Crescimento de casos de malária acende alerta em São Paulo
Avanço dos casos de malária no estado ocorreu tanto entre casos importados quanto autóctones, o que preocupa especialistas em saúde pública
atualizado
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São Paulo – O número de casos de malária no estado de São Paulo cresceu 30,8% no primeiro trimestre deste ano em relação ao registrado no mesmo período do ano passado. Chama a atenção que os casos autóctones, ou seja, aqueles em que ocorre transmissão local, também subiram no intervalo, numa proporção de 25%. O cenário de transmissão em uma região não endêmica acendeu um alerta entre especialistas em saúde pública.
No total, segundo dados do Ministério da Saúde, o estado registrou 26 casos de malária nos primeiros três meses de 2022 – este ano, foram 34. Já os casos autóctones foram 4 no primeiro trimestre de 2022 e chegaram a 6 ao longo de todo o ano. Em 2023, São Paulo teve 5 ocorrências entre janeiro e março.
O aumento de casos de malária, segundo os especialistas, tem relação direta com a desaceleração da Covid-19. “As pessoas voltaram a viajar, e a malária da região extra-amazônica (caso de São Paulo) se caracteriza sobretudo por ser importada. Na região extra-amazônica, 90% dos casos da doença ocorrem em viajantes”, explica a infectologista Tânia Chaves, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O caso importado é o mais comum no estado, segundo a especialista, justamente porque São Paulo é a porta de entrada de vários viajantes. Não apenas de estrangeiros como de brasileiros que retornam de locais onde há maior risco de transmissão da malária.
Tânia destaca que malária tem tratamento e cura, mas é fundamental que os serviços de saúde e vigilância realizem a comunicação de risco aos viajantes, conduta que já integra as medidas de controle da doença. Ou seja, quem se desloca para áreas endêmicas tem de ser informado sobre os riscos e os sintomas da doença, como febre, dor de cabeça e calafrios – reconhecidos como a “tríade malárica”.
Em relação aos casos autóctones de São Paulo, a incidência costuma se concentrar nas áreas de Mata Atlântica e Serra do Mar. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, os cinco casos com transmissão local ocorridos este ano no estado foram registrados em Caraguatatuba, no litoral norte (3 casos), e Osasco (2), na região metropolitana.
“O Anopheles, mosquito vetor da malária, se prolifera em ambientes de mata silvestre, diferentemente do Aedes aegipty, que se prolifera nos centros urbanos, com elevadas temperaturas e umidade”, diz a infectologista.
Diagnóstico rápido
O aumento de casos em regiões como São Paulo preocupa na medida em que há falta de experiência e vivência médica com a doença. “Isso atrasa o diagnóstico, atrasa o tratamento e a doença pode evoluir para formas graves, como malária cerebral, insuficiência renal e morte”, afirma Tânia.
Por isso, a especialista orienta, é indispensável estar atento aos principais sintomas da doença: febre, dor de cabeça e calafrios. Diante desse quadro, o médico deve questionar primeiramente se o paciente voltou de viagem recente a uma região endêmica (aí incluídos, além da Amazônia, países da África, da Ásia e até da Oceania).
Tratamento gratuito
O diagnóstico e tratamento da malária pode ser feito gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O exame, conhecido como gota espessa, consiste em furar o dedo e levar uma amostra de sangue ao microscópio. O resultado sai em 50 minutos. A partir daí, caso o resultado seja positivo, todo o tratamento pode ser feito gratuitamente nas unidades de referência.
Em São Paulo, segundo a Secretaria de Estado de Saúde, as referências são o Hospital das Clínicas e o Hospital Emílio Ribas. O diagnóstico é realizado pelo Instituto Adolfo Lutz.
Em nota, o Ministério da Saúde esclareceu que o Plano Nacional de Eliminação da Malária tem como objetivo final a eliminação da transmissão da doença até 2035. “Neste ano, foi instituída a Coordenação de Eliminação da Malária para o fortalecimento das ações e cumprimento das metas”, informa o comunicado.