Crueldade: Satanás do PCC aplica penas de morte em SP há uma década
Chefão da facção no interior coordena “tribunais do crime” do PCC e segue foragido; polícia já relaciona a ele ao menos dez mortes oficiais
atualizado
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São Paulo — Um cadáver encontrado pela Polícia Militar (PM) em uma ronda de rotina no interior paulista em janeiro deste ano contribuiu para a descoberta de um importante núcleo do Primeiro Comando da Capital (PCC), responsável pelos “tribunais do crime” no interior de São Paulo.
Os agentes da PM desconfiaram da presença de suspeitos em uma região de mata em Taquaritinga. Nela foi encontrado o corpo de Douglas Pereira Sobral, o Dodô, morto por uma decisão do chamado “tribunal do crime”.
Investigação da Polícia Civil, obtida pelo Metrópoles, aponta Alexsandro Cardoso Mota, o Satanás (imagem em destaque), como o líder máximo da facção em Taquaritinga, o principal destino dos “réus” intimados pelo crime organizado fora da capital paulista. Ele integra a Sintonia dos 14, composta por membros do PCC responsáveis pela coordenação e o cumprimento das regras da facção em 14 regiões específicas da capital, Grande São Paulo e interior.
Por telefone, videoconferência e, em alguns casos, pessoalmente, são os sintonias que “batem o martelo” nos tribunais paralelos, por meio dos quais a polícia atribuiu às ações de Satanás a morte de dez pessoas, até o momento, ao menos de forma oficial. Seis delas teriam ocorrido entre janeiro até o momento. O chefão, ainda de acordo com registros oficiais, impõe seu reinado de terror na região desde 2010.
Satanás teve a prisão preventiva decretada, da mesma forma que outros comparsas, e seguia foragido até a publicação desta reportagem, como consta nos registros do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
A morte de Dodô
Em 2 de janeiro deste ano, PMs da Força Tática descobriram uma área de mata, em Taquaritinga, na qual estavam alguns suspeitos, que conseguiram fugir após avistarem a viatura policial.
No dia seguinte a área foi escavada, com a ajuda de bombeiros, onde encontraram o corpo de Douglas Pereira Sobral, o Dodô, morador de Jaboticabal, o qual havia desaparecido dois dias antes. Espancado até seu crânio rachar, além de também ser asfixiado, Dodô morreu por decisão do tribunal do crime chefiado por Satanás.
O motivo, ainda segundo a investigação policial, seria o fato de Douglas supostamente ter tentado, sem sucesso, matar Gidelson de Jesus Santos, o Pé na Porta, apontado como um dos “disciplinas” do núcleo do PCC de Taquaritinga.
Os disciplinas são membros responsáveis por fazer valerem as regras de conduta impostas em áreas dominadas pela facção e, quando descumpridas, punir os “infratores”. Para isso, são realizados os tribunais do crime, nos quais são decretadas mortes, espancamentos e quebra de membros.
Para o PCC, o fato de Dodô ter supostamente tentado matar Pé na Porta deveria ser punido com a mesma moeda.
Cemitério clandestino
Além de Dodô, a polícia localizou e desenterrou mais três corpos, em um cemitério clandestino, no qual réus do tribunal de Satanás foram clandestinamente enterradas. Para isso, foi necessário o uso de uma retroescavadeira.
Testemunhas protegidas denunciaram que Satanás contribui para a morte de muitas pessoas na região, enterradas em cemitérios clandestinos. Além dele, mais oito membros do núcleo da morte são apontados como participantes diretos na matança e ocultação dos cadáveres.
Em uma das mensagens sigilosas, obtidas pela reportagem, a testemunha afirma que “todos tem medo de denunciar” por temerem por suas vidas.
“Alexsandro Cardoso Motta [Satanás] [é] o líder do PCC aqui. Ele manda matar qualquer um que ele quiser”.
Outra mensagem menciona o cemitério encontrado em janeiro, acrescentando que “existem outros” com “vários enterrados”, mas sem especificar onde, dizendo ainda que “todo dia eles matam pessoas e ninguém denuncia por medo”.
Os “réus” de Satanás e seu núcleo são julgados em uma adega de bebidas pertencente ao criminoso, usada também, segundo denúncia, para a lavagem de dinheiro da facção.
Além do julgamento de rivais, o núcleo do chefão do PCC é procurado por alguns moradores solicitando a solução de problemas, por meio de eventuais punições, via “justiça paralela”.
A defesa do suspeito não foi localizada pelo Metrópoles. O espaço segue aberto para manifestações.