Como agem os receptadores de celulares roubados no centro de SP
Metrópoles esteve em endereço para onde celulares roubados no centro de SP são levados por bandidos que negociam aparelhos no meio da rua
atualizado
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São Paulo – Na esquina das ruas Guaianases e Aurora, no centro de São Paulo, não há nenhuma loja que vende celular, mas o comércio de aparelhos é frenético. Todos os produtos negociados ali, segundo investigações da Polícia Civil, são fruto de roubos e furtos.
O Metrópoles esteve no endereço na última terça-feira (4/3) e constatou que um grupo de homens africanos circula entre as fachadas de dois prédios, em ambas as vias, comprando em dinheiro vivo celulares trazidos por criminosos.
Parte da mercadoria roubada é levada até o local por ladrões da chamada Gangue da Bicicleta, que aproveitam a distração de pessoas que circulam pelo centro da cidade com os celulares nas mãos, arrancam os aparelhos das vítimas e fogem pedalando.
Investigadores do 3º DP (Campos Elíseos) prenderam nove suspeitos de integrar a gangue, no dia 1º de abril, além de apreender oito bicicletas sem origem comprovada.
Os suspeitos foram levados à delegacia por apresentarem “respostas contraditórias” no momento em que foram abordados
Entre eles estava Breno Paulo de Araújo, de 38 anos, fugitivo do sistema penitenciário, onde cumpria pena por roubo a caixa eletrônico, desde maio de 2018.
Ele foi abordado por policiais do 3º DP em frente ao número 67 da Rua Guaianases. O endereço é apontado por vítimas de roubos e furtos de celular como um provável ponto de receptação de aparelhos, como foi mostrado pelo Metrópoles. A descoberta foi feita graças ao sistema de localização dos celulares.
Prédio suspeito
O prédio situado no número 67 da Guaianases é residencial e tem aproximadamente 200 apartamentos, segundo apurado pela reportagem.
“Desenvolvemos ações de inteligência para identificar os membros da quadrilha e também solicitando ações judiciais para auxiliar na solução do caso”, afirmou ao Metrópoles o delegado Alexandre Henrique Dias, titular do 3º DP.
O policial acrescentou que a quadrilha de estrangeiros paga, em média, R$ 100 por aparelho roubado ou furtado.
Os equipamentos com maior valor agregado, geralmente Iphones, são enviados para países da África, onde não há fiscalização sobre o origem dos aparelhos.
O Metrópoles apurou que os africanos circulam entre as ruas Guaianases e Aurora com uma mala na qual levam dinheiro vivo para pagar pelos celulares roubados.
Usuários de drogas
Outro tipo de fornecedor da quadrilha são os usuários de drogas. Eles passaram a circular pela região após o fluxo fixo da Cracolândia, na Praça Princesa Isabel, ser dispersado pela polícia, em maio do ano passado.
A abordagem feita pelos dependentes químicos difere da gangue da bike. Ela é mais violenta, segundo comerciantes ouvidos pelo Metrópoles, sob condição de anonimato.
Um deles, que está há cerca de cinco anos no centro, afirmou que a insegurança aumentou desde a dispersão do fluxo, que passou a peregrinar por diferentes ruas da região.
“Se os nóias [dependentes] avistarem o celular da pessoa, já era. Vão pra cima, três, quatro, cinco, e tiram da mão de pessoa”, relatou.
Ele disse ainda que Iphones são os modelos mais cobiçados pelos dependentes químicos por renderem mais dinheiro.
“Quando a pessoa tem Iphone, vi casos dos ladrões seguirem a pessoa até dentro de comércios, mercados, restaurantes, para roubar o celular.”
Fluxo itinerante
Um vigia de 77 anos, que cuida da segurança de lojas de moto na Alameda Barão de Limeira, afirmou que, quando chega para o trabalho, por volta das 10h, o fluxo da Cracolândia já está instalado na Rua dos Gusmões.
Centenas de dependentes químicos circulam pela via. Alguns se desgarram do bando para coletar materiais recicláveis, pedir esmolas e, em alguns casos, cometer crimes. Tudo isso para conseguir pedras de crack.
O Metrópoles apurou que o fluxo permanece na Rua dos Gusmões entre 8h e 15h, quando passa a se diluir entre as ruas Guaianases, Vitória, Aurora e Conselheiro Nébias.
A chegada dos dependentes gera insegurança nos pedestres e prejudica os negócios.
Em uma lanchonete na Rua Aurora, o gerente afirmou ter perdido 50% de sua clientela, em decorrência da chegada do fluxo.
Aumento de roubos
Só no primeiro bimestre deste ano, o 3º DP registrou 1.526 roubos em geral, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Isso representa um crime por hora.
No mesmo período do ano passado, foram registrados 1.256 casos, uma alta de 21,5%. Comparando com os 684 roubos do primeiro bimestre de 2019, ano pré-pandemia, a alta foi de 123%.
Os furtos também aumentaram 72%, quando comparados os 1.409 casos do primeiro bimestre de 2022 e os 2.429 de 2023.
A secretaria afirmou que, durante o período, foram presos 49 suspeitos de roubar, furtar ou receptar celulares no centro de São Paulo. Também foram recuperados 203 aparelhos.
A polícia também prendeu 72 suspeitos de traficar drogas, ou praticar crimes patrimoniais na região, ainda de acordo com a SSP. A ação resultou na recuperação de outros 84 celulares roubados ou furtados.
A Polícia Militar também reforçou o policiamento na região, com o objetivo de inibir as ações criminosas.