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Com escolta armada, quadrilhas roubam cargas na “meca” dos tecidos

Bandidos abordam vítimas quando elas param veículos em semáforos e, com escolta armada, roubam cargas de tecido da região do Brás

atualizado

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Reprodução/Câmera de Monitoramento
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1 de 1 BAIXA_carga-vale-este_3 - Foto: Reprodução/Câmera de Monitoramento

São Paulo – Um furgão transportava uma carga de roupas avaliada em mais de R$ 100 mil quando precisou parar em um semáforo fechado na Rua Mendes Júnior, na região do Brás, centro da capital paulista. Era por volta das 14h30 da última quarta-feira (8/3), quando o motorista e seu ajudante foram abordados por dois criminosos.

Com uma arma em punho, um dos ladrões anunciou o assalto, enquanto o outro embarcou pelo lado do passageiro. Ele usava fones de ouvido conectados a um celular com o qual mantinha contato com ocupantes de um Toyota Etios branco, que fazia a escolta da dupla e foi usado na fuga junto com outro veículo, um HB20 preto.

A ação foi testemunhada por policiais civis do 12º DP (Pari), que investigam quadrilhas especializadas em roubar cargas no Brás e adjacências, região famosa pelo comércio de tecidos e roupas.

Nos últimos meses, essa região registrou uma escalada desse tipo de crime. Foram dez roubos só em janeiro, contra quatro no mesmo mês em 2022. Em todo ano passado, a delegacia computou 202 roubos de carga, alta de 40% em relação a 2019, ano que precedeu a pandemia da Covid-19, e aumento de 119% em relação a 2021, com 92 casos.

Caminhão ocupado por bandido e vítimas circula na zona norte de São Paulo

O roubo continua

Assim que os investigadores avistaram a abordagem criminosa no furgão, começaram a acompanhar os veículos. O HB20 acelerou e os policiais passaram a persegui-lo.

Enquanto isso o furgão acessou a Marginal Tietê, sempre acompanhado pelo Toyota, dentro do qual criminosos orientavam o comparsa no veículo das vítimas, por telefone, sobre o caminho a ser percorrido até chegarem a um ponto onde a carga roubada seria descarregada. Os retrovisores estavam dobrados, para que as vítimas não enxergassem os carros usados pelos bandidos.

A reportagem apurou que as cargas roubadas são levadas pelas quadrilhas até as regiões da Vila Guilherme, na zona norte, ou ainda até as divisas entre as favelas Chaparral e Pau Queimado, ambas na zona leste. Nos locais os itens são transferidos para veículos dos criminosos.

Toda ação dura em média uma hora, segundo  as investigações. As vítimas são liberadas em seguida, juntamente com seus veículos.

Prisões

No momento em que o HB20 acessou a Rua Ferreira de Oliveira, a cerca de dois quilômetros de distância de onde o furgão foi abordado, Eduardo Araújo Pereira, de 31 anos, pulou do carro em movimento, pela porta traseira.

Ele foi preso logo em seguida e o HB20 encontrado, abandonado, alguns quarteirões adiante. Dois ocupantes do carro conseguiram fugir, segundo registros policiais.

Enquanto isso, uma viatura da Polícia Militar avistou o furgão sendo seguido pelo Toyota Etios, que também fugiu quando percebeu a aproximação do carro policial.

Assim que abordaram o furgão, os PMs prenderam Leandro Santos Silva, de 29 anos. Ele ainda estava com os fones nos ouvidos, usados para manter contato com os suspeitos que fugiram, segundo a polícia.

A carga de roupas foi recuperada, as vítimas, libertadas, e a dupla foi presa e encaminhada ao 12º DP. Na delegacia, ambos se negaram a prestar depoimento, afirmando falar somente na presença de um juíz.

O advogado Abraão Israel Martins da Silva, defensor da dupla, afirmou ao Metrópoles que “é prematuro” associá-la aos crimes investigados pelo 12º DP. Ele alega não existirem provas que os vinculem a outros crimes.

“Há apenas indícios de participação deles no crime em que foram presos, sendo que será provada a inocência deles no julgamento”, acrescentou.

Invasão de quartel

Uma das vítimas das quadrilhas que atuam na região do Brás invadiu um quartel da PM, no último dia 28, na zona norte paulistana, quando tentava fugir da abordagem dos criminosos. Um dos suspeitos foi preso em flagrante.

Parte da ocorrência foi registrada em vídeo (veja abaixo).

 

Quadrilhas investigadas

O delegado titular do 12º DP, Marco Aurélio Floridi Batista, afirmou ao Metrópoles que a região do Brás virou alvo preferencial dos roubos de cargas por causa da proximidade com a Marginal Tietê, via usada como rota de fuga até os locais onde as cargas são transferidas para furgões e até caminhões da quadrilha.

“Eles geralmente já sabem qual é a carga que vão roubar, por causa de informação privilegiada, ou por observarem caminhões sendo carregados. Eles monitoram o alvo e o seguem, até um ponto específico para a abordagem”, diz o delegado.

A reportagem esteve na região, na manhã de sexta-feira (10/3), e constatou a presença de dezenas de veículos carregando ou descarregando mercadorias.

Um comerciante de 57 anos, que vive há 30 anos no Brás e pediu para não ser identificado, afirmou já ter sido vítima das quadrilhas e disse que todos os fretes realizados na região já têm embutidos nos preços os seguros contra roubos.

“Só no ano passado, levaram sete cargas minhas, depois que saíram da loja. Não tive prejuízo por causa do seguro.”

O delegado Marco Aurélio comanda as investigações na região há cerca de seis meses. Ele afirmou já ter identificado mais de uma quadrilha atuante e trabalha para verificar a relação entre os grupos criminosos, que agem sempre da mesma forma.

“Nossa prioridade atual é o combate ao roubo de carga na região. Estamos conseguindo já enxergar de uma forma mais clara a situação, pois conseguimos desmantelar algumas quadrilhas e prender suspeitos. Nosso objetivo é desmantelar todas as quadrilhas”, disse o titular do 12º DP. Segundo ele, até o momento, já foram identificados autores de nove roubos de carga.

A Polícia Militar afirmou, em nota, que desde o início do ano atendeu apenas “um chamado” referente a roubo de carga na região do Brás. A corporação acrescentou que realizaa diariamente “diversas ações” para coibir “práticas delituosas.”

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