Corregedora deixa cargo após sobrinho ser preso por corrupção policial
Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez é tia de Eduardo Monteiro, acusado de extorquir investigado para livrá-lo de inquérito envolvendo PCC
atualizado
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São Paulo — Alegando desgaste, a corregedora-geral da Polícia Civil, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez, pediu para ser afastada do cargo após seu sobrinho Eduardo Monteiro, chefe de investigações da instituição, ser preso por suspeita de corrupção e extorsões contra um investigado, há três dias atrás. Ele também é investigado por ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
O afastamento ainda não foi publicado no Diário Oficial. A informação de que a agora ex-número 1 da Corregedoria saiu do cargo foi confirmada pelo Metrópoles com fontes do governo.
Em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil em 31 de outubro, o corretor de imóveis Vinícius Gritzbach disse que Eduardo Monteiro e outros policiais da 3ª Divisão de Homicídios do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) teriam cobrado propina para livrá-lo da investigação sobre a morte do líder do PCC Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta.
Eduardo Monteiro e o delegado Fabio Baena teriam recebido R$ 1 milhão de um advogado para tirar Gritzbach do alvo do inquérito. Mais tarde, o corretor viria a se tornar réu pelo assassinato.
Na representação em que pediu a prisão dos policiais investigados, os promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) afirmaram que Eduardo Monteiro não temia “qualquer investigação” por parte da Corregedoria da Polícia Civil, “uma vez que sua tia seria corregedora, dando a entender que ele tem plenas condições de influenciar eventuais investigações de infrações funcionais”.
Extorquindo o PCC
O caso em que livraram suspeitos do duplo homicídio não seria isolado, de acordo com a Promotoria paulista. “Há indícios de que o investigado teria extorquido outros criminosos do PCC para que eles não fossem investigados por crimes de homicídios”, de acordo com o pedido de prisão.
As ações criminosas de Eduardo Monteiro, investigadas pelo Gaeco, ocorreram no período em que ele coordenava investigações do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), e eram compartilhadas “em conversas de natureza duvidosa” com outros policiais “já conhecidos da Justiça”.
O parentesco com a corregedora-geral não impediu, como acreditava Eduardo Monteiro, que ele fosse preso nessa terça-feira, apontado como integrante de uma organização criminosa envolvida em homicídios, lavagem de dinheiro, crimes contra a administração pública e “outros delitos de extrema gravidade” — como ressalta o juiz Paulo Fernando Deroma de Mello, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
“Quadrilha de policiais”
Para os promotores, os policiais civis integravam uma “quadrilha” que estaria envolvida com crimes de homicídio, lavagem de dinheiro, crimes contra a administração pública e “outros delitos de extrema gravidade”.
Além de Eduardo Monteiro e Fabio Baena, foram presos o chefe de investigações do Corpo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Cerco), da 5ª Delegacia Seccional, Marcelo Marques de Souza, o também investigador-chefe Eduardo Monteiro e o investigador Marcelo Roberto Ruggieri.
Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, policial civil cuja prisão também foi decretada, nessa terça, estava foragido até a publicação desta reportagem.
Morte de Gritzbach
Vinícius Gritzbach foi morto com 10 tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos em 8 de novembro, 8 dias após prestar depoimento à Corregedoria da Polícia Civil. Ele voltava de uma viagem com a namorada quando foi executado na área de desembarque do Terminal 2. Câmeras de segurança registraram o momento em que os atiradores descem de um carro preto e executam o empresário.
De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), Gritzbach foi jurado de morte pelo PCC porque teria mandado matar dois integrantes do grupo criminoso, Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, motorista de Anselmo. Na denúncia, o MPSP diz que o empresário mantinha negócios na área de bitcoins e criptomoedas.
O duplo homicídio ocorreu em 27 de dezembro de 2021 e teria sido cometido em parceria com o agente penitenciário David Moreira da Silva. Noé Alves Schaum, denunciado por ser o executor dos membros do PCC, foi assassinado em 16 de janeiro do ano passado. Além disso, Gritzbach havia fechado um acordo de delação premiada com o MPSP para delatar assuntos ligados à facção paulista.
No dia 11 de novembro, o governo anunciou a criação de uma força-tarefa para apurar o assassinato no aeroporto. O grupo conta com representantes da Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Científica. Entre eles, Osvaldo Nico Gonçalves; Ivalda Oliveira Aleixo, diretora do DHPP; e Pedro Luís de Sousa Lopes, do Setor de Inteligência da Polícia Militar.