Como chegam os candidatos à Prefeitura de SP no ano da eleição
Disputa à Prefeitura de São Paulo se inicia em 2024 com seis pré-candidatos na corrida eleitoral e nenhuma definição de vice
atualizado
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São Paulo – Seis nomes entram em 2024 já se colocando publicamente como pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. Com a segurança pública norteando as campanhas, as disputas por aliados, vices e até por espaço dentro dos partidos já tiveram início e devem ser definidas até agosto, quando se encerram as inscrições das chapas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP).
Um dos cabos de guerra travados entre os pré-candidatos mira o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): de um lado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) conta com a predisposição do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, para apoiá-lo. Do outro, o deputado Ricardo Salles (PL-SP) já teve a pré-candidatura publicamente encorajada pelo próprio Bolsonaro.
Paralelamente, bolsonaristas como o secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), e o senador Marcos Pontes (PL-SP), também têm sido cotados como possíveis opções à Prefeitura que agradariam tanto o ex-presidente, quanto Valdemar e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Embora apresente boa relação com Nunes, a quem já declarou mais de uma vez que pretende apoiar, Tarcísio afirmou publicamente que não baterá de frente com Bolsonaro, seu padrinho político, caso o ex-presidente não queira embarcar na reeleição do prefeito paulistano.
O governador já disse a aliados que não vê chances de vitória para bolsonaristas de perfis mais exaltados, caso de Salles, e que a prioridade é costurar uma aliança de centro-direita que evite um possível êxito do deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP), líder das pesquisas de intenção de votos até o momento.
O último levantamento do instituto Paraná Pesquisas, divulgado em dezembro, apontou uma redução na distância entre Boulos, com 31,1%, e Nunes, com 25,4%. Os dois aparecem tecnicamente empatados dentro da margem de erro, que é de 3,1% para mais ou para menos.
Guilherme Boulos
O deputado federal já conta com o apoio de quatro partidos (PT, PV, PCdoB e Rede) e contará, também, com o PDT, que fará o anúncio em evento marcado para segunda-feira (8/1).
Em dezembro, Boulos teve, pela primeira vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu palanque na capital paulista e indicou que deve nacionalizar o embate contra Ricardo Nunes, que busca o apoio de Bolsonaro.
O psolista já anunciou 50 pessoas que participarão da elaboração de seu plano de governo como uma nova formação de “frente ampla”, reeditando a disputa entre Lula e Bolsonaro em 2022. Entre os nomes que trabalharão na campanha de Boulos estão ex-integrantes das gestões de Bruno Covas, Fernando Haddad (PT), Gilberto Kassab (PSD) e Marta Suplicy, na Prefeitura, e de Geraldo Alckmin (PSB) e Rodrigo Garcia (PSDB), no governo estadual.
Agora, Boulos busca atrair Marta Suplicy para ser sua vice na chapa. Atual secretária de Relações Internacionais da gestão Nunes, ela já conversou sobre o assunto com Lula, ao telefone, mas ainda não se manifestou publicamente sobre o assunto.
A vice da chapa será um nome indicado pelo PT, que tem preferência pela candidatura de uma mulher. Além de Marta, outro nome cotado internamente é o de Ana Estela Haddad, secretária de Saúde Digital do Ministério da Saúde e mulher do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Ricardo Nunes
Com mais de R$ 34 bilhões no caixa da Prefeitura e o controle da máquina pública, Nunes tem realizado diversas obras de asfaltamento e instituiu, nas últimas semanas de dezembro, a gratuidade nas passagens de ônibus na capital aos domingos.
Além disso, na contramão do reajuste do governo Tarcísio das tarifas do Metrô e da CPTM, que passaram de R$ 4,40 para R$ 5 a partir desta segunda-feira (1º/1), Nunes anunciou que as passagens de ônibus não terão o preço alterado – ou seja, permanecerão no valor de R$ 4,40.
A medida provocou desgaste com Tarcísio, seu aliado político. Uma semana após anunciar o reajuste, o governador titubeou pela primeira vez ao falar no apoio a Nunes em 2024 e disse que não integrará nenhuma campanha sem o aval de Bolsonaro, que reluta em subir no palanque do prefeito.
Publicamente, PL, Republicanos e PP indicaram que apoiarão a reeleição de Nunes mesmo que alguns nomes fortes dos partidos, como Bolsonaro, no caso do PL, e Tarcísio, pelo Republicanos, deem sinais contrários.
No entanto, o próprio PP encomendou uma pesquisa de opinião para testar a candidatura de Derrite, secretário da Segurança Pública de Tarcísio, e avalia lançar uma candidatura mais à direita, e menos ao centro, para a disputa contra Boulos.
Nunes também se preocupa com a possibilidade de perder o apoio de Marta Suplicy, sondada pela campanha de Boulos. Além de ser sua secretária, ela é considerada sua mentora na política.
Até o momento, o prefeito conta com o apoio formal do PSD de Gilberto Kassab, anunciado na última semana de dezembro. Ele também aguarda uma formalização por parte do União Brasil, cujo cacique municipal, o vereador Milton Leite, é um de seus maiores aliados.
