Chefão do PCC poderá receber visita do filho fora da cadeia. Entenda
Dezinho era braço direito de Marcola nas ruas. Até ser preso era responsável pela logística do tráfico internacional de drogas do PCC
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo — Preso desde 22 de julho do ano passado, Odair Lopes Mazzi Júnior, de 43 anos, o Dezinho, conquistou o direito de usar chamadas de vídeo com o filho, de 7 anos, para substituir visitas presenciais. Integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) há mais de 20 anos, ele era, nas ruas, um dos principais braços direitos de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o líder máximo da maior facção criminosa do Brasil.
Como relevado pelo colunista Josmar Jozino, do UOL, a diretoria da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, interior paulista, e o Ministério Público de São Paulo (MPSP), se manifestaram contra a visita virtual. A informação foi confirmada pelo Metrópoles.
Decisão do desembargador Luís Geraldo Lanfredi, obtida pela reportagem, discordou da proibição do presídio e do MPSP, concedendo ao chefão do crime organizado, desde 19 de setembro, o direito à visita virtual, em videoconferências, mensalmente, por meia hora.
Até o momento, porém, a penitenciária não providenciou o cumprimento da determinação judicial.
Problemas emocionais
No pedido para a realização das visitas virtuais, a defesa de Dezinho anexou um relatório psicológico no qual atesta-se que o filho do criminoso, de 7 anos, está acometido de “quadro de ansiedade”, resultando em “agitação excessiva, desmotivação, preocupação, comportamento imaturo e queda no rendimento escolar”.
“O laudo aponta, ainda, que a ausência do pai é determinante para agravamento do quadro”.
Reduto do PCC, a Penitenciária de Presidente Venceslau já foi palco recente de violência, como o assassinato de dois ex-chefes da facção.
Em 17 de junho deste ano, como mostrado pelo Metrópoles, Janeferson Aparecido Mariano Gomes, de 48 anos, o Nefo, e Reginaldo Oliveira de Souza, 48, o Ré, foram mortos degolados, com punhaladas.
O crime brutal ocorreu mesmo com a presença na penitenciária de segurança máxima da juíza-corregedora Renata Biagioni.
Por motivos como este, Dezinho prefere que seu filho não vá ao local, temendo o agravamento dos problemas emocionais do filho, já diagnosticados.
Quem é Dezinho
Membro da chamada Sintonia Final da Rua, Dezinho circulava entre ricaços e levava uma vida de ostentação, com direito a mansões e viagens internacionais, até ser preso em 11 de julho do ano passado, em um condomínio de luxo em Pernambuco. Ele estava foragido desde 2020.
Antes da prisão, recebia de Marcola missões a serem cumpridas fora do sistema carcerário. Na hierarquia da facção, ocupava um cargo altíssimo, conquistado por poucos no mundo do crime. Antes de ser alçado ao topo do comando, no entanto, pertenceu ao terceiro escalão do PCC.
De acordo com as investigações realizadas durante a Operação Sharks, deflagrada pelo MPSP, Dezinho ascendeu ao topo da pirâmide do crime ao coordenar o envio de R$ 1,2 bilhão do PCC para o Paraguai em 2019, por meio do esquema de “dólar cabo”, uma técnica de lavagem de dinheiro.
Na ocasião, ele atuava no setor financeiro do PCC, chamado de Sintonia Final do Progresso, o terceiro escalão do maior grupo criminoso do país.
“Casas cofres”
O esquema levantado pela Operação Sharks incluía a movimentação por meio de contas bancárias de “laranjas” e empresas fantasmas, além da distribuição de parte do valor para “casas-cofres”. A função dessas casas é armazenar o dinheiro que, mais tarde, é levado para doleiros. Um desses imóveis, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, teria sido adquirido por ordem de Dezinho.
Na época, Dezinho ainda era responsável por receber a maioria das cargas de cocaína que chegava à capital e à Baixada Santista. Em liberdade, subiu na hierarquia e foi destacado para atuar na expansão do PCC pela América Latina – motivo pelo qual ganhou a alcunha de Argentina.
Em 2021, o MPSP identificou Dezinho como um dos gerentes do PCC na Bolívia, ao lado de Valdeci Alves dos Santos, o Colorido. Segundo as investigações, ele liderou o transporte de mais de 15 toneladas de cocaína por ano.
Com a prisão de Colorido, capturado em Salgueiro, no sertão de Pernambuco, em 2022, e o desaparecimento de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, a relevância de Dezinho no tráfico internacional aumentou ainda mais.
Ele nega pertencer à facção e alega inocência nos crimes a ele atribuídos.