Como Boulos tenta contornar o flerte petista com Nunes para 2024
Deputado federal Guilherme Boulos, pré-candidato à Prefeitura de SP, investe em nomes-chave do PT para garantir acordo feito com Lula
atualizado
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São Paulo — O deputado federal Guilherme Boulos (PSol), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo em 2024, passou a procurar nomes-chave no PT paulista para contornar o flerte que parte do partido vem tendo com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputará a reeleição no ano que vem, e garantir o apoio integral da legenda na eleição municipal.
Boulos tem articulado conversas reservadas com lideranças petistas no estado e realizado agendas conjuntas com deputados estaduais, federais e vereadores paulistanos do PT para criar um núcleo de aliados no diretório municipal da legenda. O racha interno do PT na capital ficou evidente na votação do novo Plano Diretor da cidade, no fim de junho, e parte do partido vem sinalizando que não trabalhará pela eleição do deputado do PSol no pleito de 2024.
Um dos nomes de quem Boulos mais tem se aproximado nas últimas semana é o do deputado federal Kiko Celeguim, presidente do diretório estadual do PT — ambos têm uma atuação parlamentar afinada em Brasília.
“O PT é um partido que tem uma base social muito intensa e você precisa construir relação com todo mundo. Pelo que tenho acompanhado, ele (Boulos), no último período, procurou conversar com todas as lideranças que têm inserção na capital”, diz Celeguim.
Segundo aliados de Boulos, o deputado entendeu que a ordem direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o partido o apoie na disputa em São Paulo não será suficiente para garantir o empenho dos petistas na sua campanha a prefeito. Será preciso que ele próprio costure alianças com os principais dirigentes da sigla.
Desta forma, o deputado abriu canais de diálogo com deputados estaduais que tiveram mandato na Câmara Municipal da capital, como Antonio Donato, Simão Pedro, Reis e, em especial, Eduardo Suplicy, o mais votado pelo PT em 2022. Ainda em maio, Boulos fez uma reunião com a bancada estadual petista para selar a aliança.
“Tenho encontrado o Guilherme Boulos com frequência e temos harmonia em muitas pautas”, disse Suplicy, um dos principais cabos eleitorais do deputado dentro e fora do partido.
O PT não abrirá mão de indicar o vice na chapa de Boulos. Um dos nomes mais cotados é o da também deputada federal Juliana Cardoso, ex-vereadora da capital. Outro nome é o do próprio Suplicy.
O deputado estadual, porém, declina da indicação e afirma que prefere ver uma mulher, negra ou indígena, no posto.
Diretório dividido
O flerte que parte do PT tem com Nunes é liderado, especialmente, pelo clã Tatto, grupo petista que tem dois vereadores na Câmara Municipal, dois deputados federais, um estadual e que controla parte do diretório municipal.
O grupo tem controle em especial das zonais do PT da região sul da cidade. Os bairros da Subprefeitura de Capela do Socorro são apelidados de “Tattolândia” por causa da força do clã na área.
Os vereadores Arselino e Jair Tatto têm boa interlocução com o prefeito Ricardo Nunes e, com o também vereador Senival Moura, lideraram um movimento do partido em apoiar proposta do prefeito de revisão do Plano Diretor, criticado por uma série de urbanistas. Cinco dos oito vereadores da bancada votaram com os Tatto.
Os três vereadores que votaram contra o projeto da Prefeitura, Luna Zarattini, Hélio Rodrigues e João Ananias, são favoráveis ao apoio do PT a Boulos. A aproximação do deputado com esse grupo vem ocorrendo de forma “orgânica”, segundo um petista, por meio de agendas organizadas por movimentos sociais em que membros tanto do PSol quanto do PT são convidados, aos fins de semana.
Um dos nomes mais importantes neste xadrez é o vereador Manoel Del Rio, parlamentar que deu apoio a Nunes e tem base eleitoral parecida com a de Boulos.
Enquanto o deputado federal do PSol é coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o vereador petista é advogado da Frente de Luta por Moradia (FLM), movimento também de sem-teto que atua especialmente na ocupação de prédios abandonados do centro da cidade.
Nunes tem priorizado o atendimento de demandas da FLM com programas de retrofit de edifícios ocupados pelo grupo. Del Rio e a FLM apoiaram a aprovação do Plano Diretor enviado pelo prefeito à Câmara.
Acordo selado na eleição passada
Boulos é pré-candidato à Prefeitura em 2024 antes mesmo de ter sido eleito, pela primeira vez, deputado federal, em 2022. Na pré-campanha do ano passado, ele fez um acordo com Lula para abrir mão de uma possível candidatura ao governo do Estado para apoiar Fernando Haddad, que perdeu a disputa e virou ministro da Fazenda.
Em troca, Boulos teria o apoio do PT logo no primeiro turno nas eleições municipais do ano que vem. Em 2020, o deputado do PSol foi para o segundo turno nas eleições municipais, desbancando o petista Jilmar Tatto, mas perdeu para o tucano Bruno Covas, morto em 2021.