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São Paulo — Moradores dos bairros da zona norte de São Paulo que estão mais próximos do oeste da região metropolitana reclamam da falta de infraestrutura urbana e, principalmente, das falhas no atendimento em saúde pública. A espera para passar por especialistas acabam onerando quem vive em bairros como Perus e Taipas, esse último no distrito do Jaraguá. Mas há outros problemas à espera de solução.
Essa grande área da zona norte paulistana é composta por bairros populosos, como a Brasilândia e seus mais de 240 mil habitantes. Também tem lugares com população carente e pobre, onde a idade média ao morrer é de apenas 59 anos, como no caso do Anhanguera — como comparação, são 23 anos a menos que os ricos Itaim Bibi e Jardim Paulista.
A parcela da população que depende dos serviços públicos não esconde sua frustração com o que é ofertado. “Moro há mais de 30 anos em Perus e o que precisa melhorar é a saúde. São poucos postos, poucas AMAs e a demanda é muito grande. Pouca [oferta de] saúde para muita gente”, diz a manicure Andréa Cristina de Souza, 48 anos.
Para Andréia, o Poder Público não foi capaz de acompanhar o desenvolvimento do próprio bairro, que, segundo ela, mudou bastante nas últimas décadas. “O comércio tem crescido muito. Tínhamos que ir para o Brás para comprar coisas básicas. Perus mudou muito, melhorou bastante, mas em questão de saúde precisa melhorar mais”, afirma.
Não muito longe de lá, em Taipas, a crítica também é a precariedade da saúde pública. Gabriela Moreira Isidoro Alves, 26 anos, dona de casa, mora no bairro desde que nasceu e deixava um hospital particular ao conversar com o Metrópoles no início de agosto. Para ela, não há condição de esperar por atendimento na rede municipal.
“Você vai para o hospital público e fica o dia inteiro para ser atendido, às vezes, ainda é mal atendido. Tem que se apertar para pagar um particular, mesmo”, diz.
A crítica ao atendimento na saúde também é feita pela cuidadora Eleuda de Jesus Santos, 32 anos, que carregava o filho Saulo no colo. “Precisa melhorar bastante. Estou com ele para passar por neuro e não consegui ainda. Já vai para uns três meses”, diz.
Além da saúde, também há problemas de infraestrutura. Córregos que são canais de esgoto a céu aberto estão presentes por todo lado. Na altura do 4.000 da Avenida Deputado Cantídio Sampaio, um curso d’água que passa atrás de sua casa incomoda o porteiro Geraldo Oliveira, 35 anos. “As casas não têm esgoto. Quando chove forte, o rio sobe”, diz.
Na Cantídio, até mesmo calçadas são artigos de luxo na altura do Jardim Guarani, na Brasilândia, onde um em cada 4 moradores vive em favelas — na vizinha Cachoeirinha, chega a 29% do total da população.
Apesar das falhas do Poder Público, o mercado imobiliário na região está bastante aquecido. No Jaraguá, somente no primeiro semestre, foram lançados 1.888 apartamentos, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi) — quarto lugar entre os 96 distritos da cidade.
O crescimento se dá não somente em relação aos prédios. Próximo ao Parque Taipas, sobrados chegam a custar R$ 600 mil. A cidade avança sobre a vegetação da Serra da Cantareira, enquanto o Poder Público ainda não consolidou sua presença nem mesmo nas áreas mais centrais dos bairros.
Tradição
A estilista Valmíria Gomes Moreno, 58 anos, vive na Freguesia do Ó, um bairro tradicional, com séculos de existência. “É um símbolo cultural, tem 462 anos”, diz.
Mas ela sabe que o lugar onde vive não está restrito às coisas positivas que traz consigo, como o fato de ser um centro gastronômico e cultural na capital paulista. “É um bairro enorme e, dentro da periferia, tem muita carência. Praças, postos de saúde, escolas, como grandes bairros de outras regiões da cidade”, afirma.
Em meio a tantas coisas diversas, a estilista diz que gosta da Freguesia, principalmente por poder observar o que acontece no lado oposto da Marginal Tietê a partir da colina que abriga a igreja . “Aqui é um ponto privilegiado, pela vista. Tenho orgulho de ver a cidade de cima. Gosto muito.”
Se o Largo da Matriz serve de referência, também há problema de segurança por lá. “Infelizmente, como estamos em um bairro com bastante barzinho, restaurante, tem muitas pessoas que vêm de outras regiões para assaltar e fazer bagunça. Já me levaram celular, dinheiro”, afirma a produtora de eventos Thaís Novaes, 32 anos.