Ainda sem ter anunciado quem será o seu vice, Nunes tem se interessado pelo delegado Osvaldo Nico, secretário-executivo estadual de Segurança Pública. O nome teria sido sugerido pelo próprio Tarcísio. Valdemar, por outro lado, tem condicionado o apoio de Bolsonaro à indicação do vice na chapa.
Tabata Amaral
Com 8,9% de intenção de votos no levantamento do Paraná Pesquisas, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), mesmo vista como uma candidata competitiva por outras campanhas, tem sido cobrada internamente para realizar mais agendas na capital, principalmente com a intensificação de eventos com as participações de Boulos e Nunes na cidade.
Sem o apoio da maioria dos partidos de esquerda e centro-esquerda, a campanha de Tabata avalia lançar uma chapa puro-sangue em 2024 com o apresentador José Luiz Datena como vice. Datena se filiou ao PSB em dezembro e, mesmo após ter desistido de quatro eleições, tem dito a aliados que, desta vez, manterá a candidatura.
O nome do apresentador é visto como um bom aceno da campanha à área de segurança pública, tida como assunto principal das eleições municipais deste ano, e traz maior visibilidade à chapa, já que Tabata ainda é desconhecida por grande parte do eleitorado paulistano.
Com o receio de não contar com recursos suficientes para investir em sua campanha, a deputada tem se reunido com empresários para arregimentar apoio. Entre novembro e dezembro, Tabata conseguiu R$ 1,3 milhão em doações para o PSB.
Ricardo Salles
Na cola de Tabata no último levantamento do Paraná Pesquisas, com 8,3% da preferência do eleitorado, Salles busca deixar o PL antes da janela partidária, entre março e abril, para viabilizar sua candidatura.
Embora já tenha conversas avançadas com o PRD, partido oriundo da fusão entre o PTB e o Patriota, o deputado precisa da liberação de Valdemar Costa Neto para sair do PL sem perder o mandato. Bolsonaro tem intermediado as conversas e, inclusive, ainda apela para que Valdemar deixe Salles concorrer pelo pelo próprio partido, opção vista como pouco provável por aliados do presidente da sigla.
Salles também busca reeditar a polarização política das eleições presidenciais de 2022, se colocando como o maior antagonista de Boulos na disputa e com mais fibra do que Nunes para enfrentá-lo nos debates e em um eventual segundo turno.
Depois de sondar a economista Marina Helena, do Novo, para ser sua vice, Salles agora busca fechar sua chapa com o deputado Delegado Palumbo (MDB-SP). A escolha de um nome da segurança pública para o vice segue a mesma lógica utilizada por Nunes e Tabata, a de contar com um nome forte na área considerada a mais importante pelas campanhas.
Correligionário de Nunes, Palumbo também teria que deixar o partido para concorrer como vice de Salles.
Kim Kataguiri
Mesmo contando com o apoio de dirigentes nacionais do União Brasil, como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) não tem a candidatura à Prefeitura endossada pelo diretório paulistano.
A vontade de concorrer, inclusive, faz parte de um projeto político do Movimento Brasil Livre (MBL), do qual Kataguiri é integrante, e sem relação com as intenções do braço paulistano do partido, comandado pelo aliado do prefeito Ricardo Nunes, o vereador e presidente da Câmara Municipal, Milton Leite.
Leite tem o controle de alguns dos principais setores da Prefeitura, como Transportes, e vê no apoio de caciques nacionais a Kataguiri uma tentativa de enfraquecer o domínio do presidente da Câmara Municipal sobre o União na cidade.
Inicialmente, Leite havia liberado Kataguiri para testar a pré-candidatura, anunciada em julho deste ano, e deixou que o deputado estadual Rafael Saraiva (União) atuasse como articulador político da campanha dentro do partido.
A articulação interna durou pouco e, menos de dois meses depois, Leite pediu que Saraiva desembarcasse da ideia. Um dos fatores foi a pouca atenção do eleitorado à candidatura de Kataguiri, que recebeu 5,4% de intenção de votos no último levantamento do Paraná Pesquisas.
O deputado federal não descarta concorrer por outro partido, mas já disse a aliados que não tem nenhuma legenda de relevância para a qual possa se filiar a tempo de viabilizar a candidatura. Um dos objetivos políticos do MBL, inclusive, é o de lançar a própria legenda.
Marina Helena
Sondada por Salles, a economista Marina Helena (Novo) teria recusado ser vice na chapa do deputado para lançar a própria candidatura à Prefeitura. Ela fez sua estreia em pesquisas de opinião no último levantamento do Paraná Pesquisas, com 3,1% das intenções de votos.
Ex-diretora de Desestatização do Ministério da Economia durante a gestão de Paulo Guedes, Marina integra a direção nacional do Novo e seria a vice na chapa que concorreu nas eleições municipais de 2020, mas acabou desistindo diante das polêmicas envolvendo inconsistências na declaração de bens e no currículo do então candidato Filipe Sabará – que foi expulso do partido após o episódio.
Com pretensões políticas, Marina disse a aliados que vê maior projeção enquanto candidata a um cargo no Executivo e que precisa da campanha para ganhar maior visibilidade. Em 2022, ela concorreu ao cargo de deputada federal e recebeu 50 mil votos, terminando como primeira suplente.
Tradicionalmente, o Novo costuma montar chapas puro-sangue. Até o momento, o partido não divulgou quem será o vice de Marina.