metropoles.com

“Cruzada” contra o QR Code quer lei para obrigar cardápio físico em SP

Em São Paulo, resistência contra cardápio em QR Code une gerações e motiva projetos de lei para obrigar restaurantes a oferecer menu físico

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Divulgação/Arquivo Pessoal
Chef Rafael Silva, sentado à mesa, segurando cardápios físicos
1 de 1 Chef Rafael Silva, sentado à mesa, segurando cardápios físicos - Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

São Paulo – Com 85 anos e sempre disposta a encarar uma boa porção de torresmo, Maria José Gabriel do Rego prefere levantar da mesa e sair do restaurante a usar o cardápio em QR Code. “Se só tiver isso aí, eu vou embora! Não sei mexer direito no celular… Vou lá ficar pedindo para fazerem por mim?”

A resistência ao menu virtual não é uma exclusividade dos mais velhos. Nas redes sociais, basta uma busca simples com as palavras “odeio + cardápio + QR Code” para se deparar com uma enxurrada de posts de protesto. “Parem de querer modernizar tudo”, reclama uma adolescente. Outra usuária, que usa um avatar de anime, ainda sobe o tom: “Pior coisa inventada”.

Em São Paulo, a cruzada contra o QR Code motiva até projetos de lei que foram apresentados em 2023 e tentam obrigar bares, restaurantes e casas noturnas a deixar o cardápio físico acessível aos clientes.

Um desses PLs tramita na Câmara Municipal de São Paulo e, caso aprovado, passa a valer na capital paulista. Já o segundo, da Assembleia Legislativa (Alesp), abarcaria todo o território estadual.

QR Code

QR Code é a sigla em inglês para “quick response code” – ou, em tradução livre, “código de resposta rápida”. Basicamente, é um quadrado, formado por vários pontinhos em preto e branco, que corresponde à evolução do código de barras e pode ser lido por alguns tipos de dispositivos.

Apesar da pompa de moderninho, ele já é quase um trintão. Criada em 1994, no Japão, a tecnologia começou sendo aplicada no controle de produção na indústria automotiva e ganhou outras utilidades com o tempo, como a realização de pagamentos ou ingresso em baladas e shows.

Foi na pandemia de Covid-19 que o QR Code se proliferou. Em meio às tentativas de controlar a transmissão do vírus, bares e restaurantes trocaram o cardápio impresso pelo código. A ideia é que o cliente, ao apontar a câmera do celular, seja direcionado para a página da internet com as opções de pratos e bebidas disponíveis naquele estabelecimento.

Entre os diversos usos da tecnologia, no entanto, esse é o que mais acumula críticas. Os problemas, segundo os detratores, vão desde acessibilidade ruim – por códigos danificados, falhas de internet ou aparelhos incapazes de fazer a leitura – a “ninguém aguenta mais ter que olhar para uma tela até na hora de relaxar”.

Pixel na cara

Sócio do Gomo, bar com unidades nos Jardins, na Bela Vista e na cidade de Santos, o chef Rafael Silva, 31 anos, é da opinião que o uso dessa tecnologia causa mais dor de cabeça do que facilita a vida dos estabelecimentos.

“Eu odeio QR Code”, afirma. “Ele veio para ser uma coisa mais prática, até pelo apelo da pandemia, mas é muito mais trabalhoso.”

Segundo relata, os seus bares mantêm o padrão de oferecer o menu físico, mas também disponibiliza QR Code – a critério do cliente. “A imensa maioria prefere escolher pelo cardápio impresso. Há uma parcela muito pequena que gosta de ver as opções pelo celular e tudo bem, né? Tem gente que prefere carne bem passada”, brinca.

Antes, o código ficava colado na quina da mesa mas acabava não sobrevivendo muito tempo ao derramamento de bebidas e às cutucadas dos clientes. Agora, fica impresso na placa de numeração das mesas, o que evita a deterioração precoce mas ainda exige manutenção rigorosa.

O principal cuidado é fiscalizar se todos os links dos QR Codes estão atualizados, de acordo com o chef. “Imagina isso aqui lotado, umas 300 pessoas, e você ter que parar para explicar a alguém que aquele prato não está mais no cardápio ou que o preço mudou”, diz.

Como cliente, Rafael também evita usar a tecnologia. Para ele, o cardápio físico dá mais “amplitude de visão”. “Fica mais fácil conferir os preços e entender o quanto eu vou gastar, não tem que ficar rolando tela ou voltando página”, afirma. “E ainda me dá 10 minutos de paz, sem precisar tomar uma decisão com um monte de pixel na minha cara.”

“Cruzada” no Legislativo

A investida contra o QR Code também contaminou o Legislativo paulista. Em abril, o deputado estadual Conte Lopes (PL) propôs o Projeto de Lei nº 468, na Alesp, para forçar os estabelecimentos a oferecer cardápio físico. Segundo o texto, o pedido foi motivado por “incontáveis reclamações de clientes”.

Para o autor da proposta, bares e restaurantes que só oferecem QR Code deveriam ser multados pelo Procon. “A utilização virtual não é bem-vinda pelas pessoas idosas, ou mesmo pelo cliente que não está de posse do aparelho celular”, afirma o parlamentar na justificativa do projeto.

Proposta semelhante foi apresentada pelo vereador Camilo Cristófaro (Avante), em maio, na Câmara Municipal da capital. “A introdução massiva de cardápios digitais até pode ter sido sanitariamente conveniente nos momentos de maior gravidade da pandemia, mas não necessariamente é a alternativa mais cômoda aos consumidores”, justifica ele.

Nenhuma das propostas foi levada à votação em São Paulo até o momento. Com medidas similares em discussão em outros estados, foi o Rio de Janeiro que saiu na frente na briga contra os menus digitais. Desde 1º de junho, os estabelecimentos estão proibidos de disponibilizar apenas cardápio em QR Code por lei sancionada pelo governador Cláudio Castro (PL).

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSão Paulo

Você quer ficar por dentro das notícias de São Paulo e receber notificações em tempo real?