Com aumento de 32% dos casos, SP registra 1 feminicídio a cada 2 dias
Com aumento de 32% dos casos, SP registra 1 feminicídio a cada 2 dias, apontam dados da SSP; governo diz que prisões subiram
atualizado
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São Paulo – Angélica foi esfaqueada na frente da própria filha. O assassinato de Tatiane, a golpes de marreta, também aconteceu na presença das crianças. Já Ellida, morta a tiros, teve o corpo escondido em um carrinho de compras e atirado à beira de um córrego.
Em comum, essas três vítimas de feminicídio foram mortas no Estado de São Paulo, que vive um aumento recente de mais de 30% no número de casos envolvendo esse tipo de crime.
Ao todo, 167 mulheres foram vítimas de feminicídio em São Paulo entre janeiro e novembro de 2022, segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Isso equivale a uma morte a cada dois dias. Na comparação com o mesmo período de 2021, a alta é de 32,5%.
O balanço consolidado de 2022 só deve ser divulgado pela SSP no fim deste mês. Ainda assim, mesmo sem os dados de dezembro, o índice já supera o acumulado em todo o ano de 2021, quando 136 feminicídios foram notificados em São Paulo.
Crimes
Um dos casos é o da professora Ellida Tuane Ferreira da Silva Santos, de 26 anos, baleada pelo marido dentro do apartamento na Vila Matilde, na zona leste da capital, segundo a polícia. Apontado como autor, o marido Luis Paulo Lima dos Santos ainda teria transportado o corpo da mulher em um carrinho e o despejado próximo a um córrego. Ele foi preso em novembro.
Já Angélica Gomes da Silva, de 31 anos, foi morta a facadas na frente da filha, de apenas 2 anos, em Sapopemba, na zona leste de São Paulo. O seu ex-marido, José Carlos Lima Silva, de 40 anos, se entregou à polícia. A audiência de instrução do processo está marcada para março deste ano, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Nesta semana, o suspeito de feminicídio Antônio Carlos Lopes Ferreira, de 48 anos, foi espancado até a morte em Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele era investigado pelo assassinato da companheira Tatiane de Lima dos Santos, de 28 anos, a marretadas, na frente dos dois filhos do casal.
Especialista
Para a desembargadora Ivana David, do TJSP, o aumento recente no registro de feminicídios em São Paulo está relacionado a dois fatores: a maior procura de mulheres por socorro, o que permite ter mais clareza sobre o cenário, mas também a falhas do Estado em prevenir o assassinato antes que ele seja consumado de fato.
“O feminicídio é o tipo do crime que dá sinais. É o que chamamos de progressão criminosa. Em um dia, o agressor menospreza a mulher, no outro ele fala que a roupa dela é cafona. Depois dá um empurrão, soco, até que mata”, diz a desembargadora. “Ao menor sinal de violência doméstica, a mulher deve procurar uma delegacia e buscar medida de urgência no Sistema de Justiça.”
Prisões
Questionada, a SSP não informou por quais razões os feminicídios estão subindo em São Paulo. Em nota, a pasta afirma que o número de prisões relacionadas a esse tipo de crime subiu 27,8% no período, com 69 flagrantes realizados.
“Cabe ressaltar que São Paulo segue com a maior estrutura do país para combater a violência contra as mulheres. Atualmente, o estado conta com 140 Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs), sendo 11 em funcionamento ininterrupto, além da DDM Online, que permite o registro destes crimes pela internet”, diz a SSP.
A pasta afirma ainda que o aplicativo SOS Mulher, criado em 2019 para atender vítimas com medidas protetivas concedidas pela Justiça, conta atualmente com 33 mil usuárias cadastradas. “Houve 4,5 mil acionamentos via APP e 277 pessoas foram conduzidas para distritos policiais, sendo 131 presas”.