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Conheça a empresa militar árabe que vai estruturar vigilância em SP

Edge Group, empresa de defesa que firmou parceria com governo Tarcísio, é representada no Brasil por ex-secretário da gestão Bolsonaro

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Imagem colorida mostra grupo de representantes do governo de SP e da empresa Edge Group em São Paulo - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra grupo de representantes do governo de SP e da empresa Edge Group em São Paulo - Metrópoles - Foto: Francisco Cepeda / Governo do Estado de SP

São Paulo – O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) firmou uma parceria com a Edge Group, empresa estatal de tecnologias de defesa e vigilância dos Emirados Árabes Unidos, para estruturar o programa Muralha Paulista, principal vitrine da gestão para a Segurança Pública de São Paulo.

A empresa é representada no Brasil pelo ex-secretário de Produtos de Defesa, do Ministério da Defesa, da gestão Jair Bolsonaro (PL), Marcos Degaut, um aliado dos bolsonaristas que chegou a ser indicado para o posto de embaixador do Brasil nos Emirados Árabes Unidos – a indicação não avançou no Senado.

A Edge é um conglomerado que tem 25 outras empresas sob seu guarda-chuva, segundo o portfólio que a própria companhia mantém na internet.

No Brasil, neste ano, ela adquiriu participações em duas empresas de material bélico: a estratégica Siatt, fabricante brasileira de mísseis, e a Condor, que fabrica armas não letais – uma das principais companhias do ramo no mundo –, e tem contrato com o governo paulista.

Degout entrou na empresa em maio de 2023, ano em que o grupo passou a ampliar a presença no Brasil, meses após deixar o governo Bolsonaro. Como representante do Ministério da Defesa, o agora empresário havia articulado negociações entre a empresa e sua pasta, mas não assinou contrato. A aproximação da companhia com a gestão Tarcísio teve início ainda em setembro do ano passado.

No Brasil, a empresa tem feito contato com companhias de tecnologia de São José dos Campos e, na América Latina, já participou de eventos de segurança em países vizinhos como a Colômbia, que também tem na segurança pública uma constante preocupação governamental, segundo informes da própria companhia.

Dados de celulares

O rol de atividades da Edge é amplo. A empresa diz manter relações comerciais com governos de uma série de países para atividades de defesa e garantia de soberania. Há produtos como drones de ataque de precisão, aeronaves não tripuladas de monitoramento, mísseis e tanques leves.

Há ainda um ramo do grupo voltado apenas à chamada “guerra eletrônica”, com produtos para garantir a segurança das comunicações do governo ou instituição contratada, mas também soluções para “investigar e coletar inteligência de dados de dispositivos alvejados”.

A imprensa internacional associa a Edge à empresa DarkMatter, uma companhia especializada em espionagem eletrônica de telefones celulares, formada, originalmente, por servidores de agências de Inteligência dos Estados Unidos. A Edge afirma que a DarkMatter nunca pertenceu ao seu grupo e que produz “equipamentos de surveillance”, ou seja, sistemas de monitoramento.

Ao Metrópoles, o secretário da Segurança Pública Guilherme Derrite afirmou que não há nenhuma conversa com a Edge para incluir ações de monitoramento de celulares entre as atividades que o grupo vai desenvolver com as polícias paulistas.

Segundo Derrite, a Edge vai fazer a estruturação do Muralha Paulista, um conjunto de sistemas de monitoramento eletrônico integrado que pretende dar mais informações às polícias para tentar evitar crimes.

O que diz a Edge

Em nota enviada ao Metrópoles, a Edge afirma que “assinou um acordo e um plano de trabalho com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo” no âmbito do um “memorando de entendimento” assinado entre os governos de São Paulo e dos Emirados Árabes Unidos.

Sediada em Abu Dhabi, a empresa afirma que é “um dos principais grupos de tecnologia avançada do mundo” e que a parceria firmada com a gestão Tarcísio “envolve colaboração em vários setores, incluindo projetos de segurança pública com uso intensivo de tecnologia” no estado, “sem custo para o governo de São Paulo”.

“A iniciativa respeita os mesmos ritos institucionais de reuniões e acordos que o Edge Group mantém com outros estados e governadores, em todas as regiões do Brasil. Como uma empresa dos Emirados Árabes Unidos, estamos prontos para cooperar em projetos com qualquer estado brasileiro, bem como para fazer investimentos para gerar empregos, renda e desenvolvimento tecnológico no Brasil”, diz a nota.

Em relação ao CEO da América Latina, Marcos Degaut, a empresa afirma que “não há conflito de interesses” porque “nunca foi um ‘cliente’ do Ministério da Defesa do Brasil” e “nem da secretaria que Degaut comandou”. A empresa diz ainda que a contratação de Degaut “somente ocorreu após um período bem superior à quarentena de 180 dias recomendada para servidores públicos” e que “todos os procedimentos legais e regulamentos estabelecidos pelos órgãos competentes sempre foram respeitados”.

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