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Crueldade e frieza: o que diz laudo sobre atirador do Shopping Morumbi

Mateus Meira, o atirador do shopping, matou três pessoas e feriu outras quatro no cinema enquanto passava Clube da Luta nas telonas, em 1999

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Homem de lado, sentando em cadeira de tribunal - Metrópoles
1 de 1 Homem de lado, sentando em cadeira de tribunal - Metrópoles - Foto: Reprodução/Band

São Paulo — Quase dois meses antes de Mateus da Costa Meira sair da cadeia, após 25 anos preso, a Procuradoria Geral da República (PGR) tinha negado a soltura do ex-estudante de medicina, atribuindo a ele “crueldade” e “frieza emocional”.

Natural do estado nordestino, Mateus matou três pessoas e feriu outras quatro após abrir fogo, com uma submetralhadora, no cinema do Morumbi Shopping, na capital paulista, em 1999.

O parecer assinado pela subprocuradora Eliane de Albuquerque Oliveira Recena, obtido pelo Metrópoles, endossa as decisões do Ministério Público estadual e do próprio Tribunal de Justiça da Bahia, quando negaram, anteriormente, os pedidos de liberdade feitos pela defesa do atirador.

Mencionando um exame psiquiátrico do preso, Eliane cita manifestação do TJBA, que ressaltou sobre Mateus “não [ter] condições mínimas de retomar o convívio em sociedade”.

“Destacou-se, ainda, a reincidência em delitos praticados com crueldade, a incapacidade de controlar impulsos agressivos, frieza emocional e o diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial”, diz trecho do documento.

A reincidência destacada é uma tentativa de homicídio, na qual Mateus golpeou com uma tesoura a cabeça de Francisco Vidal Lopes, com quem dividia a cela 24 da Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, em 2009. O companheiro de cárcere sobreviveu.

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Crime ocorreu em sala de cinema em shopping da capital paulista
Arma usada no massacre
Atirador cumpriu 25 anos no regime fechado
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Mateus abriu fogo em sala de cinema de shopping com uma submetralhadora

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Crime ocorreu em sala de cinema em shopping da capital paulista

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Arma usada no massacre

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Atirador cumpriu 25 anos no regime fechado

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O crime ocorreu no mesmo ano em que Mateus foi transferido da Penitenciária de Tremembé, no interior paulista, para o sistema carcerário baiano, com o argumento de ficar mais próximo de familiares.

Vivaldo do Amaral Adães, advogado do atirador, disse à reportagem, nessa sexta-feira (27/9), que não iria se manifestar, alegando que o caso está em segredo de Justiça.

Quebrou costelas do pai

O Metrópoles teve acesso às entrevistas de Mateus à equipe psiquiátrica que o avaliou no decorrer dos 25 anos de detenção, incluindo o tempo em que ele esteve no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Salvador, de onde foi solto na última semana.

Em um trecho, o ex-estudante de medicina afirmou que “alguns problemas começaram” já na adolescência. Na ocasião, ele admitiu que dava socos no braço do pai, que ficava cheio de hematomas.

Mateus contou que, mesmo considerando isso “constrangedor”, não parava. Em uma das vezes, em um golpe rápido, “quebrou três costelas do pai”.

“Na época eu não sentia nada. Hoje eu sinto um remorso muito grande das coisas que fazia, mas na época eu não tinha. Parece que eu não tinha empatia. Eu não tinha noção das coisas.”

Mateus relembrou, ainda, que a relação com os pais “era muito ruim”, ao ponto de eles saírem de casa quando ele estava de férias “porque não o aguentavam”.

Massacre de animais

Quando criança, Mateus afirmou que também matava diversos animais com espingarda de chumbinho.

“Fazia barbaridades com a espingarda de chumbinho. Eu matava passarinho, matava rato, matava até aqueles macaquinhos, aqueles micos que tinham no sítio, mas eu me arrependo muito disso. Eu fazia isso quando eu tinha uns treze ou quatorze anos.”

Isso foi um ensaio para o que aconteceria pouco mais de dez anos depois, quando Mateus estudava na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, faltando 15 dias para sua formatura.

