cidade Tiradentes é um bairro que sempre se destaca quando se busca alguma comparação capaz de apontar as desigualdades na capital paulista. São quase 200 mil pessoas vivendo em um lugar que, segundo o Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo, tem idade média ao morrer de apenas 61 anos — 21 a menos que bairros ricos como Jardim Paulista e Itaim Bibi.
O mesmo levantamento aponta que moradores da Cidade Tiradentes estão entre aqueles que mais gastam tempo no transporte público diariamente, com 68 minutos, em média. Parte do problema poderia ser resolvido se a Linha 15-Prata, o monotrilho da zona leste, prometido para a Copa de 2014, já tivesse chegado ao bairro. Mas ainda está longe, em São Mateus, com canteiro de obras na Avenida Ragueb Chohfi.
“O que quebra mesmo é o trânsito e os caras precisam terminar esse monotrilho, agilizar, porque a galera da Cidade Tiradentes está sofrendo. Nós, aqui na Ragueb Chohfi [no Iguatemi], estamos sofrendo. Uma parte grande da zona leste paga o maior preço e o maior veneno por causa disso”, diz o Everton Celso dos Santos, conhecido como pastor Tom.
O ambulante Landoaldo Soares Souza, 50 anos, também critica o transporte precário na região e lamenta não contar com o monotrilho. “Frequento muito a 25 de Março. Como não tenho carro, tenho que pegar ônibus”, diz.
Habitação e infraestrutura
Em outro ponto da zona leste, os problemas relacionados à habitação se encontram com a falta de infraestrutura urbana.
A autônoma Marcela Costa, 31 anos, pede asfalto no acesso à viela onde mora. Ela, porém, vive praticamente em cima do Rio Tietê, em um barraco com o marido e os filhos Rute, 2 anos, e bebê Ezequiel, 1.
Para chegar até a casa de Marcela é preciso caminhar por um labirinto de construções na margem esquerda do Tietê, onde há entulho acumulado. O cheiro do rio, que é um esgoto a céu aberto, fica impregnado nas narinas. Ao chegar ao lugar onde vive, a mãe dos dois bebês acende a lâmpada e agradece, mesmo em meio à miséria. “É simples, mas é a casa que Deus me deu”, diz.
O barranco do Tietê nas proximidades com a divisa de Guarulhos, na altura da Chácara Três Meninas, onde mora Marcela, é dos lugares de São Paulo onde não há dúvida de que falta muito a ser feito na cidade mais rica do país.
O pedreiro Alecsandro Souza Lima, 47 anos, vive na região e conhece os problemas. “Precisa melhorar a questão da moradia e a infraestrutura para evitar enchente. Toda vez que chove, sempre alaga alguma coisa. Eu mesmo perco pouco, porque moro em um sobrado. Mas o pessoal perde móveis, sofá”, diz.
Segurança
O extremo da zona leste também enfrenta problemas relacionados à segurança. Entre os 17 distritos da região, 8 têm taxa de homicídio superior a 10 por 100 mil habitantes.
Na Cidade Tiradentes, por exemplo, o índice chega a 16 por 100 mil, o segundo maior da capital paulista e quatro vezes a média municipal. A violência urbana é tão grande que, na população jovem, dos 15 aos 29 anos, a taxa sobe para 36 por 100 mil.
A violência não se resume ao bairro, entretanto. Os vizinhos Iguatemi e São Rafael também têm taxas elevadas de homicídio, entre as maiores da cidade.
A insegurança na região é tão grande que até mesmo entregas realizadas pelos Correios contam com escolta armada, como o Metrópoles presenciou durante a visita ao Iguatemi.