Como agem os “ninjas do PCC”, que levam droga, arma e celular à prisão
Investigação, a pedido do Ministério Público, revela ação dos “ninjas do PCC” em presídio de SP; Justiça condenou 15 envolvidos em janeiro
atualizado
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São Paulo – A ação é toda orquestrada por presos do Primeiro Comando da Capital (PCC). Sempre em horário combinado, o “ninja externo” salta o muro do presídio, deixa uma bolsa e pula de volta o mais rapidamente possível. Lá dentro, os “ninjas internos” recolhem o material e correm para escondê-lo no pavilhão.
Usada por autoridades policiais, a expressão “ninjas do PCC” faz referência à forma que o grupo se reinventou para continuar levando, ilegalmente, drogas, celulares e até armas para dentro da cadeia. Os itens são consumidos e comercializados pelos presos.
Outra maneira de traficar o material para dentro da prisão é dividir a droga em pedaços, acomodá-las em bexigas e arremessá-las por cima do muro, segundo aponta investigação. Na linguagem do crime, a prática é chamada de “injetação” ou “injetamento”.
No dia 26 de janeiro, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) condenou 15 pessoas por envolvimento no esquema do PCC. A sentença é resultado da Operação Ninjas, deflagrada em maio de 2021, em ação conjunta que envolveu as polícias Civil e Militar, Ministério Público (MPSP) e Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo (SAP).
Ação planejada
A Operação Ninja mirou o tráfico de drogas dentro do Centro de Progressão Penitenciária Dr. Edgard Magalhães Noronha, o Pemano, localizado em Tremembé, no interior de São Paulo. A investigação começou a pedido do MPSP.
Os 16 pavilhões do Pemano são dominados pela maior facção paulista, de acordo com o inquérito obtido pelo Metrópoles. Segundo a diligência, a atuação dos “ninjas do PCC” foi a alternativa que o grupo encontrou para manter o tráfico vivo na unidade após um agente penitenciário, acusado de facilitar a entrada de droga via Sedex, ser preso em fevereiro de 2021.
Responsável por pular o muro ou arremessar a droga, o “ninja externo” é contratado para realizar o serviço. O valor pago varia entre R$ 1,5 mil e R$ 4,5 mil por “injetação”, dependendo da quantidade de material que vai ser transportado para o presídio.
Já o “ninja interno”, que deve recolher e repassar a droga para que outros presos façam a distribuição no pavilhão, recebe R$ 500.
A operação é planejada com antecedência, com dia e horário combinados por ligação telefônica ou chamadas de vídeo efetuadas de dentro do presídio.
Na ação dos “ninjas”, as drogas são organizadas em bexigas de diferentes cores. Maconha vai no balão azul. Cocaína, no branco. Skank, no preto.
Líder foi condenado a 62 anos
A ação judicial considerou episódios registrados entre janeiro e maio de 2021. No Pemano, o detento Wesley César da Silva Branquini, o “Malboro” ou “Oito Letras”, liderança do PCC, é apontado como o chefe do tráfico.
Condenado a 62 anos e 6 meses de prisão pelo esquema, ele alegou em juízo ser faxineiro do pavilhão 2 e negou a prática do crime ou vínculo com a facção.
A condenação tem como base, no entanto, relato de testemunhas protegidas e informações colhidas por interceptação telefônica. Em uma delas, transcrita no processo, o preso foi flagrado na seguinte conversa:
“Malboro avisa que a hora que for montar a bolsa que pretende mandar alguém acompanhar. (…) Que lá em princípio só terá os telefones e que as drogas chegarão depois. Que a caminhada terá de ser feita no sábado ou domingo, e que não poderá ser no plantão do ‘Seu Ernesto’, que ele é bico sujo, que poderá ser na sexta ou domingo”.
Entre os condenados, também estão duas mulheres, apontadas como responsáveis financeiras do PCC. Com elas, os investigadores encontraram cadernos com contabilidade do tráfico, balança e bexigas para embalar drogas. Elas também negam participação.
Durante a investigação, foram apreendidos mais de 70 quilos de droga e 130 celulares. Os envolvidos acabaram condenados por crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e introdução de celulares em presídio, com penas a partir de 10 anos de prisão.
O que diz a SAP
Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária afirmou que “não há tráfico de drogas no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Tremembé” e que a Operação Ninjas teve como objetivo “desarticular uma organização criminosa que arremessava materiais ilícitos para dentro” do presídio.
“As investigações tiveram início ainda em fevereiro daquele ano (2021), logo após a prisão de um agente penitenciário flagrado tentando facilitar a entrada de droga na unidade prisional”, afirma a SAP.
Segundo a pasta, “o agente foi condenado por tráfico de drogas e os demais presos envolvidos foram regredidos ao regime fechado e transferidos para outras unidades”. A SAP informou ainda que reforçou a segurança do CPP, com pessoas, cães e dispositivos eletrônicos na unidade.