Datena se frustra com “voo de galinha” na campanha e mina sonho tucano
Datena largou com chances reais de disputar a prefeitura e viu intenções de voto sumirem nas pesquisas em campanha marcada por cadeirada
atualizado
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São Paulo — A caminhada de José Luiz Datena (PSDB) no primeiro turno chega ao fim neste domingo (6/10) com a possibilidade de ser mais curta do que poderia ter sido. O tucano alçou voo com chances reais de chegar à Prefeitura de São Paulo, mas viu as intenções de voto desaparecerem nas pesquisas e despencou, levando consigo o sonho do partido, que busca sua reconstrução, de conquistar a terceira eleição consecutiva na capital paulista.
A candidatura perdeu o fôlego ainda em agosto e viu crescer a sombra de uma pergunta onipresente na campanha: quanto ele vai desistir? Datena não desistiu, embora tenha sinalizado por diversas vezes nos últimos dois meses que escolheu a eleição errada para se lançar na política, após inúmeros recuos em pleitos anteriores — queria disputar uma vaga como senador, reforçou. Também chorou ao final de uma sabatina, quando praticamente jogou a toalha dizendo que morreria sem cumprir seu sonho.
“É uma pena, né? Já escrevi um livro, já fiz tudo que poderia fazer na comunicação, entendeu? Então o sonho que eu tinha era de servir ao povo, como senador, que teria sido melhor, com mais tempo de me aperfeiçoar politicamente, aprender melhor, e não entrando de cara numa disputa majoritária”, disse. Minutos depois, na Rua 25 de Março, afirmou que seguiria firme na disputa.
O candidato tucano que vai às urnas neste domingo é aquele que não pede votos nas ruas e até recomenda que os eleitores escolham outro, se assim preferirem. Durante boa parte da campanha, Datena também demonstrou espanto com o fato de sua popularidade não se converter em intenção de voto. De fato, nas ruas, é parado a todo instante por pessoas que querem tirar fotos com o apresentador de TV, embora não necessariamente o tenham com candidato ideal para ocupar a cadeira de prefeito.
Até por esse motivo, pesquisas mostram um cenário pouco animador. O tucano sempre aparece como o mais conhecido dos postulantes à prefeitura, embora seja também um dos mais rejeitados. Datena começou agosto com 14% das intenções de voto, ao lado de Pablo Marçal (PRTB), e chega na semana da eleição com apenas 4%, mais próximo dos nanicos do que de Tabata Amaral (PSB), a quem deixou ainda antes do início da disputa — era apresentado como possível vice na chapa da deputada federal.
Ao longo da disputa, ficou evidente que Marçal tumultuou a estreia do apresentador de TV na política . O ex-coach entrou na disputa pelo posto de “outsider”, tomou esse lugar e fez acusações sem embasamento em investigação policial ou na Justiça, como ao chamar Datena de estuprador.
Datena agrediu Marçal durante o debate da TV Cultura ao reagir às provocações, e viu sua imagem associada definitivamente à cadeirada. Até esta última semana de campanha, o apresentador era “saudado” por pessoas nas ruas com banqueta nas mãos. O tucano prefere desconversar sobre o tema, dizendo que esse é um caso que vai se resolver na Justiça.
O candidato do PSDB viveu um primeiro turno como um calouro em eleições, agindo por instinto e fora do controle da equipe que tentou moldá-lo à disputa, sem sucesso. Como resultado, deve minar o sonho tucano de voltar à prefeitura, perdida com a morte de Bruno Covas ainda nos primeiros meses de mandato.
Embora tenha dito por várias vezes que não é Moisés para caminhar todo dia, Datena pode terminar esse domingo exatamente como o líder do povo judeu, que andou por 40 anos no deserto, mas se viu impedido de entrar na Terra Prometida — no caso, no segundo turno da eleição paulistana.