Chefe de investigações mantinha contato direto com cúpula do PCC em SP
Eduardo Monteiro foi preso sob suspeita de enriquecimento ilícito e por ajudar maior facção do Brasil a lavar dinheiro do tráfico de drogas
atualizado
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São Paulo — Quando foi preso, em fevereiro de 2022, suspeito de um duplo homicídio, o corretor de imóveis Vinícius Gritzbach foi acompanhado pelo delegado Fábio Baena e o chefe de investigações Eduardo Monteiro até o prédio do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), na região central da capital paulista.
A prisão temporária, de 30 dias, havia sido expedida contra Gritzbach pela Justiça por causa do assassinato de Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, ambos do Primeiro Comando da Capital (PCC) — a ordem de execução teria partido do corretor, segundo os policiais civis que investigavam os homicídios.
Em uma sala do DHPP, segundo depoimento prestado por Gritzbach ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), em janeiro deste ano, Eduardo Monteiro teria ligado para uma pessoa, por meio do celular, referindo-se a ela como “um dos 14”, uma menção à Sintonia dos 14 — composta por membros do PCC responsáveis pela coordenação e o cumprimento das regras da facção em 14 regiões específicas da capital, Grande São Paulo e interior.
“Essa pessoa [dos 14] falou para eu ficar tranquilo, que eu não tinha nada a ver com o ocorrido [assassinato de Cara Preta e Sem Sangue], mandando [o investigador chefe] Eduardo [Monteiro] não cometer injustiça”, diz trecho do depoimento de Gritzbach, obtido pelo Metrópoles.
De acordo com as investigações, o telefonema mostra que o investigador-chefe mantinha contato direto com a cúpula da maior facção do Brasil.
“Pode-se inferir que a organização criminosa ora investigada [PCC] possui ‘blindagem’ de agentes públicos”, diz trecho da investigação da PF.
Além disso, Eduardo Monteiro teria mostrado para Gritzbach, segundo as investigações, um vídeo com as imagens de Noé Alves Schaum, apontado como o executor do assassinato de Cara Preta e Sem Sangue, no momento em que ele era esquartejado. A cabeça dele foi deixada, com um bilhete dentro da boca, em uma praça do Tatuapé, na zona leste da capital paulista, em 16 de janeiro de 2022.
Ex policial militar
Como mostrado pelo Metrópoles, antes de ingressar na Polícia Civil, onde usou o cargo de chefe de investigações para barganhar propinas com criminosos do PCC, ainda conforme investigação da PF, Eduardo Monteiro, que está preso desde o último dia 17, compôs o efetivo do 18º Batalhão da Polícia Militar.
“Coincidência ou não, o mesmo [batalhão] dos policiais militares que faziam a escolta de [Vinícius] Gritzbach, no dia do homicídio [de Gritzbach]”, diz trecho de inquérito da Superintendência da PF em São Paulo.
Vinícius Gritzbach foi executado, com dez tiros de fuzil, quando desembarcou de um voo, em 8 de novembro, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
De 5ª classe a chefe
O Metrópoles encontrou a edição do Diário Oficial, de 12 de setembro de 2002, na qual o então soldado Eduardo Lopes Monteiro foi exonerado da PM, após ser empossado como investigador de 5ª Classe da Polícia Civil. Desde então, ele cresceu de cargo na instituição, onde chegou a chefe de investigações do DHPP.
Foi na coordenação das investigações do DHPP que a PF identificou a relação de Eduardo Monteiro com membros do PCC, incluindo os da alta cúpula da facção.
A relação do chefe de investigações com o crime organizado foi denunciada por Gritzbach em uma delação premiada ao MPSP. Em seu depoimento, ele deu detalhes, além de provas, de como Eduardo Monteiro, aliado ao delegado Fábio Baena, também do DHPP, extorquiam milhões de criminosos para livrá-los de investigações.
Sobrinho da corregedora-geral
Na representação em que pediu a prisão dos policiais investigados, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, afirmaram que Eduardo Monteiro não temia “qualquer investigação” por parte da Corregedoria da Polícia Civil, “uma vez que sua tia seria corregedora, dando a entender que ele tem [tinha] plenas condições de influenciar eventuais investigações de infrações funcionais”.
Três dias após a prisão do sobrinho, alegando desgaste, a agora ex-corregedora-geral da Polícia Civil, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez, pediu para ser afastada do cargo.
Ex-PM, investigador preso atuou em batalhão de seguranças de Gritzbach
Presos
Como resultado da delação premiada de Vinícius Gritzbach, aliada à investigação da PF, foram presos no último dia 17 Eduardo Monteiro, o delegado Fábio Baena, os investigadores Marcelo Marques de Souza, o Bombom, e Marcelo Roberto Ruggieri, o Xará, o advogado Ahmed Hassan Saleh, o Mude, além dos empresários Ademir Pereira Andrade e Robinson Granger de Moura, o Molly.
O agente de telecomunicações da Polícia Civil Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, também foi alvo de um dos mandados de prisão. Ele ficou foragido da Justiça por quase uma semana e se entregou na última segunda-feira (23/12), após sua defesa negociar a rendição dele com a Delegacia Geral.
Além deles, foram presos em setembro os policiais civis Valdenir Paulo de Almeida, o Xixo, e Valmir Pinheiro, o Bolsonaro, ambos suspeitos de receber propina ou de subornar criminosos para interromper investigações sobre ações do PCC.
Os policiais presos vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, além de ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de prisão