CPI do MST: bolsonaristas falam em “aula de esquerdismo” após vistoria em SP
Primeira vistoria da CPI do MST, com oito deputados, ocorreu em ocupações no Pontal do Paranapanema, na região oeste do estado de São Paulo
atualizado
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São Paulo – Deputados que integram a CPI do MST fizeram a primeira vistoria externa da Comissão Parlamentar de Inquérito nesta segunda-feira (29/5), no Pontal do Paranapanema, região que compreende 32 cidades do oeste paulista.
A ação mirou ocupações da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), grupo liderado por José Rainha Junior que é dissidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), principal alvo dos partidos de direita no Congresso.
“Diversos produtores descreveram os crimes de invasão, extorsão, ameaça e coação pelos sem terra. Os delegados entregaram as provas e a visita às duas invasões comprovaram também a improdutividade desses grupos e também a conversão de estruturas produtivas em locais de doutrinação ideológica, com cartazes, frases e fotos de Lênin, Karl Marx e Lula”, disse ao Metrópoles o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), relator da CPI do MST na Câmara.
Foi a primeira atividade externa da comissão, que visitou duas ocupações provenientes do “Carnaval Vermelho”, movimento iniciado em fevereiro deste ano e que mobilizou cerca de 2,5 mil pessoas. Ao todo, nove fazendas de sete municípios foram invadidas.
Durante a visita, Salles afirmou que o grupo viu um galpão agrícola ser “transformado em local de aulas de esquerdismo”. O local (foto na galeria) apresentava uma faixa com os dizeres “construindo o socialismo” e uma bandeira com a foto de Che Guevara.
Além de Salles, outros seis deputados federais integraram a comitiva: Coronel Zucco (Republicanos-RS), que preside a comissão; Caroline de Toni (PL-SC); Magda Mofatto (PL-GO); Messias Donato (Republicanos-ES); Nilto Tatto (PT-SP) e Rodolfo Nogueira (PL-MS). O deputado estadual Lucas Bove (PL) também se juntou ao grupo.
“Pudemos constatar [na visita] o que já desconfiávamos: uma degradação ambiental terrível, condições de vida subumanas, barracões, falta de saneamento, falta d’água, falta de energia, nenhum tipo de plantação. Nada que possa cumprir a tal função social das terras. Um completo descalabro do ponto de vista social”, acrescentou Bove.
O deputado estadual disse ter integrado a comitiva a convite da CPI porque está prevista para o segundo semestre deste ano a instalação de comissão semelhante na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
MST acusa tentativa de criminalização do movimento
Procurada, a assessoria do MST afirmou, em nota, que a CPI é uma tentativa de criminalizar a luta para omitir “problemas e contradições” do agronegócio, como “desmatamento, grilagem de terra, queimadas, violência no campo, uso de mão de obra análoga à escravidão, destruição e contaminação dos bens naturais pelo uso de agrotóxicos”.
“A região do Pontal do Paranapanema escancara as contradições do agronegócio e da concentração fundiária, por isso a diligência aqui na região só poderá evidenciar a ilegalidade da posse das terras públicas, que são griladas, e o uso indiscriminado de agrotóxicos na monocultura da cana-de-açúcar, que contamina o meio ambiente e a saúde humana”, diz o texto.
José Rainha na mira da CPI
O grupo de parlamentares também se reuniu nesta segunda-feira, em Presidente Prudente, com os delegados responsáveis pela prisão de José Rainha Junior, um dos líderes da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), movimento que é dissidência do MST.
Rainha foi preso em março em um acampamento da região por suspeita de extorsão a donos de propriedades rurais. Ele foi um dos principais líderes do MST na década de 1990 e deixou o movimento em 2007.
Presente na viagem desta segunda, o deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) apresentou um requerimento para convocar Rainha para depor na CPI do MST.