Criança amarrada em poste de escola se reconhece na imagem: “Papai, sou eu”
À criança que foi amarrada em poste, dono de escola teria dito que ela estava “agitada demais”; polícia investiga maus-tratos e tortura
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – O menino de seis anos cuja imagem chocou o país na semana passada se reconheceu: “Papai, sou eu na foto”. A cena do menino amarrado com o próprio casaco em um poste da escola faz parte do conjunto de provas contra os donos da escola Pequiá, no Cambuci, na zona sul de São Paulo.
Em entrevista ao Fantástico, o pai do menino contou que abriu a imagem e deu um zoom. “Eu mostrei e ele já disse: ‘É, papai, sou eu na foto'”.
Segundo o pai, a criança afirmou que Eduardo Mori Kawano, dono da escola, a prendeu alegando que ela estava “agitada demais”. “Eles estavam totalmente vulneráveis porque eles ficavam o dia inteiro na mão deles”, acrescentou o pai.
Eduardo e Andrea Carvalho Alves Moreira foram presos no dia 27/6, após se entregarem à Polícia Civil. Eles responderão por maus-tratos e tortura.
Os dois foram denunciados por uma ex-funcionária da escola infantil, que registrou imagens de maus-tratos em crianças que frequentam o espaço.
Criança amarrada
Um dos vídeos feitos pela ex-funcionária, que trabalhou no local por dois meses, mostra a dona da escola e uma funcionária advertindo crianças entre 1 e 2 anos com gritos e xingamentos. Em uma das cenas, o menino aparece amarrado com a própria blusa a uma pilastra.
Outro aluno, que fez xixi na roupa, ouve os gritos de uma funcionária na frente dos colegas. “Hoje você não fez xixi na roupa por qual motivo? Vou começar a conversar com você e gravar as suas respostas. Quando a sua mãe, seu pai ou sei lá quem vier te buscar, eu vou pegar e colocar: ‘Aqui a resposta do seu filho pra mim’”.
Em outro momento, a diretora chama a atenção de uma menina de pouco mais de 1 ano para que ela guarde os brinquedos que estão no chão. “Eram só quatro pecinhas, e já que você quer dar uma de louca, vai guardar tudo”, diz a diretora para a criança, que é vista chorando (veja um trecho abaixo).
Indignada com a situação, a ex-funcionária procurou os pais das crianças vítimas de castigos e maus-tratos e relatou o que acontecia dentro da escola. A partir daí, os familiares procuraram a delegacia.
“Brincadeira”
A advogada do casal dono da escola afirma que, segundo seus clientes, os maus-tratos e tortura atribuídos a eles – como amarrar uma criança em um poste – não passaram de “brincadeira”.
Segundo a advogada Sandra Pinheiro, Eduardo não via sua conduta com as crianças como tortura.
“Ele me disse que quando era criança, brincava de amarrar um ao outro pela ponta da blusa. Meu cliente falou que não via o tratamento dado aos alunos como uma questão de tortura, que ele não tinha essa visão”, explicou a advogada ao Metrópoles.