Com crises em série e Bolsonaro delatado, Tarcísio dribla a imprensa
Governador Tarcísio de Freitas evita entrevistas coletivas para veículos nacionais há quase um mês e escapa de falar sobre temas espinhosos
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem evitado se expor a entrevistas coletivas há quase um mês, período em que sua gestão passou por ao menos duas crises e no qual a situação política de seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), se deteriorou. Dessa forma, Tarcísio vem conseguindo evitar ser questionado sobre esses temas.
A última vez que Tarcísio atendeu jornalistas da capital, onde estão os veículos de imprensa que fazem a cobertura nacional, foi no dia 29 de agosto, no centro da cidade — após o Metrópoles questionar o governo nessa segunda-feira (25/9), Tarcísio falou à noite com alguns jornaistas em um jantar da Associação das Emissoras de Rádio e Televisão de São Paulo (Aesp), evento que não constava em sua agenda oficial.
No dia 31 de agosto, dois dias após a última coletiva, veio à tona que o material didático que seu governo havia elaborado para alunos do 8º ano do ensino fundamental tinha erros graves, como dizer que a capital tinha praia e que a Lei Áurea havia sido assinada por Dom Pedro II. Depois que o caso ganhou repercussão nacional, Tarcísio nunca mais se expôs a perguntas na capital paulista.
Bolsonaro delatado
Tarcísio é o principal aliado de Bolsonaro em São Paulo e apontado como herdeiro politico do ex-presidente, que está inelegível. Ao evitar repórteres, o governador vem conseguindo driblar perguntas sobre suas posições acerca, por exemplo, da delação premiada feita pelo tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de seu padrinho.
À Polícia Federal (PF), Mauro Cid teria dado detalhes de crimes supostamente cometidos por Bolsonaro que vão do desvio de joias dadas de presente por governos estrangeiros à Presidência da República à conspiração para dar um golpe de estado após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro de 2022. Cid está solto desde o dia 9 de setembro.
Tarcísio não se viu compelido a falar sobre o tema nem após hospedar Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes. O ex-presidente passou a semana retrasada internado na capital paulista e ficou do dia 15 ao dia 18, após ter alta, como convidado de Tarcísio na sede do governo estadual.
Tarcísio, que apoia a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também se blindou de ter de se manifestar sobre a possível ruptura entre o emedebista e Bolsonaro. Bolsonaristas estão irritados com o que consideram “falta de reciprocidade” na relação com o prefeito e passaram a considerar uma candidatura própria à Prefeitura da capital, como antecipou o Metrópoles em 5 de setembro.
Crise na Segurança
No âmbito de seu governo, ao evitar coletivas, Tarcísio também escapou de ter de responder sobre temas como o recrudescimento da violência na Baixada Santista, onde a ação policial está sob investigação após denúncias de abusos e torturas.
A Polícia Militar (PM) passou 40 dias no litoral após o assassinato de um soldado das Rodas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), em uma operação que matou 28 pessoas. Quatro dias após o fim da ação, durante o feriado prolongado de 7 de Setembro, PMs retornaram à região após nova execução de um policial.
Em meio a todos esses acontecimentos, segundo nota da Secretaria de Comunicação enviada ao Metrópoles, Tarcísio só se submeteu ao escrutínio dos jornalistas em 14 de setembro, quando foi a Presidente Prudente, a 556 km da capital, e concedeu entrevista coletiva à imprensa local, depois de anunciar obras na região.
Do dia 30 de agosto até o momento, com exceção da entrevista em Presidente Prudente e da fala surpresa na noite dessa segunda-feira, Tarcísio optou por fazer apenas pronunciamentos sobre projetos de governo, sem responder a perguntas que não tivessem relação com o tema abordado por ele. Foi assim no evento oficial dessa segunda-feira, quando Tarcísio apresentou um programa voltado ao empreendedorismo.
São nas entrevistas coletivas que governantes são submetidos ao escrutínio da imprensa: além de indagar sobre o assunto para o qual a coletiva foi convocada, os jornalistas aproveitam o momento para perguntar a respeito de outros acontecimentos relevantes.
O que diz o governo
O Palácio dos Bandeirantes foi questionado sobre os dribles do governador na imprensa e enviou uma nota:
“O diálogo com veículos e o atendimento à imprensa fazem parte da rotina do governador Tarcísio de Freitas e dos secretários, como pode ser verificado nas entrevistas disponibilizadas diariamente em veículos de comunicação de todo o estado e nos canais de comunicação do governo de São Paulo. Além disso, informações à população e imprensa são disponibilizadas continuamente por materiais divulgados pelo governo do Estado.”