Chapeiro e familiares morreram juntos em soterramento no litoral de SP
Chuvas que assolaram o litoral norte de São Paulo no fim de semana deixaram ao menos 46 mortos e 49 desaparecidos
atualizado
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São Sebastião – O chapeiro Genival Thomas, de 51 anos, deixou um vazio na padaria administrada pela empresária Marina Pickler, de 67 anos, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo.
Conhecido como “Pardal”, por causa de sua pequenez física, ele é uma das dezenas de vítimas fatais, soterradas por avalanches de lama, decorrentes do maior volume de chuva registrado em 24 horas na história da cidade.
Desde domingo, dia em que São Sebastião foi devastada, durante a madrugada, o degrau de madeira, sobre o qual trabalhava, e a cesta com pães, principais itens de trabalho, aguardam pela chegada de Genival.
O comércio ficou fechado no fim de semana, para ser limpo. Tudo foi invadido pela água da enxurrada que alagou e sujou todas as vias da região de Juquehy.
“A ficha ainda não caiu. Olho para a cesta, onde ele colocava os pães, para o degrau, e não consigo ainda acreditar que ele se foi”, afirmou Marina que, além de patroa, considerava o funcionário um amigo.
Por ser baixinho, Pardal precisava subir no degrau de madeira, para trabalhar confortavelmente preparando seus sanduíches.
Foram 25 anos de convivência e confiança. Thomas, inclusive, tinha uma cópia da chave da padaria. Ele era o responsável por abrir as portas do comércio, diariamente.
“Quando acontecia de eu errar o pedido de alguém, pedindo um pão na chapa ao invés de um misto quente, ele ficava bravo, por ter que refazer o pedido. Apesar de ele ficar bravo, era muito engraçado”, relembra a patroa.
O bom humor de Pardal, até quando bravo, é a principal lembrança do amigo de chapa Adriano Silva, de 33 anos.
“Ele era um cara divertido e um grande conselheiro. Muitas das conquistas que consegui em minha vida foram graças às conversas que tive com o Pardal.”
Três dias antes da tragédia, Pardal teve uma premonição, de acordo com o amigo. “Ele, do nada, falou que ia morrer. Falei para ele largar de ser besta. Mas não é que aconteceu?”
No sábado, ele se despediu pela última vez dos amigos e foi para casa, na Vila do Sahy, onde morava com a esposa, o enteado e a neta.
Todos morreram juntos, após a casa ser arrastada pela lama.
O degrau de madeira continuará onde sempre esteve, assim como a cesta de pães, em sua homenagem.