Como Viúva Negra, chefona do PCC, foi presa em SP após crime brutal
Responsável por atividades criminosas da facção no Mato Grosso do Sul, Viúva Negra acabou presa por tráfico de drogas em Araçatuba
atualizado
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São Paulo — Uma das lideranças de maior destaque do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Mato Grosso Sul, conhecida como Viúva Negra, acabou presa no interior de São Paulo após fugir do estado de origem por participar de uma execução do Tribunal do Crime.
Adelice Aparecida Queiroz Honorato (foto em destaque), de 38 anos, fugiu para a capital paulista em setembro de 2019, para escapar da prisão, mas continuou comandando ações criminosas da maior facção do Brasil por meio de mensagens de WhatsApp, de acordo com investigações da Polícia Civil.
O crime que motivou a fuga da Viúva Negra para São Paulo ocorreu no dia 3 de setembro daquele ano, contra Érica Rodrigues Ribeiro, de 29 anos. Ela foi morta com 40 facadas e seu corpo, jogado às margens do rio Sucuriú, em Três Lagoas (MS).
A execução de Érica, determinada em um julgamento do Tribunal do Crime, ocorreu após a divulgação de um vídeo em que ela aparece abusando de uma criança. Segundo a polícia, a pena sumária foi determinada pela Viúva Negra, “sintonia” do PCC na região.
A brutalidade do crime foi tamanha que a Viúva Negra decidiu deixar o estado temporariamente. Quando o corpo de Érica foi encontrado, a “sintonia” do PCC já estava em Araçatuba, interior paulista.
Mesmo longe, ela continuou exercendo liderança sobre os membros da facção no Mato Grosso Sul. Nas conversas por aplicativo de mensagens interceptadas pela polícia, a Viúva Negra discute questões relacionadas ao tráfico de drogas local, principal atividade econômica do PCC, além de dar orientações sobre questões administrativas e manutenção de postos estratégicos na organização.
“Ela indicou um membro da mesma organização criminosa para exercer a função de disciplina. Também ficou claro que Adelice tem o poder de indicar e tirar um membro de uma função dentro da organização criminosa”, diz trecho de relatório policial paulista obtido pelo Metrópoles.
Os disciplinas são responsáveis por garantir o cumprimento das regras da organização, podendo aplicar punições caso sejam descumpridas. Para isso, porém, é necessário um julgamento cuja sentença é dada por criminosos do alto escalão da facção.
Como já mostrado pelo Metrópoles, o posto foi instituído no início dos anos 2000 por Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo do PCC. À época, ele criou o setor de “disciplinas” e os “tribunais do crime”, também chamados de “tabuleiros”.
Em um trecho de uma conversa de Viúva Negra com outra criminosa, identificada somente como Madrinha Bruxinha, ambas discorrem sobre uma lista de nomes e telefones de membros da facção, especificando as funções desempenhadas e a área de atuação de cada um — como em tabuleiros na penitenciária feminina estadual do Mato Grosso do Sul e da Sintonia Geral da Rua do Estado, que controla as atividades de membros da organização fora das grades.
A prisão em São Paulo
As investigações da polícia sul-mato-grossense, decorrentes do assassinato de Érica, possibilitaram que a Polícia Civil paulista chegasse a um endereço em Araçatuba para o cumprimento do mandado de prisão.
As diligências aconteceram na tarde de 8 de novembro de 2019, dois meses após a morte de Érica. Policiais do Grupo de Operações Especiais avistaram Viúva Negra caminhando por uma rua no bairro Porto Real 2 e a abordaram.
Num primeiro momento, a suspeita se identificou com o nome da cunhada, mas acabou caindo em contradição ao atender a seu nome verdadeiro. Por fim, a “sintonia” do PCC confessou sua identidade.
Ela foi conduzida até a casa de parentes, onde estava foragida. No local, foram encontradas porções de cocaína escondidas dentro de interruptores de luz, totalizando 60 microtubos da droga.
Viúva Negra foi presa em cumprimento ao mandado do Mato Grosso do Sul e aumentou sua ficha criminal pelo flagrante de tráfico de drogas, crime pelo qual foi condenada, em 26 de fevereiro de 2021.
Ela segue presa no sistema carcerário paulista, no interior de São Paulo, onde cumpre pena de 5 anos e 10 meses. O irmão dela também foi condenado pelo mesmo crime, pelo fato de a droga estar na casa dele.
A defesa de ambos não foi localizada pelo Metrópoles. O espaço segue aberto para manifestações.