Com perdão, apelo e promessas, candidatos batalham por voto feminino
Candidatos mudam discurso e estratégias para conquistar voto feminino. Mulheres representam 54% do eleitorado na capital paulista
atualizado
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São Paulo – Maioria na população paulistana, as mulheres representam 54% do eleitorado que vai decidir, no dia 6 de outubro, quem será o próximo prefeito ou prefeita de São Paulo. Conquistar o voto feminino é, portanto, crucial para os candidatos à Prefeitura, que têm se movimentado nos últimos dias para garantir o apoio das moradoras da cidade. As estratégias variam de acordo com o perfil do candidato e vão de promessas a pedidos de desculpas.
Terceiro colocado na última pesquisa Datafolha, citado por 19% dos eleitores, Pablo Marçal (PRTB) é um dos que tentam agora conquistar o voto das paulistanas. A rejeição do influencer entre as mulheres é a maior entre todos os candidatos: 53% disseram ao Datafolha que não votariam em Marçal no primeiro turno.
Nessa sexta-feira (20/9), o ex-coach publicou um vídeo em suas redes sociais pedindo dicas para seus apoiadores sobre como “ganhar o voto das mulheres”, em uma tentativa clara de contornar o cenário atual.
“Qual o conselho que você me dá para que as mulheres, com a sensibilidade delas, consigam enxergar o meu coração e enxergar a minha alma para falar: ‘ele é meu prefeito’?”, afirma Marçal na gravação.
Nos comentários, seguidores aconselharam o candidato a ter uma postura menos agressiva nos debates e sugeriram que ele publicasse mais conteúdos ao lado da esposa e de sua vice, Antônia de Jesus. A estratégia de dosar as ofensas nos debates já parece estar na pauta do dia de Marçal.
Nesta sexta-feira, o influencer moderou o tom de suas falas no debate promovido pelo SBT e associou outros adversários, como Ricardo Nunes (MDB) e José Luiz Datena (PSDB), à violência contra as mulheres. Marçal chegou a dizer que era “um símbolo de agressão de alguém que não consegue debater ideia e vai pra cima”, mostrando a mão enfaixada após a cadeirada que levou de Datena, e se comparando às mulheres vítimas de violência.
O influencer também tem tentado transparecer uma mudança de postura em relação à adversária Tabata Amaral (PSB), pedindo “perdão” a ela e fazendo elogios à pessebista. Em mais de uma ocasião, Marçal fez ataques de gênero contra Tabata, dizendo que ela não daria conta de cuidar da cidade porque “não sabe qual o problema de um casamento” e que só consegue se estudar sobre a cidade porque “não tem marido” ou filhos.
O embates com Tabata e a falta de propostas específicas para mulheres são algumas das razões apontadas pela cientista política Juliana Frattini para a rejeição do público feminino a Marçal.
“Faltam signos que remetam ao compromisso com o eleitorado feminino, que demonstrem respeito”, afirma Juliana. Para ela, a postura de Marçal até aqui contraria o que as mulheres têm buscado nos últimos anos. “A maior participação da mulher na política e na sociedade está na ordem do dia da discussão política e social”, diz a especialista.
Fé nas mulheres
Na outra ponta da discussão, Tabata também tem apostado nas mulheres para chegar ao segundo turno. Em quarto lugar na última pesquisa Datafolha, com 8% das intenções de voto, a deputada federal mirou sua campanha nas mulheres depois que sua equipe notou, em pesquisas internas e externas, que Tabata era melhor recebida pelo eleitorado feminino do que entre os homens.
A estratégia adotada, então, foi pedir às mulheres que ajudassem a alavancar a candidatura dela. O discurso tem sido adotado em debates, agendas de rua e também nas redes, onde Tabata publicou um vídeo pedindo que as mulheres coloquem “juízo” na cabeça de amigos e familiares homens.
“Eu sei que você já tá sobrecarregada, mas eu preciso te pedir mais uma coisa: a gente precisa que você bote algum juízo na cabeça do seu marido, do seu irmão, do seu pai”, afirma a deputada federal na gravação.
A candidata tem dito que as mulheres são as mais atingidas pelos problemas na cidade e que elas poderão “salvar a eleição”, evitando a vitória de seus adversários. Para Frattini, no entanto, a tentativa pode “não surtir o efeito esperado”. Na avaliação da cientista política, as mulheres ainda têm pouca influência sobre o eleitorado masculino.
Ela cita, por exemplo, o movimento “Ele Não”, que apesar de ter reunido milhares de eleitoras contra a eleição de Jair Bolsonaro (então no PSL), não evitou a eleição do ex-presidente. “A tradição é tão arraigada neste processo de tirar as mulheres da política institucional que não é tão simples virar voto em um pleito só”, diz ela.
Promessas e defesa
Nunes e Datena, que tiveram episódios de denúncias de mulheres contra eles retomados na eleição, têm tentado driblar o tema direcionando propostas para o eleitorado feminino.
O tucano tem dito que vai buscar parcerias com o governo estadual para levar Delegacias de Defesa à Mulher (DDMs) para todas as subprefeituras. Datena também afirma que vai ampliar as patrulhas do programa “Guardiã Maria da Penha”, da Guarda Civil Municipal (GCM), que atende vítimas de violência.
Já o atual prefeito tem utilizado a marca das filas zeradas nas creches para dizer que sua gestão trabalha pelas mães. Na propaganda eleitoral na TV, Nunes também traz inserções sobre o programa Mãe Paulistana, que auxilia as gestantes na cidade. A estratégia pode estar surtindo efeito, já que o candidato lidera as intenções de voto de mulheres no Datafolha, com 30%.
Colado nele aparece Boulos, citado por 29% das eleitoras. O psolista, que tem focado sua campanha em propostas para a saúde, também direcionou seu discurso neste último debate para o eleitorado feminino.
“Eu tô preocupado com os próximos 4 anos e particularmente com você, mulher, mãe, que tá na fila da saúde. Nunca foi tão difícil conseguir um exame na cidade de São Paulo e a fila da ginecologia da saúde da mulher foi uma das que mais cresceu”, disse Boulos no debate. Na sequência, o candidato fez promessas para reduzir as filas de exames ginecológicos.
Compromisso
Para Frattini, no entanto, além das promessas, os candidatos precisam mostrar quem têm compromisso com a pauta das mulheres também se eleitos. Ela cita, por exemplo, a questão da paridade de gênero na composição do governo. Hoje, a Prefeitura tem mais homens que mulheres no secretariado.