Como o cacique da Câmara de SP se aliou aos “garotos do MBL”
Milton Leite, presidente da Câmara de SP, estendeu a mão e tornou aliados membros do MBL que tinham discurso contra política tradicional
atualizado
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São Paulo – Embora o Movimento Brasil Livre (MBL) pregue o liberalismo econômico por meio de um discurso antissistema, os dois vereadores que foram eleitos em nome do grupo em São Paulo estão hoje alinhados ao parlamentar que melhor personifica a política tradicional da cidade – o vereador Milton Leite (União), presidente da Câmara Municipal.
Fernando Holiday (Republicanos) e Rubinho Nunes (União) deixaram o MBL no ano passado, após decidirem que apoiariam Jair Bolsonaro. O movimento optou pela defesa do voto nulo.
Hoje, os dois vereadores fazem parte do primeiro pelotão de aliados de Leite, parlamentar que está em seu oitavo mandato e único parlamentar da história a ocupar a presidência da Câmara por três vezes.
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A aproximação de Milton Leite com Rubinho, eleito em 2020, ficou mais evidente a partir do ano passado e, no momento, o advogado é o grande protegido do presidente da Câmara.
Protagonismo para Rubinho
Tido por aliados e adversários como bem articulado e de raciocínio rápido, Rubinho recebeu de Leite os cargos de maior protagonismo do Legislativo no ano: a presidência da Comissão de Política Urbana e da Corregedoria.
É na primeira comissão que tramitam a revisão do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento, projetos que trazem ganhos de bilhões de reais ao setor da construção. E a Corregedoria deve, no segundo semestre, aprovar a inédita cassação de um vereador por causa de racismo (Camilo Cristófaro, do Avante).
Além disso, Leite vem permitindo que Rubinho articule candidatar-se à Presidência da Câmara no ano que vem, embora ele tenha um candidato prévio, o vereador Ricardo Teixeira (União).
Leite vem dizendo que não tentará a reeleição em 2024 e que deve deixar a política. Aliados do presidente dizem que a opção por favorecer Rubinho se deu diante da avaliação de que o ex-MBL saberia, no futuro, reconhecer e retribuir a ajuda.
“Tenho uma ótima relação com o presidente Milton Leite, assim como com os demais vereadores. Política é a arte de conciliar respeitando as diferenças, é exatamente isso que tenho feito”, disse Rubinho ao Metrópoles.
Fora do MBL, ele afirmou ainda que “não há como trazer grandes entregas negando a política, nosso papel é modificá-la por dentro”.
Perdão a Holiday
Já a relação entre Leite e Fernando Holiday é mais complexa.
O vereador do Republicanos, ex-MBL, está em seu segundo mandato e foi eleito pela primeira vez, em 2016, pelo DEM, partido que se fundiu ao PSL para formar o União, do qual Leite já era o cacique local.
Em plenário, Leite sempre externou um tom paternal quando se dirigia ao correligionário (que Holiday já atribuiu, nos bastidores, segundo aliados, a uma identificação que Leite sente por ambos serem negros, de origem pobre e terem começado cedo na política).
Porém, Holiday se opôs ao partido em 2020 e, em um discurso no plenário da Câmara, rasgou a ficha de filiação do DEM – o que deixou Leite chateado a ponto de eles ficarem oito meses sem conversar.
Depois de uma série de entrevistas em que Holiday se dizia arrependido do gesto, o MBL acabou costurando com Leite um cargo para o vereador na Mesa Diretora da casa, o que ocorreu no ano passado, e os dois voltaram a se falar. Até que foi a vez de Holiday também romper com o MBL.
Nas discussões do Plano Diretor, há duas semanas, quando o Republicanos, atual partido de Holiday, pediu para adiar a votação do texto, o que obrigou o grupo de Leite a fazer as contas sobre quanto votos teria, o presidente da Câmara mandou que Holiday fosse colocado na coluna dos vereadores fiéis.
Discurso versus prática
Holiday ainda mantém diálogo com o MBL e chegou a receber um convite para retornar ao grupo no começo do ano. O arranjo não foi para a frente por causa da opção de Holiday de apoiar Bolsonaro – enquanto o movimento prefere se concentrar apenas na oposição a Lula.
Já Rubinho não fala sobre o antigo grupo. Quando perguntado sobre o MBL, diz que o movimento ficou “no passado”.
Outros membros do MBL que chegam ao Legislativo também optaram pela composição com a máquina, ao contrário do enfrentamento estridente visto nas redes sociais. O deputado estadual Guto Zacarias (União), por exemplo, é um dos vice-líderes de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).