Da capital ao interior, como o PCC pautou as eleições em São Paulo
PCC domina debates eleitorais em SP. Nunes, Boulos e Marçal enfrentam acusações de ligação com a facção, que se espalha no interior
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Considerado uma máfia pelo Ministério Público paulista (MPSP), por causa da sua infiltração na administração pública, o Primeiro Comando da Capital (PCC) dominou os embates da corrida eleitoral na cidade de São Paulo e nas campanhas de alguns dos maiores municípios do interior do estado.
Na capital paulista, a sigla da maior facção criminosa do país inundou as propagandas eleitorais no rádio e na televisão, as postagens dos candidatos nas redes sociais e os debates na TV. O apelido “Tchutchuca do PCC” foi usado tanto pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) como pelo influenciar Pablo Marçal (PRTB) para se atacarem.
No caso de Marçal, ele enfrenta acusações que atingem a cúpula de seu partido. O presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, e o ex-presidente estadual da sigla, Tarcísio Escobar de Almeida, são suspeitos de ligação com a facção.
Contra Avalanche, pesa um áudio em que ele afirma ter sido o responsável por soltar o traficante André do Rap, líder do PCC foragido desde 2020 e menciona que seu motorista teria ligações com Francisco Antonio Cesário da Silva, o “Piauí”, ex-chefe da facção em Paraisópolis, zona sul de São Paulo.
Já Escobar de Almeida foi indiciado pela Polícia Civil, suspeito de negociar carros de luxo por cocaína. Ele comandou o diretório estadual do partido por apenas três dias, em março deste ano, antes do início oficial da campanha eleitoral.
Inicialmente, Marçal argumentou que não era próximo de Avalanche e de outros dirigentes acusados, e chegou a dizer que se sentia constrangido com o aliado e pedido o afastamento do presidente do PRTB, fato negado pelo dirigente. Semanas após a polêmica, o influencer disse confiar em Avalanche e afirmou que iria “honrar” tudo o que ele fez por sua candidatura.
Ônibus do PCC
Já o prefeito Ricardo Nunes teve de se afastar de acusações de proximidade com o PCC após uma operação do MPSP prender, em abril, dirigentes de duas empresas de ônibus da cidade — a Transwolff, da zona sul, e a Upbus, da zona leste —, acusadas de lavar dinheiro para a facção.
A Transwolff é reduto eleitoral de Milton Leite (União), presidente da Câmara Municipal e principal aliado de Nunes. A empresa tocou algumas das vitrines da gestão Nunes na área de transporte, como o Aquático da Represa Billings. Leite teve o sigilo bancário quebrado na investigação, mas nega qualquer ligação com o PCC.
Nunes afirma que foi ele quem solicitou, dois anos atrás, as investigações sobre as empresas, o que foi desmentido pelo MPSP. Ele também destaca que a Prefeitura interveio nas companhias após a operação. Leite, por sua vez, nega qualquer vínculo com integrantes da facção.
Além da dupla que disputa o eleitorado bolsonarista, o candidato do PSol, Guilherme Boulos, também foi confrontado sobre suposta ligação de um aliado na zona leste, o vereador Senival Moura (PT), com o PCC. O petista, que busca a reeleição, é investigado por suposto envolvimento no assassinato de um ex-diretor da Transunião, empresa com ligações com o PCC, segundo a Polícia Civil.
A assessoria de Boulos afirma que Senival não ocupa cargos em sua campanha e o candidato do PSol argumenta que, ao contrário dos investigados na Operação Fim da Linha, o petista não foi indiciado.
Interior do estado
No interior, o PCC também entrou na pauta eleitoral de São José do Rio Preto, cidade a 438 km da capital. Fotos do deputado estadual Itamar Borges (MDB), candidato a prefeito da cidade, em reunião com Rômulo Barbosa Silva, apontado pela polícia como líder regional do PCC, circularam em mensagens de WhatsApp.
A campanha de Itamar afirmou que o encontro, ocorrido em agosto, foi solicitado por um vereador aliado e durou apenas 20 minutos. Informou, ainda, que o candidato do MDB desconhecia o passado de Barbosa. De qualquer forma, o episódio foi explorado pelos adversários, como o candidato Coronel Fábio Cândido (PSD).
Em Sorocaba, o candidato Danilo Balas (PL), concorrente do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), vem focando sua campanha em denúncias de perseguição política, além de explorar investigações da Polícia Federal sobre desvios na saúde, relacionadas à Operação Munditia, para alegar que o PCC se infiltrou na administração pública. A acusação foi negada por Manga.
A operação é uma das duas realizadas em abril contra fraudes em licitações e envolvimento do PCC com partidos políticos. Na primeira, foram presos três vereadores — de Ferraz de Vasconcelos, Cubatão e Santa Isabel —, acusados de facilitar fraudes em obras conduzidas por empresários ligados à facção.
Na segunda, a Operação Decurio bloqueou R$ 8,1 bilhões em bens de moradores de 15 cidades, após uma investigação iniciada em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Segundo a polícia, o grupo planejava lançar candidatos nestas eleições, mas os nomes não foram divulgados pelos investigadores.