Em 3 de novembro de 1999, ele trocou a espingarda de chumbinho por uma submetralhadora. Os alvos também foram substituídos.

“Eu já planejava [matar], depois que eu comecei a cheirar cocaína começaram a vim [sic] essas ideias, essas ideia de agressividade, tudo mais, que eu tinha que atacar algum lugar e aí eu comprei a arma e a munição.”

Mateus decidiu que iria realizar o ataque durante exibição do filme Clube da Luta, em uma sala de cinema do Morumbi Shopping. No filme dirigido por David Fincher, a personagem interpretada por Edward Norton é uma pessoa com dupla personalidade, fazendo tabelinha com Brad Pitt.

O atirador se deslocou de táxi até o local. Antes do massacre, comeu um lanche no Mcdonald’s. Já dentro a sala de cinema, aguardou uma cena do filme que faz referência ao uso de arma de fogo.

“Aí levantei, fui até o banheiro, coloquei o pente [de munição], puxei o ferrolho e… dei um tiro no espelho, para testar a arma.”

Mateus, então, retornou à sala. “Entrei e comecei a atirar. E, à medida que eu atirava, eu entrava no cinema e ia pro fundo da sala, eu ia andando e atirando”, relatou.

Por fim, o então estudante de medicina foi rendido por um homem até a chegada dos seguranças, que o contiveram até ele ser preso por policiais


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Mateus Meira, atirador do shopping Morumbi, deixa prisão após 25 anos

Atrás da grades

Em setembro de 2000, Mateus Meia foi transferido do 77º DP, Santa Cecília, na região central da capital paulista, para o Centro de Observação Criminológica do Carandiru, na zona norte. A transferência foi determinada pelo juiz Maurício Lemos Porto Alves devido ao estado psíquico do jovem. Ele ficou lá até o presídio ser desativado, em 2002. Posteriormente, foi transferido para a Penitenciária 2 de Tremembé.

Cinco anos depois, em 2004, veio o julgamento. Ele foi condenado a 120 anos e 6 meses de prisão pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). A pena, posteriormente, foi reduzida para 48 anos.

No final do julgamento, a própria defesa de Mateus afirmou que ele não era inocente, mas que deveria ser beneficiado com a semi-imputabilidade. O psiquiatra do atirador, José Cássio do Nascimento Pitta, reforçou que o ex-estudante tinha transtornos de personalidade esquizóide (desinteresse por relacionamento social).

Vítimas do atirador do shopping

Durante o ataque, Mateus matou primeiro a fotógrafa Fabiana Lobão Freitas, de 18 anos. Também morreram a publicitária Hermè Luísa Jatobá Vadasz, 46, e o economista Júlio Maurício Zeimaitlis, 28.

Os quatro sobreviventes feridos com tiros foram Carlos Eduardo Porto de Oliveira, José Eduardo Andrade da Silva, Andrea Cury Lang e Antônio José Carvalho de Amaral Martins.

Relembre caso do atirador do shopping Morumbi, solto após 25 anos

Soltura

A decisão que determinou a liberdade de Mateus do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Salvador foi publicada em 18 de setembro deste ano, como revelado pela Folha de S. Paulo.

No parecer, a Justiça citou as novas diretrizes da política antimanicomial, que defendem que a internação é providência excepcional, admissível apenas quando os recursos extra-hospitalares forem insuficientes.

No texto, destacou ainda que os peritos do hospital de custódia baiano concluíram que o ex-aluno de medicina tinha condições de retornar ao convívio social e familiar. Ele deve, para isso, prosseguir com o tratamento psiquiátrico.

A desinternação é valida por um ano, desde que Mateus mantenha bom relacionamento com outras pessoas e permaneça em casa durante a noite. Ele também não pode consumir bebida alcoólica nem frequentar bares ou ambientes com aglomeração.

O TJBA afirmou que o processo está em segredo judicial e, por isso, não iria detalhar a decisão. O Ministério Público da Bahia também foi questionado pelo Metrópoles se iria recorrer para que Mateus voltasse para a cadeia. Por meio de nota, a Promotoria disse que não iria se manifestar, usando o mesmo argumento de segredo de Justiça.

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