Cracolândia: Favela do Moinho virou base do PCC para monitorar polícia
PCC usa comunidade como quartel general para atividades do tráfico de drogas, armas e de monitoramento da polícia na Cracolândia
atualizado
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São Paulo – Uma investigação do grupo que investiga o crime organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), mostra que Favela do Moinho, no centro da cidade, é usada como central de monitoramento das atividades da polícia e, também, para a “manutenção da ordem” na região da Cracolândia, por meio de “Tribunais do Crime“.
Um relatório da Promotoria, obtido pelo Metrópoles, também aponta a atuação de uma milícia, composta por Guardas Civis Metropolitanos (GCMs) e policiais, civis e militares, na coação de comerciantes, para os quais vendem segurança.
Os milicianos também, de acordo com o Gaeco, negociam armas e equipamentos, como a chamada “vassourinha”, um detector de sinais de radiofrequência, usado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para monitorar a comunicação entre forças de segurança.
Na denúncia o MPSP aponta Valdecy Messias de Souza e Paulo Márcio Teixeira como os principais negociadores de rádios transmissores, ilegalmente codificados, principalmente na frequência restrita da Polícia Militar (PM). Outros órgãos da Segurança Pública estão incluídos na lista.
“[Isso] expõe e torna vulnerável a efetividade de operações policiais e de segurança. O detentor do equipamento especificamente codificado para tal finalidade passa a ter conhecimento antecipado das ações policiais e, munido de tal informação privilegiada, esquiva-se do alcance estatal, cujo objetivo central é proteger os interesses criminosos da organização”, diz trecho da denúncia, assinada por sete promotores de Justiça.
“Antenas e vigia da bananeira”
O sistema de “antenas” do PCC posiciona vigias, também chamados de olheiros, em pontos estratégicos da favela, a qual fica nas proximidades dos trilhos que cortam a região central da cidade, entre os bairros Barra Funda, Luz e Brás, estrategicamente nas cercanias da Cracolândia.
A investigação do Gaeco identificou que olheiros da favela se posicionam, ao menos, em três pontos, usando como codinome o local do qual monitoram a movimentação.
A entrada da comunidade, onde há uma bananeira em frente ao acesso, é o principal ponto no qual os criminosos usam o rádio, buscando informações das polícias.
Comandos partem do local, chamado de “da bananeira”, do qual são solicitadas informações do ponto três, posicionado sobre a laje de uma casa, com visão para a Alameda Dino Bueno, que de sua parte dá retornos ao local dois, cuja localização não foi identificada.
Além de captarem a frequência das autoridades, os olheiros também informam, por rádio, as movimentação de viaturas.
O ponto três, chamado de “do gás”, por estar perto de uma distribuidora de gás, contribui para os criminosos relatarem, em tempo real, a movimentação de viaturas da PM e GCM pela Alameda Barão de Piracicaba e Avenida Rio Branco.
Os principais suspeitos de usar a Favela do Moinho como central de monitoramento e tribunais do crime, apontados pelo Gaeco, são: Valdecy Messias de Souza, Paulo Márcio Teixeira, Ingrid de Freitas, Ivan Rodrigues Ferreira e Janaína da Conceição Cerqueira Xavier.
A defesa deles não foi localizada pelo Metrópoles. O espaço segue aberto para manifestações.
Operação contra o PCC na Cracolândia
A investigação da Promotoria resultou em uma nova operação na Cracolândia, deflagrada nesta terça-feira (6/8), com o intuito de desarticular as ações do PCC na região.
Foram expedidos pela Justiça sete mandados de prisão, dos quais cinco foram cumpridos, 117 de busca e apreensão, além de 46 de sequestro de bens.
A operação, batizada de Salus et Dignitas, foi deflagrada a partir de investigações do Gaeco.
Promotores afirmam que a Cracolândia se tornou um “ecossistema de atividades ilícitas”, controlado pelo PCC, explorado por diversos grupos criminosos organizados e caracterizado pela “violação sistemática aos direitos das pessoas em situação de vulnerabilidade”.
“O tráfico de entorpecente é apenas uma das atividades dentro do repertório criminoso dessa região, que envolve profusas atividades ilícitas, como o comércio ilegal e receptação de peças veiculares, armas e celulares; contaminação do solo com a reciclagem e ferro-velho; exploração da prostituição; captação ilegal de rádios transmissores da polícia; submissão de pessoas a trabalho análogo a escravo, entre outras graves violações a direitos humanos”, afirma o MPSP.
Os mandados foram autorizados pela 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital. A operação contou com apoio das forças de segurança do estado e da prefeitura. Participaram mais de mil policiais civis e militares, além de policiais rodoviários federais e representantes das subprefeituras.
O efetivo foi apoiado por viaturas, helicópteros, drones e cães farejadores do 5º BPChoque (Canil) e de pelo menos outros três batalhões da polícia.