Com 4 anos, filho de traficante rival do PCC posa para fotos com fuzil
Garoto é filho do braço direito do chefe do “Bando do Magrelo”, que disputa a venda de drogas com o PCC no interior de SP
atualizado
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São Paulo – Um criminoso apontado como o número 2 de uma quadrilha que disputa pontos de venda de drogas com o Primeiro Comando da Capital (PCC), no interior paulista, obrigou o filho de 4 anos de idade a posar em fotos ostentando armamento pesado.
Imagens anexadas a uma denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), obtidas pelo Metrópoles, mostram o garoto segurando um fuzil, enquanto carrega uma pistola na cintura. Em outra foto, ele está ao lado da arma longa, que é do mesmo tamanho da criança.
O menino é filho de Willian Ribeiro de Lima Diez, conhecido como Feio, de 28 anos. Ele é apontado como o braço direito de Anderson Ricardo, o Magrelo, líder da quadrilha que foi preso nessa terça-feira (23/5) pelo setor de inteligência da Polícia Militar, em Borborema, a cerca de 380 quilômetros de distância da capital paulista.
A quadrilha comandada por ambos chamou a atenção do MPSP tamanho o derramamento de sangue provocado na regiãode Rio Claro e foi denunciada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Líder do Bando do Magrelo, Anderson Ricardo se considera “o novo Marcola“, segundo autoridades ouvidas pelo Metrópoles, referindo-se a Marco Willians Herbas Camacho, principal liderança do PCC.
As fotos encontradas em celulares apreendidos com os criminosos, da criança segurando armas de fogo, infringem o artigo 242 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que diz ser crime fornecer ou entregar arma, munição e explosivo,”de qualquer forma”, a criança ou adolescente. A pena prevista varia de seis meses a dois anos de prisão.
Além disso, o fato de as armas não serem registradas enquadra Feio também no artigo 16 do Estatuto de Desarmamento, com pena de reclusão de 3 a 6 anos. A isso tudo, ainda deve ser somado o agravante de ele ser o pai da criança que aparece nas fotos, o que pode aumentar ainda mais sua pena.
Assassinato e treinamento
Agora, depois da ação dessa terça-feira, Feio e Magrelo estão presos, acusados pelo assassinato do empresário Juliano Gimenes Medina, de 40 anos, em junho de 2022. Ele foi morto com mais de 20 tiros em São Pedro, cidade que fica a cerca de 50 quilômetros de distância de Rio Claro, no interior paulista.
Medina foi investigado pela Polícia Federal como suspeito de envolvimento em uma organização internacional de drogas. O crime atribuído à dupla teria tido o apoio de mais quatro suspeitos e sido concretizado mediante emboscada, promessa de pagamento e com arma de uso restrito.
A denúncia à qual o Metrópoles teve acesso destaca que Feio não só contribuía para a logística de distribuição de armamento para a quadrilha de Magrelo como também fez treinamento tático, com fuzil e pistola, registrado em vídeos obtidos pela Promotoria.
A reportagem teve acesso a duas fotos feitas a partir das filmagens (veja abaixo), nas quais o criminoso faz progressão com disparos, “treinamento este certamente útil para a execução de desafetos”, segundo o MPSP.
Em 29 de janeiro deste ano, Feio foi preso por porte ilegal de arma de fogo, mas conseguiu ser solto após pagar fiança. Logo em seguida, ele foi detido novamente, de forma preventiva, pela morte de Juliano Medina.
“[Willian] aparece até mesmo nas imagens de câmeras de segurança portando um fuzil e realizando disparos contra a vítima”, diz a Promotoria.
Derramamento de sangue
Como o Metrópoles mostrou, Magrelo estaria envolvido na morte de ao menos 30 pessoas na região de Rio Claro. Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo mostram que, em 2020, foram assassinadas 21 vítimas em Rio Claro. O número quase dobrou para 40, no ano seguinte, por causa da atuação da quadrilha.
Na denúncia, o Gaeco afirma que as execuções em via pública, em plena luz do dia, com disparos de fuzil, são pontos que “colocam tristes holofotes na cidade”.
Entre os alvos do “Bando de Magrelo” estão membros do PCC, com os quais a quadrilha disputa a venda de drogas no interior paulista. Um membro da facção foi morto em 17 de outubro de 2021, após a quadrilha de Rio Claro instalar um rastreador, chamado entre os criminosos de “carrapato”, no carro do rival.
Quando Alessandro de Arruda, o Lê Boquinha, circulava pelo bairro Parque Mãe Preta, em Rio Claro, ele foi morto a tiros, com a mesma forma de abordagem e ação direcionadas às outras vítimas do “Bando do Magrelo”.
Além dos homicídios, a quadrilha é alvo de inquéritos que apuram o crime de organização criminosa com associação para o tráfico de drogas, além de lavagem de dinheiro.