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Como escritórios na Faria Lima blindam dinheiro de fraude e até do PCC

Contas “gráficas”, “bolsão” e máquinas de cartão de crédito são os produtos do mercado da lavagem de dinheiro oferecido por fintechs

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EMPRESAS DA FARIA LIMA OFERECEM PRODUTOS PARA ESCONDER DINHEIRO E FRAUDADORES E ATÉ CRIMINOSOS DO PCC - METRÓPOLES
1 de 1 EMPRESAS DA FARIA LIMA OFERECEM PRODUTOS PARA ESCONDER DINHEIRO E FRAUDADORES E ATÉ CRIMINOSOS DO PCC - METRÓPOLES - Foto: Arte/Metrópoles

São Paulo — Contas “gráficas”, “bolsão”, maquininhas de pagamentos e cartões de crédito são os mecanismos oferecidos por escritórios na Faria Lima, coração do mercado financeiro, usados por empresários que fogem de bloqueios do Banco Central para sanar dívidas e até mesmo o crime organizado, como companhias cujos diretores e sócios são investigados por elos com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Como mostrou o Metrópoles, esses meios de lavagem de dinheiro têm aparecido cada vez mais em investigações de grande repercussão. Três dessas diligências nos últimos meses, que apuraram de tráfico de drogas a casas de apostas, apontaram cifra de R$ 17,7 bilhões em lavagem de dinheiro.

A reportagem identificou empresas que vendem abertamente produtos na praça com a promessa de blindar os verdadeiros donos de dinheiro que fica sob sua custódia. Dessa forma, quando há uma ordem de bloqueio judicial, por exemplo, o Banco Central não encontra os ativos do alvo. Os donos desse dinheiro também se blindam de alertas de bancos ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

As contas gráficas

A modalidade mais usada desse mercado é a conta gráfica. Esse é o nome popular entre fraudadores que querem escapar de bloqueios e bandidos que pretendem driblar o Coaf. Para isso, eles procuram uma fintech, empresa de venda de produtos financeiros que não raro se apresenta como um banco, mesmo sem ter autorização do Banco Central.

A empresa vende esses produtos como “contas blindadas”, ou “contas protegidas”. O cliente paga uma taxa especial para que a fintech abra uma conta em um banco autorizado pelo Banco Central. Essa conta fica em nome da fintech, e não de seu cliente. Como o cliente não é sócio da fintech, quando um bloqueio recair sobre ele, não vai encontrar nada, porque é feito somente sobre seu CPF e empresas ligadas a ele.

De galho em galho

Uma conta gráfica só é descoberta pela Justiça quando alguém denuncia sua existência em um processo. Seja um funcionário insatisfeito da empresa que tenha conhecimento dela, ou mesmo um credor mais diligente que identificou a empresa usando essa conta gráfica na praça. Do contrário, o saldo é sempre zerado.

Sob condição de reserva, empresários e advogados da área de recuperação judicial e falências relataram ao Metrópoles que fintechs têm desenvolvido uma conta gráfica mais vantajosa, que resolve até esse problema para fraudadores. Nessa conta “prime”, se a Justiça oficiar a fintech, ela imediatamente remete o dinheiro desse cliente a uma terceira conta e apresenta informações falsas sobre seu saldo.

Contas bolsão

A conta bolsão se assemelha à conta gráfica porque não está em nome do cliente da fintech. A diferença é que a empresa põe nela o dinheiro de diversos clientes, o que torna mais difícil identificar quem são os donos do dinheiro. Somente a empresa sabe desse dado, que fica em suas planilhas de controle.

Essa prática foi identificada pela Polícia Federal na Operação Concierge, que levou à prisão de 14 pessoas ligadas a fintechs por esquemas de fraudes e lavagem de dinheiro de R$ 7,5 bilhões.

A conta bolsão foi usada, por exemplo, por uma empresa de ônibus cuja diretoria tem elos com o PCC. Recursos dessa empresa circularam em uma conta em nome da fintech que ela contratou, o que fez parecer que o dinheiro era da fintech, e não da empresa. Essa fintech vende até hoje a “blindagem de patrimônio” aos seus clientes.

Máquinas de pagamento

Outro meio de fraude identificado em investigações tem sido a máquina de pagamento para cartões de crédito, débito e Pix. Também serve a fraudadores e a criminosos. Na Operação Concierge, a Polícia Federal descobriu que empresas de fachada adquiriam máquinas de pagamento de fintechs para fazer transações.

Com uso da empresa de fachada, tanto um criminoso pode justificar movimentações bancárias dentro do sistema financeiro quanto um empresário pode remeter dinheiro para longe de suas contas bancárias e de suas companhias caso esteja na mira de bloqueios do Banco Central para executar dívidas.

Esse meio é eficiente especialmente para empresários endividados que não querem receber dinheiro em suas próprias contas bancárias. Com a máquina de cartão em nome de uma empresa de terceiros, ele pode receber o saldo em uma empresa que não tenha passivo judicial.

Os gift cards no exterior

Uma testemunha mostrou a policiais federais como é fácil enviar R$ 50 mil para os Estados Unidos sem que esse dinheiro fique em seu nome. Empresas de gift cards, os cartões de presentes que podem ser encontrados em estantes de farmácias e supermercados, oferecem o serviço de receber a remessa no Brasil e adquiri-la nos Estados Unidos, por exemplo.

Dessa forma, no mínimo, ainda em território nacional, o dinheiro fica nas mãos de uma fintech, e não de seu real dono.

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